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Sem Nova Trilha em 2026

Projetos sociais de doação de alimento em Londrina sofrem com falta de espaço

Lucas Giroto - Estagiário*
13 nov 2025 às 15:36

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Foto: Reprodução / Instagram
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Diante de um cenário incerto, projetos sociais que distribuem alimentos a moradores em situação de rua em Londrina enfrentam dificuldades. Cortes recentes no orçamento e o encerramento de programas, como o Nova Trilha, indicam um panorama nebuloso para 2026. O Portal Bonde conversou com alguns desses projetos e buscou detalhes junto à Secretaria e ao Conselho Municipal de Assistência Social para compreender os impactos.


O primeiro projeto analisado foi o Caridade no Domingo, iniciativa criada há 12 anos por estudantes da UEL (Universidade Estadual de Londrina) para doar alimentos, roupas e até oportunidades de emprego a quem mais necessita.

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Segundo um dos coordenadores do projeto, Thiago Maldonado, as doações de marmitas já ocorreram em diversos locais ao longo dos anos — desde a Concha Acústica até, mais recentemente, a antiga sede do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), na Rua Dib Libos (Centro).


Com a construção de um novo espaço para o serviço de atendimento móvel na Avenida Dez de Dezembro, o contrato com o locatário do terreno anterior não foi renovado. Maldonado conta que a secretária de Assistência Social, Marisol de Oliveira Chiesa, informou que a prefeitura devolveria o espaço porque o acordo havia sido finalizado. “Sem justificativas para manter o gasto, o local foi entregue”, afirma.

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Uma orientação incomum


Durante o contato com a Secretaria, Maldonado relatou ter recebido uma orientação inusitada do órgão. Segundo ele, “foi criada uma lei que proíbe a distribuição de comida para moradores em situação de rua na cidade”. Em decorrência disso, “a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de Londrina) e a Guarda Municipal poderiam aplicar multas caso flagrem essa situação”.

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“O problema é que, se você recebe a multa, precisa contratar um advogado e enfrentar toda uma burocracia para talvez, um dia, reverter”, desabafa.


A “lei” mencionada por Maldonado refere-se ao PL (Projeto de Lei) 92/2024, que propõe proibir “doações de alimentos prontos para consumo ou não, em vias públicas, como ruas e praças”. De autoria da vereadora Jessicão (PP), a proposta ainda tramita na Câmara Municipal e, portanto, não possui valor legal que justifique a fiscalização por parte de outros órgãos públicos — até o momento. Na atualização mais recente, o texto recebeu parecer favorável de duas comissões nesta terça-feira (11). 

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Sem espaço, novo rumo


Por quatro anos, moradores em situação de rua da região central se dirigiam ao terreno aos domingos para receber as marmitas preparadas pela equipe do projeto. Com ingredientes doados ou comprados pelos organizadores, os alimentos são preparados em uma casa no Jardim Tóquio, na Rua Osvaldo Palhares, nº 601. No início, eram distribuídas cerca de 60 refeições; hoje, a média é de 100.

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Com a desocupação do espaço e o receio de serem multados, o projeto coordenado por Maldonado alterou a rota de entrega das marmitas. Agora, elas são direcionadas a outro público: pessoas em situação de vulnerabilidade no Jardim União da Vitória V (Zona Sul).


“Uma freira entrou em contato com a gente e contou que o pessoal de lá tem muitas crianças que só comem na época de aula. Aos domingos, como não há atividades escolares, elas quase não almoçam ou jantam — comem o que houver. Foi então que pensamos: ‘pô, tá aí uma ideia bacana, vamos ajudar eles então!’. Se de um lado o freio de mão está puxado, do outro não tem nada que possa brecar a gente”, detalha.

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Antes de definir o novo foco, o projeto foi procurado pelo Nova Trilha, programa criado em 2023 pela gestão anterior para organizar as doações de alimentos na cidade.


O Caridade no Domingo atuou em parceria com a iniciativa por um período, mas a cooperação não durou muito. Maldonado conta que, ao identificar o alto investimento e o grande volume de alimentos arrecadados, optou-se por atingir outro grupo de necessidade.

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“Percebemos que estávamos fazendo o trabalho por eles, e não achei isso certo, porque recebem uma remuneração alta. Foi então que decidimos, junto aos companheiros que ajudam no projeto, não entregar mais para eles”, justifica. “Em vez de brigar, há tanta gente que precisa. Já que fecharam uma porta para ajudarmos aquele setor, vamos para outro — e vejo que esse será ainda mais difícil”, complementa.


Sobre o Nova Trilha


O programa Nova Trilha foi criado com o objetivo de centralizar as doações de alimentos e organizá-las em um espaço adequado, além de oferecer um local para higiene pessoal e atendimento social. A iniciativa é conduzida pela organização MMA (Ministério Missões e Adoração).


O investimento inicial de recursos públicos foi de R$ 711 mil, com vigência até dezembro de 2024. Após a renovação, o contrato foi prorrogado até dezembro de 2025, com valor reajustado para R$ 1.399.148.


Para 2026, o cenário será diferente. Devido aos recentes cortes orçamentários, diversos programas devem ser descontinuados no próximo ano — entre eles, o Nova Trilha.


Mais projetos sem espaço


Com o encerramento do programa, outros projetos também redefiniram suas rotas ou planejam modificá-las em um futuro próximo.


Um deles é o Café com Cristo, grupo que realiza a entrega de alimentos no período da manhã para a população vulnerável. Assim como o Caridade no Domingo, os integrantes da iniciativa organizavam as ações na região central de Londrina. Segundo o coordenador, Leonimer Flávio de Melo, os trabalhos em parceria com o Nova Trilha serão encerrados em novembro, junto com o programa.


Por conta disso, os integrantes e os alimentos arrecadados serão direcionados ao Igrejinha de Jesus, também coordenado por Melo. No local, o trabalho é focado em alimentar e atender às necessidades da população da comunidade do Aparecidinha.


“Todo sábado servimos almoço para a comunidade e, no primeiro sábado de cada mês, distribuímos cestas básicas. Com a extinção do Nova Trilha, nosso trabalho de 15 anos em favor da população carente e em situação de rua será interrompido”, relata.


O mesmo ocorre com a Casa da Sopa, outra entidade parceira do programa. Sem o espaço do Nova Trilha, as atividades serão suspensas a partir do dia 27 deste mês. Para a coordenadora Marilda Canesim, será necessário buscar outro local para retomar os trabalhos. O principal desafio, segundo ela, é que os locatários se recusam a ceder o espaço ao saberem que o público-alvo são pessoas em situação de rua.


“Quando falamos de pessoas em situação de rua, todas as portas se fecham. No fim do ano, como há muitas doações, nos sentimos mais tranquilos para esperar até janeiro por outro espaço”, desabafa.


A Toca de Assis é outro parceiro que será afetado. O trabalho dos Franciscanos segue regularmente enquanto o espaço estiver disponível. A principal dificuldade apontada é que, por estar “mais afastado do centro”, muitos moradores dessa região não conseguem acessar as refeições.


Futuro das pessoas em situação de rua


Com o corte do programa Nova Trilha e a possível limitação dos espaços de doação — caso o PL 92/2024 seja aprovado — surgem dúvidas sobre o futuro da população em situação de rua. A reportagem consultou o Conselho de Assistência Social de Londrina para entender melhor esse cenário.


A vice-presidente do conselho, Lygia Mariane Bordonal, afirma que é difícil estimar com precisão o impacto da perda do programa. Apesar dos resultados positivos, Bordonal ressalta que essa é uma área que demanda cada vez mais trabalho coletivo.


“Estamos com o programa há um ano e meio e sabemos a diferença que ele tem feito para essas pessoas. Ele oferecia alimentação, banho, assistência social e apoio pedagógico. Sem dúvida, sua extinção terá impactos, mas não é possível prever como essa população ficará sem esses serviços — afinal, não se trata apenas deste programa, mas de todos os serviços em conjunto”, ressalta.


Secretaria nega orientação de multa

A reportagem questionou a Secretaria de Assistência Social sobre a suposta orientação de proibição das doações em espaços públicos e sobre a validade legal do PL 92/2024, ainda em tramitação. Em resposta, a secretária,  Marisol de Oliveira Chiesa, confirmou que o projeto não possui força de lei e negou que a pasta tenha emitido orientações prevendo multa ou penalização a pessoas ou entidades que realizem doações de alimentos.


Em complemento, Chiesa destaca que doações podem ser realizadas normalmente, seguindo as legislações que estão em vigor. Principalmente, a "Lei Municipal nº 13.351/2022, que regulamenta a doação de excedentes alimentares por estabelecimentos e define que a responsabilidade sanitária e nutricional é das próprias entidades e estabelecimentos doadores", reforça.


Sobre a situação, a secretária garante que os outros serviços oferecidos pela poder público continuarão atendendo a popução, independente de qualquer mudança institucional.


"A Secretaria Municipal de Assistência Social dispõe de ofertas regulares do SUAS (Sistema Único de Assistência Social), especialmente por meio do Centro POP, das organizações parceiras (com uma rede de serviços de acolhimento) e dos serviços de proteção social especial de média e alta complexidade. Esses serviços permanecem atuando na garantia de atendimento continuado à população em situação de rua", afirma.


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A secretária destaca o valor das doações como "expressões de solidariedade" e "generosidade" por parte da sociedade. Porém, entede que sua distribuição não é parte de uma "política pública" ou da "oferta contínua de assistência social". 


"A política de assistência social, enquanto direito garantido, baseia-se em serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais previstos em normativas específicas, garantindo atendimento regular e estruturado à população em situação de vulnerabilidade", justifica.

Para os próximos meses,  segundo ela, o planejamento da pasta é continuar coordenando as doações realizadas por pessoas e organizações da sociedade civil em ambientes considerados adequados e integrados.


*Supervisão Guto Rocha - Editor Portal Bonde

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