Apesar de o PT ter fechado um acordo, no ano passado, para apoiar a candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo na eleição de 2024, uma ala minoritária do partido se opõe ao acerto e defende o lançamento de uma candidatura própria.
Em troca da aliança com o PT, Boulos, que disputou a prefeitura e perdeu no segundo turno em 2020, abriu mão de concorrer ao Governo de São Paulo em 2022, declarando apoio a Fernando Haddad (PT) desde o primeiro turno.
Leia mais:
Justiça Eleitoral recebe 68 mil denúncias de propaganda irregular
Sem polêmicas, última fase da consulta do papa a católicos começa esvaziada
Governo recua, por ora, de bloqueio de cartão do Bolsa Família para bets após reunião com Lula
Concurso dos Correios com 3.468 vagas terá provas em 15 de dezembro
O PT pretende já consolidar o apoio a Boulos no congresso do diretório municipal, programado para os dias 4 e 5 de agosto. O deputado federal Jilmar Tatto (PT) e seu grupo político, que inclui seus irmãos deputados e vereadores, têm sido os principais opositores do acordo com o PSOL.
Em resposta à resistência, o presidente Lula (PT) e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, reforçaram publicamente nos últimos dias o apoio a Boulos em 2024. Seu principal adversário será o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que caminha para ter o apoio de Jair Bolsonaro (PL).
Entenda os argumentos de parte do PT a favor de lançar um candidato petista à Prefeitura de São Paulo.
Chances de vitória
A tese de uma ala do PT é a de que só um candidato de centro-esquerda tem chances de vencer na capital. Ou seja, é preciso que a esquerda faça uma inflexão ao centro e apresente um candidato palatável, o que não seria o caso de Boulos, identificado com o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).
Nessa leitura, o candidato do PSOL não conseguiria furar a bolha dos eleitores de esquerda e poderia perder no segundo turno para Ricardo Nunes.
Em 2022, Lula e Haddad tiveram mais votos que Bolsonaro e Tarcísio de Freitas (Republicanos) na capital, o que abriu uma chance para a esquerda em 2024.
Já em 2020, o PT decidiu lançar Tatto para a prefeitura e amargou seu pior resultado, com 8,6% dos votos (sexto lugar). O deputado diz acreditar que o contexto eleitoral é outro agora --mais favorável para o PT com Lula no Palácio do Planalto e bons resultados na economia.
PT coadjuvante
Petistas afirmam que o partido, pelo seu tamanho e história, não pode deixar de apresentar um nome para concorrer em São Paulo. A falta de opções competitivas seria um atestado de incompetência para uma legenda que governa o país e já administrou São Paulo em três mandatos.
Nesse sentido, ministros do governo Lula que são de São Paulo poderiam ser opções.
Crescimento da bancada e do partido
Um candidato do PT na cidade de São Paulo ajudaria a eleger um maior número de vereadores do partido, o que fortaleceria a sigla. Estrategicamente a eleição de 2024 é vista como uma oportunidade para que o PT retome prefeituras no estado de São Paulo e, assim, ajude a pavimentar a reeleição do partido na Presidência da República em 2026.
Petistas também cobram que o partido só apoie candidatos de outros partidos em 2024 com a certeza de que eles farão campanha para o PT em 2026.
Alinhamento do PSOL
O alinhamento do PSOL ao PT é questionado. No Congresso Nacional neste ano, por exemplo, os deputados do PSOL, inclusive Boulos, votaram contra o arcabouço fiscal. Na votação da Reforma Tributária, três parlamentares do PSOL se abstiveram e o restante votou a favor.
Além disso, petistas lembram que o PSOL também foi oposição em alguns momentos da gestão de Haddad na Prefeitura de São Paulo. E argumentam que o partido lançou candidato à Presidência da República em 2018, no caso o próprio Boulos, em vez de apoiar o PT num momento delicado da sigla, com Lula preso.
Defesa do PT e seu legado
Numa campanha em que o PT deve ser o alvo de adversários, a ideia é que só um candidato do partido poderia defendê-lo de acusações de corrupção, algo que Boulos deixaria de fazer. Além disso, o PT quer que o candidato defenda o legado das administrações petistas na cidade, com feitos como os corredores de ônibus, o Bilhete Único e os CEUs.
Competição com o PSOL
Petistas afirmam que PT e PSOL competem pelo mesmo perfil de eleitor e, portanto, um crescimento da segunda sigla implica no encolhimento da primeira.
Também há temor de que a candidatura de Boulos estimule o PSOL a lançar candidatos na região metropolitana de São Paulo, o que atrapalha os planos eleitorais do PT.