Um sorridente Orlando Bonilha nos recebe na varanda da casa da mãe, na Zona Norte de Londrina. O mesmo homem que, minutos antes, dissera ao telefone que ''talvez'' não fosse um bom momento para comentar o resultado das eleições (''muitos ainda estão com a cabeça inchada''), agora tem nas mãos um recorte da FOLHA com a lista dos candidatos a vereador e os votos obtidos por cada um.
Com um ar tranquilo, o ex-vereador cassado conta que está ''mexendo'' com estufas de hortifrutigranjeiros no interior paulista e trabalhando com o irmão numa revenda de escapamentos. Diz que não quer mais saber de política, que está tentando ''recuperar a paz interior'' e que deseja o melhor aos candidatos derrotados. Mas não consegue esconder o prazer em ver a renovação de quase 70% da Câmara - fenômeno para o qual ele, uma espécie de Roberto Jefferson local, certamente contribuiu.
O resultado das eleições para vereador era previsível?
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Eu confesso que fiquei bastante surpreso. Aquela espinha dorsal que existia na Câmara nessas três legislaturas em que atuamos praticamente se renovou. Os vereadores que permaneceram ali são aqueles com quem nunca tive nenhum tipo de problema.
Espinha dorsal?
Aqueles que tomaram café no meu copo, comeram no mesmo prato que comi, conviveram comigo nesses quase 12 anos e me usaram para tirar proveito próprio. Sempre fui parceiro de todo mundo, respeitava todos, não deixei o poder subir à cabeça. Mas tinha aqueles colegas que pisavam em mim quando eu era presidente da Câmara. A gente lamenta, porque às vezes a inveja de algumas pessoas destrói, mata.
Você se sente vingado?
Do fundo do coração, eu preferia que nada disso estivesse acontecendo. Londrina tem espaço para todos sobreviverem, eles não precisavam me prejudicar. Mas o Sidney de Souza (atual presidente da Câmara), o Gláudio de Lima, o Renato Araújo, o Flávio Vedoato, todos esses me procuraram pedindo para eu renunciar que não teria problema nenhum, não cassariam meus direitos políticos. Eles me traíram. Me cassaram. Mas quem cassou o mandato deles foi o povo de Londrina. Hoje estou com minha alma lavada e a consciência tranquila.
O grande responsável pela renovação na Câmara foi Orlando Bonilha?
A gente teve a ombridade de falar a verdade do que acontecia na Câmara, mas não quero puxar nada para mim. O trabalho do Ministério Público e da imprensa foi de fundamental importância. Não fiz campanha para ninguém, nem material apócrifo, não precisei fazer nada. Deus fez o trabalho dele e a população não pode ser subestimada. Algumas pessoas quiseram se mostrar puritanas e dizer que só eu era o patinho feio, mas o povo é inteligente e sabe que as votações na Câmara precisam de pelo menos 11 votos.
O atual presidente botou a culpa pela não reeleição no excesso de concorrência...
É desculpa de quem foi cassado pela população. Agora, uma coisa eu te digo: a campanha foi desgastante e ''gastante''. Eu torço para que Deus abençoe todos os derrotados, pois sei que tem candidato que está arrebentado, com dívida, problema familiar, cabeça inchada. Nos momentos mais difíceis que enfrentei, Deus me deu força. E hoje estou tentando recuperar minha vida, minha paz interior, cuidar dos meus filhos e voltar a ser comerciante. A gente não precisa de muita coisa para viver.
A julgar pelo esquema de corrupção do qual você mesmo confessou ter participado, suas ambições já foram bem maiores...
Não é isso. Eu sou um batalhador. Quando eu tinha uma casa de carne, eu queria ter mais outra. Fui crescendo, cheguei a ter 12 empresas. Depois fui para a Câmara, me reelegi, virei presidente, mas não queria morrer vereador, queria tentar uma prefeitura.
Mas não acha que meteu os pés pelas mãos por ambicionar demais?
Não! Eu administrei a Câmara por quatro anos, minhas contas já foram aprovadas. Se dei algum prejuízo aos cofres públicos - com aquele dinheiro que é carimbado para saúde, educação - quero devolver quatro vezes mais. Lá dentro, às vezes nem era eu que articulava com este ou aquele empresário que queria uma lei específica para atender o umbigo dele. Não era o Bonilha que botava a faca na goela do empresário, era ele que ia lá corromper vereador.
Uma curiosidade: quanto você já gastou com advogado?
Num primeiro momento, combinei 10 ações praticamente por R$ 100 mil. Mas depois que a gente abriu a verdade da Câmara, essas ações já dobraram. Este é meu maior problema hoje. Os únicos recursos que eu tinha, usei naqueles túmulos da Acesf, um negócio que não foi nada ilegal, ao contrário do que dizem. Infelizmente eu envolvi algumas pessoas da minha assessoria e também tenho que ampará-las. Mas hoje não tenho dinheiro, estou devendo para advogado e algumas pessoas que deviam favor para mim nem me atendem.
Para terminar: como vê o futuro da Câmara de Londrina?
A renovação foi boa para a sociedade. Eu até pensava em ficar muitos anos sem ir à Câmara, mas já mudei meu pensamento. Não sei quando, mas eu vou fazer uma visita e torcer para que estes novos líderes não entrem na seara um do outro, como fizeram comigo.
E que não repitam seus próprios erros?
Lógico. Mas que fiquem alertados: muitas pessoas vão bater na porta para tentar resolver questões específicas, de interesse particular. Não abram, porque amanhã ou depois esses especuladores vão ser os primeiros a denunciar eles mesmos e você.