Se “para quem não sabe onde vai, qualquer caminho serve”, os problemas de sinalização viária em Londrina são um convite para a desorientação. A expressão é da famosa obra literária “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll e retrata bem a desinformação visual que afeta o trânsito e, por que não, a estética da cidade que acaba de receber o selo de “Município Turístico”.
A deficiência da sinalização de trânsito ocorre em diversas regiões e afetam placas específicas com a cor marrom, que indicam ao condutor a localização de pontos turísticos e culturais, áreas de lazer do município, aeroporto, rodoviária e serviços de saúde.
A reportagem do Bonde percorreu, de ponta a ponta, 20 importantes ruas e avenidas de diferentes regiões de Londrina para compreender o estado das placas degradadas e considerou três critérios de avaliação: placas boas, regulares ou ruins.
As placas avaliadas como boas pela reportagem foram assim consideradas por estarem novas e apresentarem visibilidade e legibilidade perfeitas. As regulares foram assim classificadas por estarem desbotadas, porém sem grande comprometimento da informação contida. Já as ruins são aquelas em que não é possível ler e compreender a informação em razão do péssimo estado de conservação.
A análise concluiu que, das 144 placas visualizadas, 56, ou 38%, estão em boas condições. Outras 28, ou 20%, estão em condições regulares. As ruins, por sua vez, representam 42% das sinalizações viárias desse tipo. Um total de 60 placas completamente ilegíveis. No entanto, há registros de sinalizações completamente degradadas em ruas não percorridas pelo levantamento, o que indica que este número pode ser maior.
Dentre as vias percorridas, a avenida JK (Juscelino Kubitschek) é a que possui o maior volume de sinalizações dessa natureza. São 26 no total, sendo oito boas, seis regulares e 12 ruins. A avenida Dez de Dezembro, por sua vez, é a via com o segundo maior volume de placas, sendo 11 boas, duas regulares e quatro ruins. Essa é a via com a maior quantidade de sinalizações em bom estado.
Outras vias chamam a atenção pela quantidade de placas em péssimo estado, como a Av. Leste-Oeste, com sete placas ruins de um total de oito; a Rua Celso García Cid e a Av. Me. Leônia Milito, em que cinco das seis estão ruins; e a avenida Duque de Caxias que possui três boas, três regulares e seis ruins.
Perda de função, falta de cuidado e questão cultural
Para a advogada Valéria Machado, que estacionava seu veículo na Rua Pará (Centro), próximo a uma placa em estado regular, a sinalização é importante para a cidade e para o trânsito, mas deixa de ter finalidade no estado atual. Ela acredita que a prefeitura precisa substituí-las ou repintá-las. “Eu acho que a placa é necessária, mas ela tem que estar de uma forma que a gente consiga perceber. Porque do jeito que está ali não dá nem para perceber. Aí fica sem função”, argumenta.
O motorista de aplicativo Paulo Henrique, que circula por toda Londrina o dia inteiro, afirma que encontra placas de sinalização avariadas em todas as regiões da cidade. "Eu vejo essas placas em vários lugares. E isso atrapalha bastante a gente que dirige o dia todo. Além de ser feio e demonstrar uma falta de cuidado com Londrina", diz.
A aposentada Givânia Maria Bertin Mazier, que dirigia pela Av. Bandeirantes, também reclamou da situação das placas indicativas. "De modo geral a cidade está muito mal sinalizada, com placas mal cuidadas. Isso dificulta a gente que é de Londrina, mas principalmente para quem vem de fora", observa.
O motorista de aplicativo, que se indentificou apenas como Carlos, também percorre o trânsito de Londrina todos os dias. Há dois anos nessa rotina, ele transporta de forma recorrente turistas que chegam ou que se vão pelo aeroporto e pela rodoviária e lamenta o estado da sinalização.
“Pego muita gente de fora e eu penso que é muito dinheiro que se paga aqui em Londrina para deixar deste jeito [se referindo a uma placa na Duque de Caxias]. Eu concordo com essas várias placas. É informativo e sempre é bom pra mim ou pra qualquer um. Só que o descuido eu acho que é muito complicado”, comenta.
O motorista associa o aspecto das placas ao estado de conservação dos próprios pontos turísticos do Município, como o Museu Histórico e o Jardim Botânico, que atualmente passam por reformas.
“Acho que tinha que rever muita coisa. Quando você fala em turismo, vai lá no Jardim Botânico. Está feio. Não tem ponto turístico aqui, basicamente. Você vai aqui no museu [se referindo ao Museu Histórico] e está fechado. Você vai aqui na Biblioteca Pública, olha a situação que está ali? Não tem, ponto turístico. Pelo tamanho da cidade de Londrina, falta muita coisa”, critica.
Há um ano e meio José Almeida, 60, é proprietário de um estacionamento na avenida Celso Garcia Cid (Centro), localizado bem em frente a uma das placas mapeadas pela reportagem. O empresário morou por 30 anos no Japão e argumenta que o estado da sinalização é reflexo da cultura do brasileiro.
“A sinalização tem que ser bem clara. Com o tempo ela vai se desgastando mesmo. Mas eu estive no Japão e lá as placas, desde as pinturas da rua até as placas grandes… Tudo organizado, tudo bem sinalizado e limpo”, compara.
MUNICÍPIO TURÍSTICO
Em setembro deste ano, Londrina foi reconhecida pelo MTur (Ministério do Turismo) como “Município Turístico” e incluída no Mapa do Turismo. Agora o município poderá receber recursos para a implementação de políticas públicas específicas voltadas ao setor.
A infraestrutura é um dos critérios para a concessão do reconhecimento. Ela deve comportar o aumento sazonal de pessoas em hotéis, no comércio, nos restaurantes e também no trânsito, por exemplo. Em 2025, segundo informações da Prefeitura de Londrina, por três vezes a rede hoteleira da cidade teve 100% dos leitos ocupados (cerca de 8,5 mil) por turistas que estiveram no município a negócios ou para participação em eventos esportivos e de entretenimentos.
O Bonde entrou em contato com a Codel (Instituto de Desenvolvimento de Londrina), que tem como frente de trabalho o turismo. Em nota, o instituto informou que está monitorando editais e programas federais e estaduais que ofereçam suporte financeiro para a melhoria da sinalização turística visando modernizar e padronizar o sistema de placas dessa natureza.
“A sinalização é a primeira impressão que o turista tem da organização de um destino. Estamos empenhados em buscar as fontes de recurso necessárias para alinhar nossas placas aos padrões exigidos, garantindo que a experiência do visitante aos atrativos históricos e culturais, seja assertiva”, afirma a diretora de Turismo do instituto, Herika Galli, em nota enviada pela assessoria de imprensa.
A nota da Codel informou ainda que “está monitorando a captação de recursos para essa prioridade, visando a implementação de melhorias na sinalização turística nas áreas urbana e rural do município”, complementa a nota.
A reportagem também procurou a CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de Londrina), que é responsável pela implantação e manutenção das sinalizações de trânsito horizontais e verticais. A respeito da sinalização turística, a companhia comunicou que é responsável apenas pela manutenção.
Também em nota, “a CMTU reconhece a necessidade de melhoria neste tipo de sinalização, mas informa que nos últimos anos não houve previsão orçamentária para este tipo de serviço. Assim que houver recursos, a manutenção e a troca das películas serão realizadas”, informa.
Nem a Codel e nem a CMTU souberam informar o número de placas turísticas que há no município e o estado de conservação delas.