As professoras das creches filantrópicas de Londrina entraram em greve nesta terça-feira (13) para cobrar o reajuste salarial da categoria. A principal crítica é em relação a diferença entre os salários das professoras das CEIs (Centro de Educação Infantil) filantrópicas para as que atuam nas CMEIs (Centros Municipais de Educação Infantil), que chega a ser de 80%.
A greve é encabeçada pelo Sinpro (Sindicato dos Profissionais das Escolas Particulares de Londrina e Norte do Paraná), que representa as cerca de 1, 4 mil professoras dos 63 CEIs. Diretor do Sinpro, Moacir Szekut explica que a informação inicial é de que pelos menos 40 creches filantrópicas estejam completamente fechadas. Com faixas, cartazes e dizeres exigindo uma recomposição salarial, o ato principal aconteceu em frente ao CEI Kátia Maria Garcia Montazzolli Killner, no Jardim Santa Cruz, na zona norte de Londrina.
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Ele explica que a data-base dos professores das CEIs é em janeiro e, até o momento, o prefeito de Londrina, Tiago Amaral (PSD), não tinha aceitado nenhuma reunião com o sindicato para negociar o reajuste de 4,74%, respectivo à inflação do período. Além disso, a cobrança também é pela redução da diferença salarial das professoras das creches filantrópicas, que recebem R$ 2.291,10, para as geridas pelo município, com remuneração de R$ 4.800.
O valor, segundo ele, engloba o mesmo serviço, as mesmas exigências, as mesmas responsabilidades e a mesma programação pedagógica. "Nós queremos assinar com o prefeito um escalonamento de reajuste real até 2028, que é até onde vai o mandato dele", explica, detalhando que o pedido é por um reajuste de 15% em 2026 e em 2027 e outro de pelo menos 10% em 2028, totalizando um ganho real de 40% para as professoras. "Nós não queremos equiparar o salário de CEI com CMEI, mas nós queremos aproximar e fazer justiça porque elas merecem esse reconhecimento", ressalta.
Segundo ele, algumas professoras não resistiram à pressão e às ameaças de descontos no salário, advertências e até mesmo de demissões por parte das entidades e da direção das creches. "Elas estão trabalhando totalmente contrariadas e em comunhão com as demais que estão paralisadas", ressalta.
"Sociedade londrinense, olhe com mais carinho para as professoras das CEIs filantrópicas. Elas desempenham um trabalho lindo, principalmente com as crianças mais carentes das nossas periferias. Eu vejo a dedicação, a atenção e o cuidado nas visitas que faço", complementa Moacir Szekut.
Apoio da comunidade
Eduardo Nagao também é diretor do Sinpro e garante que o sindicato não está barrando a entrada dos pais e das crianças, sendo que os os portões das unidades estão abertos. Ele ressalta que a adesão da comunidade é grande, incluindo o apoio dos pais dos alunos. Esse é o caso da operadora de caixa Luciene Testa Couto, 38, que demonstrou seu apoio ao reajuste no salários das professoras que trabalham no CEI Kátia Maria Garcia Montazzolli Killner.
Ela conta que a filha, Eloisa, de três anos, gosta muito de estudar na creche e que sempre pede para ir para a escola. Para ela, a luta das professoras é justa. "Eu apoio e acho justa porque a carga horária e as funções são as mesmas", opina. "Se elas estão se sentindo injustiçadas em relação ao salário, estão mais do que certas. Isso me prejudica, mas o que eu posso fazer se eu dependo delas? Eu tenho que pensar no melhor para elas porque se estão valorizadas, recebendo o que é certo, vão cuidar melhor da minha filha", reforça.
Couto afirma que ficou sabendo da paralisação dos professores pela imprensa e pelos avisos colados na grade da unidade. Entretanto, recebeu no grupo de pais, enviado pela diretoria, que a aula seria mantida e, por isso, levou a filha para a creche.
Por conta da confusão, ela afirma que perdeu tempo e que poderia já estar a caminho do trabalho, já que a filha ficaria com a avó: "agora eu vou ter que levar ela para então poder ir trabalhar". A reportagem tentou conversar com a diretoria da creche, mas foi avisada de que a responsável estaria em reunião.
Professoras se sentem desvalorizadas
Professora da educação infantil há uma década, Aline Santos, 41, afirma que os docentes das creches filantrópicas não querem a equiparação salarial com as que atuam nos centros municipais e são concursadas, apenas um reajuste justo para a atividade que exercem no dia a dia. “Isso desmotiva porque nós estudamos, nós trabalhamos com muita dignidade, a gente trabalha por amor e a gente vê que tem dinheiro para tanta coisa mas não tem para dar valor ao professor”, critica.
“A gente trabalha por amor, mas não há valorização nenhuma”, complementa a professora Jacira Costa, 42, que conta que, muitas vezes, as professoras acabam tendo que “tirar dinheiro do próprio bolso” para comprar materiais escolares, como cartolinas ou sulfite, para fazerem atividades diferentes com os alunos. “Às vezes até alimento a gente compra, como sucos ou frutas, quando não tem”, relata.
Serviço essencial
A Justiça concedeu uma liminar, a pedido da Prefeitura de Londrina, exigindo que ao menos 60% dos professores compareçam às unidades sob multa diária de R$ 5 mil ao Sinpro. O secretário de Fazenda de Londrina, Éder Pires, convocou uma entrevista coletiva também na manhã desta terça-feira na prefeitura para explicar detalhes do processo. Ele aponta que cabe aos sindicatos a negociação, mas que o município vem buscando intermediar o diálogo.
Pires esclarece que há um discussão sobre qual sindicato representa as entidades filantrópicas que gerem as creches: o Sinibref (Sindicato Interestadual das instituições Beneficentes, Religiosas e Filantrópicas) ou o Secraso (Sindicato das Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e de Formação Profissional do Paraná). Além disso, ambos não teriam recebido nenhum tipo de manifestação formal por parte do Sinpro, que representa os professores, em relação à reposição salarial. As informações sobre a demanda da categoria teriam chegado a eles através da imprensa.
O objetivo do município em entrar na Justiça contra a paralisação da greve é a não interrupção de um serviço essencial e que atende mais de 8 mil crianças da cidade, além da segurança das entidades, que têm um contrato com o município, e dos próprios professores. A adesão à greve, de acordo com Pires, é de aproximadamente 10% dos docentes que atuam nas creches filantrópicas.
Moacir Szekut garante que o Sinpro não foi notificado sobre a liminar. "O movimento continua forte até o prefeito se pronunciar", afirma. Se notificados, ele garante que o sindicato vai analisar o texto e tomar as medidas cabíveis e possíveis.
“Para preservar o direito de quem quer trabalhar, foi necessário buscar na Justiça em razão de relatos de coação e ameaça”, detalha Éder Pires. Apesar de os diretores do Sinpro afirmarem desconhecimento da liminar, o secretário garante que há relatos, inclusive de voz, de que eles têm conhecimento do documento.
Ele detalha que o reajuste salarial dos professores deve ser negociado entre os sindicatos, o que não teria acontecido até o momento. Caso haja um acordo, Pires explica que o reajuste previsto para esse ano, que é de 4,77%, não está previsto no orçamento. “Nós estamos remanejando o orçamento da Secretaria de Educação e de outras secretarias para honrar com esse compromisso que está em contrato”, afirma.