Londrina se tornou recentemente a terceira cidade com Brasil com uma antena 5G. Tecnologia que pode ajudar sensivelmente no desenvolvimento de inovação para o campo, assim como beneficiar vários outros empreendedores em nossa cidade.
Para que isso aconteça, no entanto, será preciso muito mais que números. Essa abundância de dados se tornará um benefício concreto à cidade quando o setor produtivo se apropriar disso para gerar inovação. Além de tecnologia, inovação é acima de tudo crença. Quem não acredita, não faz. Poderia citar centenas de estudos científicos que já provaram isso, mas usarei um argumento mais simples: o ecossistema de Londrina e região. A vinda da tecnologia 5G para cá antes de outras regiões do país é o corolário do ímpeto de empreendedores, autoridades, lideranças, acadêmicos e outros grupos representativos da sociedade civil organizada, como a mídia regional. Todos unidos em prol do desenvolvimento da região.
Em um momento em que vivemos profundas disputas e polarização, é um bálsamo ver pessoas de diferentes setores e visões de mundo trabalhando pelo bem comum. Foi por meio de movimentos assim que Londrina vivenciou outro grande momento na história com a criação do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e da Embrapa Soja no começo da década de 1970. Ambas as instituições foram cruciais para o desenvolvimento econômico e social de Londrina, do Paraná, do Brasil e, por que não, do mundo?
Um quarto do PIB brasileiro em 2020 veio do campo. O principal produto de exportação é a soja. Informações do nosso conhecimento. O que muita gente não sabe, porém, é que a oleaginosa é uma cultura de regiões temperadas. A soja precisou ser adaptada às condições de clima e solo brasileiras para se tornar nosso carro-chefe do agro, principalmente no Cerrado, onde está concentrada grande parte da produção nacional. Quem fez essa adaptação? A mesma Embrapa Soja.
O agrônomo e empreendedor George Hiraiwa me lembrou de algo muito relevante. A Embrapa Soja contou com o apoio da Japan International Cooperation Agency (JICA) na realização do Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento Agrícola dos Cerrados (Prodecer). Por meio de cooperação financeira e técnica as instituições criaram a tecnologia de soja que hoje alimenta o mundo.
O 5G deve contribuir sensivelmente para que a Embrapa Soja possa desenvolver novos produtos e serviços para o Brasil e o mundo. Com o corpo técnico altamente capacitado que eles têm e motivados pelo prestígio de receber a tecnologia 5G, a instituição caminha em uma direção certeira.
Certa vez li no Museu do Amanhã (RJ): "Vida é inovação e repetição”. Entendi que o ato de repetir não necessariamente significa fazer tudo igual, mas fazer repetidas vezes certas coisas, como buscar a mudança. Mais uma vez o novo se avizinha a partir do trabalho consistente de instituições e pessoas atuando de forma integrada. Quem sabe não estamos começando um novo ciclo de tecnologias disruptivas em nossa região? ;)
*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de "Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.