BondeNews

Manifestantes fecham tráfego na Avenida Brasília em protesto por morte de jovens pela PM

17 fev 2025 às 18:18

Uma manifestação contra as mortes de um adolescente de 16 anos e o empresário Wender da Costa, 20, em uma ação da PM (Polícia Militar) no último sábado (15) fechou a Avenida Brasília, em um sinaleiro nos arredores da Bratac, no fim da tarde desta segunda-feira (17). Apesar das palavras de ordem direcionadas à imprensa e à polícia e de pessoas com o rosto coberto, o protesto da região foi pacífico.


Munidos de faixas contra a violência policial e pedindo justiça pela vida ceifada dos jovens, amigos, familiares e moradores programaram protestos contra a violência policial em quatro pontos de Londrina: além do sinaleiro da Bratac, também ocorreram movimentações na Avenida  Guilherme de Almeida (zona sul), em frente à pavilon; na Rodovia Carlos João Strass (zona norte), na entrada do Felicidade, e na Rua Christovam Gimenez (norte), entrada do Flores do Campo; e na BR-369, próximo próximo a entrada da Vila Marisa (zona leste).


Às 19h25, a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) informou que, devido aos protestos, algumas rotas do transporte coletivo foram afetadas, como as que servem os distritos rurais da zona sul - as principais linhas atingidas são: 100-101-103-110-111-121-203-210-215-219-260-307-310-311-312-407-423-428-445-703-706-900-904-931 -430 - 902. A companhia e as concessionárias buscavam trajetos alternativos para a passagem dos ônibus.


Pneus queimados, megafones e caixas de som


Na Avenida Brasília, os manifestantes atearam fogo em móveis e pneus para fechar as pistas principais da via e, à exceção de alguns veículos, a maioria respeitou a paralisação. No local, familiares e amigos dos dois jovens levaram megafones e caixas de som para que as suas mensagens chegassem aos policiais, que permaneceram a cerca de 100 metros de distância.


"Filma aqui, registra! Olha o certificado de lava-rápido. Ele era trabalhador, ele estudou para isso, gente. Aí falam que é bandido. Não somos mães passando a mão na cabeça dos filhos, não", diz Cirlene Vieira, mãe do adolescento morto no suposto confronto.


Uma das mais atuantes na manifestação, ela destaca que o filho trabalhava em um lava-rápido inaugurado há cerca de duas semanas por Wender, que tinha capacitação profissional no ofício e investiu as verbas rescisórias do emprego anterior para abrir o empreendimento. 


“Ele queria ter o próprio negócio. Para isso, ele pegou o dinheiro, recebeu parcelas do seguro[-desemprego] e abriu o lara rápido. Pagava R$ 600 de aluguel e R$ 1.200 para o meu filho. Ele estava tão feliz”, conta a mãe. Somente no sábado em que a execução ocorreu, o adolescente teria lavado seis veículos.


Segundo Cirlene, ele ainda estudava no Ensino Médio e, na ocasião de sábado, estavam “num carro errado na hora errada”. “Eles não sabiam que aquele carro tinha coisas erradas. Eles eram inocentes, muito brincalhões”, relembra. 


De acordo com a PM, o veículo teria sido utilizado em furtos a residências. Cirlene relata que o veículo estaria no estabelecimento para passar por lavagem e foi utilizado pelos jovens para comprar bebida. “Meu filho gosta de beber. Ele não fuma maconha, nunca roubou. Destruíram os sonhos do meu filho, porque executaram ele e o Wendel. Deram mais de 10 tiros, 15 tiros neles. Um confronto é um, dois disparos, não é tudo aquilo”, afirma a mãe do adolescente, que pede ajuda das autoridades por justiça.


Vanessa da Costa, mãe de Wender, afirma que ele chamou o filho de Cirlene para trabalhar pela dificuldade em colocação de trabalhadores na faixa etária que ele tinha. “Aí, aconteceu toda essa covardia, porque eles foram comprar um copo de bebida”, lamenta.


Ela recorda que, no momento em que chegou a informação de que seu filho poderia ter morrido, ela titubeou em verificar a veracidade, devido ao nervosismo. Porém, no IML (Instituto Médico Legal), ela conta ter visto “mais de dez perfurações de bala” no corpo do filho. “Ele só montou no carro errado,. Ele tinha curso de polidor, de lavador de carros, havia duas semanas que abriu o lava rápido. Estamos [comunidade] cansados dessas coisas. O meu filho [estava] com os braços todos quebrados, não sei se foi bala, não sei se eles quebraram. Foi horrível a cena que eu vi no IML, meu filho todo costurado, de cima e embaixo”, relata.


Vanessa afirma que o ocorrido acabou com a vida da família. “Eles acabaram com a nossa vida. Eu nunca imaginei estar passando por isso. Já perdi gente querida, sim, mas, essa covardia que eles fizeram foi demais. Eu vou até o fim, por justiça pelo meu filho e pelo Kelvin”, desabafa.


Em relação aos protestos do último domingo, que acabaram em um atentado a um ônibus na BR-369, os familiares garantem que não tiveram qualquer ligação com o crime. "Estávamos correndo atrás dos corpos dos nossos filhos", afirma Vanessa.


A reportagem anotou a presença de cerca de 200 pessoas. Cerca de dez viaturas da PM e da Choque estiveram presentes. A fumaça, proveniente dos diversos pontos de incêndio, dificultaram a respiração e a visão dos presentes. Até as 19h20 desta segunda, os protestos ainda continuavam. 


A PMPR, em nota divulgada às 22h20 desta segunda, diz que apurará, através de um IPM (Inquérito Policial Militar), as circunstâncias do fato, "reafirmando seu compromisso com a legalidade e os protocolos da atividade policial".  


(Atualizado às 22h32)



Entenda o caso


Os jovens foram mortos, de acordo com as informações da PM, dentro de um veículo que teria sido usado para furtos em residências porque teriam apresentado resistência à abordagem, armados. Entretanto, em vídeos que circulam nas redes sociais, moradores criticaram a PM porque o adolescente seria trabalhador teria passado o dia todo lavando carros em um estabelecimento do bairro – vídeos dele no trabalho também foram divulgados em redes sociais. 


Leia mais sobre o suposto confronto abaixo.


*Colaborou Luís Fernando Wiltemburg


Continue lendo