O estado mais rico e mais populoso do Brasil, abriga também o menor município do país, sede do menor colégio eleitoral desta eleição. A cidade de Borá, a 520 quiolômetros a oeste da capital paulista, tem 804 habitantes, 924 eleitores (somando eleitores de municípios vizinhos), três candidatos a prefeito e 33 candidatos a vereador. Tem também uma das eleições mais disputadas, onde é praticamente impossível um cidadão não se envolver.
A menos de uma semana para a votação decisiva - em Borá, não há segundo turno, que só ocorre em cidades com 200 mil ou mais eleitores -, a costumeira tranqüilidade das ruas da cidade já não é a mesma. Carros de som sobem e descem as ladeiras das poucas ruas, provocando discussões nos portões de casas e nas esquinas. Conversas que só terão fim às 17h10 do próximo domingo (dia 5), hora do resultado. "Aqui, dez minutos depois do fim da votação, você já sabe quem ganhou", prevê Danilo César dos Santos, dono da única farmácia da cidade.
Em Borá, a eleição mexe com todos. Cada um dos 804 habitantes do município é parente, amigo ou mesmo colega de um dos candidatos. As propostas e promessas são feitas à moda antiga, de casa em casa, no corpo a corpo. Na cidade, o voto secreto é um dos direitos mais importantes já conquistados pelos eleitores.
"Sabe como é, né? Se você conta em quem vai votar, o candidato que não vai receber o voto vai ficar chateado", conta Maria Bello Tomaz, dona de um dos dois restaurantes existentes na cidade, ao interromper seu bate-papo para responder de forma evasiva uma pergunta sobre sua opção eleitoral.
"Não estamos aqui para chatear ninguém", complementou a aposentada Edite Severina Alves, colega e vizinha de Maria. "Já sei em quem vou votar, mas não falo pra ninguém. Depois a gente pode acabar se prejudicando", afirmou.
As duas contam que, em Borá, o leite, o pão, os remédios, as frutas e as verduras, são distribuídos gratuitamente pela prefeitura. Ninguém quer ficar sem sua parte e, portanto, a melhor coisa é ficar de boca fechada.
E como ninguém revela sua opção, os candidatos permanecem firmes em suas campanhas. Este ano será o primeiro em que Borá terá três candidatos à prefeitura e todos prometem buscar cada voto até o último momento. Esforço que será necessário, já que, na última eleição, 14 votos de diferença elegeram o atual prefeito.