Izabella Fregoneze e seu marido Rodrigo Fregoneze deixaram o Brasil para morar na Europa em busca de novas oportunidades profissionais, mas, logo após chegarem a Málaga, cidade localizada na costa sul da Espanha, a vida da família tomou um rumo inesperado. A filha do casal, Elis Fregoneze, na época com apenas quatro anos, foi diagnosticada com leucemia. Desde então, o enfrentamento à doença, a estada em um país estrangeiro, a ausência dos parentes e os problemas financeiros tornaram-se batalhas diárias para a família de Londrina.
Izabella é natural de Mangueirinha, no sudoeste do Paraná, mas em 2016 se mudou para Londrina junto com a família por motivos profissionais. Em seguida, passou a cursar Direito e, por meio de amigos em comum, conheceu Rodrigo, que já morava no município. Não demorou muito para os dois darem início ao namoro, que logo evoluiu para casamento. Em 2019, Elis nasceu como fruto da relação.
Com a família já formada, o casal decidiu alçar um voo arriscado. Em 2023, Rodrigo recebeu uma proposta de emprego na Alemanha e foi para o país germânico em busca de assegurar um futuro melhor para a filha e a esposa. Pouco tempo depois, a jovem e a filha foram para a Espanha, destino final de Rodrigo, que estava em processo de troca de sede.
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O diagnóstico
O drama começou quando, recém-chegados à Espanha, Elis começou a apresentar sintomas como dor de garganta, abatimento, palidez e falta de apetite. Após ser medicada, apresentou melhora, mas continuou pálida. Izabella, preocupada, levou a filha a um pediatra de Málaga, que solicitou um hemograma para investigar uma possível anemia.
“Ela fez o exame pela manhã e no mesmo dia eu recebi uma ligação do laboratório perguntando como ela estava. Eles me disseram que eu precisava ir urgentemente para o hospital infantil”, lembra a mãe.
O exame revelou que Elis estava com as plaquetas muito baixas e anemia severa. Após novos exames, Elis foi diagnosticada com leucemia. “Foi um susto enorme, nunca tinha recebido uma ligação do laboratório. Eu pensei que seria algo simples, como uma suplementação, mas a realidade era bem mais grave.”
A mãe de Elis ressalta a importância do diagnóstico rápido dado no sistema de saúde pública da Espanha. Ela diz que, da suspeita ao diagnóstico, foram apenas quatro dias de espera. A parte mais desafiadora, segundo ela, foi tentar explicar a situação para Elis.
"A gente teve que explicar para ela a situação dentro do hospital, porque ela teve que entender que ia demorar um pouco para voltar para casa. Ficou 30 dias lá. Falamos de forma lúdica que ela tinha uma manchinha no sangue. Aos poucos, foi entendendo. Hoje, já é algo natural", recorda.
Tratamento
Após o diagnóstico, Elis começou imediatamente o tratamento de quimioterapia. Izabella e Rodrigo optaram por permanecer na Espanha, pois consideraram a viagem de volta ao Brasil muito arriscada devido à imunidade frágil de Elis. “Precisamos repensar a nossa vida em poucos minutos. A princípio, pensamos em voltar para o Brasil, mas são três voos até Londrina e seria muito arriscado para ela.”
O tratamento da criança é bastante similar ao que seria oferecido no SUS (Sistema Único de Saúde) no Brasil. Os exames e grande parte dos procedimentos não têm custo. No entanto, a compra de medicamentos é subsidiada em apenas 40%, o que gera um impacto financeiro significativo no orçamento da família.
“O remédio do estômago para náusea, por exemplo, custa 30 euros, já com o desconto. Gastamos cerca de 130 euros por mês só com medicamentos”.
Elis teve que abrir mão da rotina para se manter saudável. Por precisar evitar grandes aglomerações, teve que deixar de frequentar a escola.
"Enquanto ela estiver com a imunidade baixa e fazendo quimioterapia, ainda não pode ter contato, porque, muitas vezes, uma gripe nela demora mais para melhorar do que na gente. Então, é melhor evitar. Ela faz aulas remotas."
Dificuldades financeiras
Rodrigo Fregoneze precisou tirar uma licença não remunerada para estar com a família. No entanto, devido ao pouco tempo de residência na Espanha, a família não pôde acessar os auxílios sociais oferecidos pelo governo. “Para ter direito ao auxílio, precisaríamos estar no país há, pelo menos, cinco anos, mas estávamos aqui há apenas três meses quando descobrimos a doença”, explica Izabella.
Com apenas um salário mínimo por mês, a família enfrenta dificuldades para arcar com os custos de medicamentos, locomoção - já que não podem usar transporte público por causa da baixa imunidade de Elis - e despesas cotidianas.
A situação financeira se agravou ainda mais quando o programa de aulas remotas, oferecido anteriormente pela assistência social do país, foi encerrado por falta de verba. Com a nova realidade, a família precisaria pagar as aulas de Elis para garantir a educação dela, que também é fundamental para o desenvolvimento no novo idioma.
Distância da família
Além das dificuldades financeiras, a distância da família no Brasil é outro desafio para o casal. “O pior de tudo é passar por essa situação longe de todo mundo. Não ter um apoio físico torna tudo mais difícil”, desabafa Izabella. Mesmo com o apoio virtual, a saudade e a preocupação dos familiares no Brasil são constantes.
A notícia do diagnóstico de Elis foi um choque para toda a família. Izabella conta que precisou ter muito cuidado ao informar seu avô, que também estava gravemente doente no Brasil.
“Ele tem um carinho muito grande pela Elis, a primeira bisneta. Foi muito difícil contar para ele. Eu falei: ‘vô, segura firme, porque se acontecer alguma coisa com o senhor, eu não vou dar conta de continuar’”.
A vaquinha
Diante de tantas questões que emergiram todas ao mesmo tempo, a família decidiu recorrer à solidariedade de amigos. Criaram uma vaquinha on-line para ajudar a custear o tratamento de Elis. Inicialmente, o objetivo era arrecadar 90 mil euros, mas com a evolução do tratamento para a fase de manutenção, o valor foi ajustado para R$ 100 mil.
“No começo, eu tinha muito medo de expor a Elis e fazer esses pedidos”, confessa Izabella. “Começamos compartilhando apenas entre amigos e familiares, mas depois foi ganhando uma proporção maior. Hoje, a maioria das doações vem de pessoas que a gente nem conhece, muitas delas por meio das redes sociais”.
Atualmente, a criança faz uma sessão de quimioterapia por mês no hospital e faz os demais procedimentos em casa. A expectativa, segundo a mãe, é que o tratamento completo dure cerca de dois anos, e apesar da fase mais intensa ter passado, o desafio de garantir a continuidade do tratamento e o bem-estar da família continua.
"A gente tá na metade do caminho. Agora, estamos numa fase mais tranquila, mas, mesmo assim, ela faz a quimio na medula. Temos consultas regulares e vamos manter isso até completar os dois anos de tratamento", salienta Izabella.
Para ajudar a Elis no tratamento contra o câncer, acesse este link e doe por meio da vaquinha on-line. Também é possível contribuir por meio da chave pix: [email protected]. 913 pessoas já enviaram as suas contribuições desde o início do tratamento, resultando em R$ 64 mil.
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