O início da quaresma é celebrado não só pelos religiosos, que nessa época do ano costumam praticar jejum e se abster do consumo de carne. Produtores e revendedores de peixes também comemoram a tradição cristã, que ajuda a movimentar esse mercado. Terminado o Carnaval, as peixarias já observam um aumento na procura dos pescados, cujas vendas chegam a crescer 100% até a Sexta-Feira Santa.
O Brasil está longe de ser um dos grandes consumidores de peixe. Enquanto a média mundial é de 20 quilos ao ano por pessoa, entre os brasileiros essa média anual cai pela metade. Mas o cenário é promissor. Entre 2023 e 2024, a produção nacional de peixes cresceu 25% e, no Paraná, o avanço foi de 9,2%, segundo dados do IDR-PR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná).
E o período da quaresma tem grande relevância para o mercado de pescados porque movimenta toda a cadeia da piscicultura, principalmente a piscicultura de cultivo, conforme explicou o coordenador de Piscicultura do IDR-PR, Miguel Cesar Antonucci. "Este não é o único momento, o ano todo tem produção, mas a quaresma coincide com o período em que os produtores estão estocando peixes. O produtor coloca os alevinos para engorda em outubro e de seis a oito meses depois, vem o período da coleta, que coincide com o período de maior demanda do mercado."
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A tilápia é, de longe, a espécie de peixe mais consumida pelos brasileiros. Das 968.745 toneladas de peixes de cultivo produzidas no país, 662.230 toneladas são de tilápia, o que corresponde a quase 70%. Do total da produção nacional, 250.315 toneladas saem do Paraná, das quais 245.511 toneladas são de tilápia. Volume que coloca o Brasil na quarta posição no ranking dos maiores produtores do mundo.
Embora parte dos pescados brasileiros seja vendida ao mercado externo, a produção nacional ainda é insuficiente para atender a demanda interna e o país também é importador do produto. Mas há potencial de expansão da produção, assim como do consumo. Ao mesmo tempo em que, gradualmente, há um aumento da população que consome carne de peixe com regularidade, a produção também vem se fortalecendo. "No Brasil, estamos aprendendo. Não tem 30 anos que temos peixe de cultivo no país", ressaltou Antonucci.
O alto custo de produção, a falta de organização da cadeia produtiva, a necessidade de maior tecnologia e a menor disponibilidade da carne de peixe no mercado em relação às outras carnes são fatores que dificultam o avanço desse mercado. "Tem que fazer um trabalho de baratear custos e facilitar ao consumidor, com o processamento", apontou o coordenador de Piscicultura do IDR-PR.
No Paraná, mais de 80% da produção se concentra na Região Oeste, nos municípios de Cascavel e Toledo. Não por acaso, a mesma região onde funcionam as cooperativas que fazem o trabalho de integração dos piscicultores, o que ajuda a diminuir os custos e tornar o produto mais competitivo. "É preciso trabalhar junto ao produtor. É um trabalho técnico que tem que ser feito para baixar custo de produção. É preciso diminuir gastos e melhorar a eficiência."
Neste ano, há sobra de peixe no mercado em razão do crescimento do volume de produção, o que fez baixar os preços pagos aos fornecedores. Segundo o IDR-PR, em 2024, o produtor vendia o quilo da tilápia por cerca de R$ 10. Agora, em 2025, a média é de R$ 7,50 a R$ 8.
A redução, no entanto, não foi repassada ao consumidor final. Nas peixarias e supermercados, os preços tiveram um ligeiro aumento entre 2024 e 2025.
Na Rio Mar Pescados, em Londrina, o movimento de consumidores que substituem as outras carnes pelo peixe na quaresma já começou a ser observado desde a última quarta-feira (5). "Muitas pessoas já não comem carne na Quarta-Feira de Cinzas", disse a responsável pela peixaria, Maria Reis. "E tem pessoas que durante a quaresma inteira só se alimentam de peixe. Essa é a época do ano em que temos a maior procura e as vendas chegam a aumentar até 100% na Semana Santa, que é quando mais vende."
Devido ao sabor mais suave, à facilidade no preparo e ao preço mais em conta, o filé de tilápia é o que mais sai, segundo Reis. Na peixaria, o quilo do filé de tilápia é vendido a R$ 54,90. Mas há opções mais em conta, como a sardinha, saborosa e muito versátil na hora do preparo. Inteira, o quilo custa R$ 15 reais. Limpa, sobe para R$ 24,90 o quilo e, espalmada, sai por R$ 29,90. "Mas os peixes mais caros, como o salmão, importado do Chile, também têm boa procura, assim como as postas de cação ou pintado, para o preparo de moqueca", comentou Reis. "Para nós, a quaresma é como se fosse o Natal ou o Dia das Mães para o comércio em geral", comparou.
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