Na última semana, o documentário “Movimento Hip-Hop: Londrina, 2024” foi disponibilizado integralmente no YouTube. O curta-metragem procurou retratar como o hip-hop, um dos símbolos de resistência cultural e social da cidade, se manifesta por meio de suas vivências e promove um caminho à arte e transformações sociais.
De acordo com a diretora e idealizadora do documentário, Victória Furtado, a ideia do documentário surge a partir do ato de manifestação contra a votação do PL 203/2021, conhecida como “Projeto Vida Saudável”, em 21 de agosto de 2023. Como proposta, o projeto previa a privatização de espaços públicos de lazer como praças, parques e centros esportivos, além da realização de cobranças pelo uso desses lugares.
“Eu e o José, o diretor de fotografia do documentário, fomos na votação da PL e estávamos conversando sobre como tudo isso deveria estar sendo documentado e visto por mais pessoas. Então, a partir disso, a gente decidiu fazer um documentário sobre o movimento hip-hop em Londrina, já que eram essas as pessoas que estavam se organizando contra a PL nesse dia”, salientou a diretora.
Leia mais:
Transporte Coletivo de Londrina faz teste de 'metrô terrestre' com avisos em paradas de ônibus
Londrinenses têm até esta sexta para pagamento do 1º lote do IPTU 2025
Prefeitura de Londrina promove palestra gratuita sobre saúde mental nesta quarta
APVE Londrina Basketball abre inscrições para contratar professores
Assim, o projeto teve seus primeiros passos com Victória Furtado e José Victor Marques, os idealizadores do Movimento Hip-hop: Londrina, 2024. A direção ficou por encargo de Victória Furtado e Maria Alice D. de Oliveira, a produção por Mariana Bortoti, o roteiro por Nani Naan, além de contar com a atuação de mais 14 pessoas na produção geral. Ao todo, a equipe chegou a entrevistar mais de 53 pessoas em duas diárias, em todas as batalhas de rima em Londrina.
Apesar do documentário ter sido gravado entre os meses de março e abril, Furtado conta que o processo começou bem antes, com entrevistas via mensagens e áudios, a fim de selecionar as perguntas e questionamentos importantes para o trabalho. “E a gente queria também que os frequentadores das batalhas quisessem falar com a gente, então deixamos as pessoas bem livres para falar conosco”, comentou.
O documentário, que teve lançamento oficial em 5 de outubro de 2024, retorna mais uma vez, agora em formato digital. Ao longo desse período, o curta-metragem também chegou a ser exibido na Mostra de Cinema Negro do Cocine, e duas vezes no Colégio Estadual Profª Maria José Balzanelo Aguilera, a fim de trazer às escolas e ao resto da comunidade o documentário e as reflexões apresentadas.
“E durante todo esse período de produção, a gente manteve a produção de conteúdo para o Instagram também. Lá a gente fez um mapeamento de todas as batalhas de rima da cidade, além de também explicar um pouquinho da PL que incentivou a gente a fazer o projeto acontecer”, explicou Furtado.
O grupo ainda prevê a exibição do documentário em outras datas durante este ano. Todas as informações serão divulgadas por meio das redes sociais do Movimento Hip-Hop: Londrina, 2024.
Cultura da Resistência
Além de documentar a resistência cultural e social que o hip-hop possui, o filme traz um destaque central para a figura feminina no movimento. Além de ser dirigido por duas mulheres, Furtado enfatiza que o recorte apresentado no documentário foi fruto de uma realidade já evidente para as diretoras.
“Eu e a Maria Alice temos essa visão de que muitas das pessoas que guiam a cena do hip-hop em Londrina hoje em dia são mulheres. Inclusive, duas das maiores rappers de Londrina são a Lully e a Cleópatra. E elas são muito grandes, e aqui muitas das mulheres estão na cena, como a Batalha da Máfia, que é só de mulheres e pessoas trans”, explicou.
A diretora ainda complementou dizendo sobre a importância que essa representatividade possui em ocupar esses espaços: “Além disso, essas ‘minas’, tanto as que criaram a Batalha da Máfia, quanto todas as outras, estão aí pra resistir mesmo, sabe? Tem um momento no filme que eu lembro que uma das meninas fala que ela nunca tinha visto uma outra ‘mina’ rimar, e, quando ela viu, teve vontade. Então é muito importante pra representatividade mesmo, sabe?”, enfatizou Furtado.
O curta-metragem também traz apontamentos sobre como as batalhas de rima e o movimento do hip-hop tornaram uma opção de vida e de propósito através da arte da rima. “Isso vira uma representatividade da vontade delas de crescer e seguir por esse caminho”, diz a diretora.
Desafios a serem enfrentados
Embora o cenário do hip-hop em Londrina hoje tenha maior destaque em comparação a alguns anos, com movimentos e batalhas mais consolidadas, além de editais de premiação para batalhas de rima, ainda há muitos desafios a serem superados. Segundo Furtado, o hip-hop é cultura de resistência em uma cidade que até agora precisa compreender o papel de um movimento que ainda sofre muito com represálias e violências sistêmicas.
“Muito do público do documentário é composto por pessoas que já conheciam as batalhas e participavam do hip-hop. Então, a gente não conseguiu furar muito essa bolha, porque ainda existe muito preconceito. Os próximos passos para superar os desafios são combater a violência e olhar com mais carinho para o movimento. As pessoas que estão no hip-hop, no movimento de rua, são iguais a todos nós. Elas trabalham, estudam, têm família e vão para as batalhas de rima. Mas algumas delas também apanham, saem à noite e morrem”, salientou.
Dessa forma, como enfatiza a idealizadora, “o movimento hip-hop não é só a batalha, não é só o grafite, não é só a coisa bonita na rua. O movimento é também sobre apoiar a superação de todo esse problema social. É ver as coisas com clareza e resolver os problemas”.
O documentário foi produzido com recursos da Lei Paulo Gustavo, viabilizados pela SMC (Secretaria Municipal de Cultura).
Leia também: