Com as pessoas cada dia mais dependentes das tecnologias, fica difícil imaginar um mundo sem celular e internet. Já aconteceu com muita gente o pânico momentâneo de perder o sinal, mas logo ele retorna junto com a sua tranquilidade. Na maioria das vezes, esse é um problema ocasionado pela cobertura ineficiente das operadoras brasileiras, mas esse pode não ser o motivo da ausência de conexão.
Os bloqueadores de sinal de radiocomunicações (BSR) existem e, embora sejam proibidos pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), são vendidos em diversas lojas virtuais ao redor do país. Os modelos mais baratos conseguem inutilizar qualquer aparelho em um raio de 20 metros.
Inicialmente criados para fins militares, esses dispositivos (também conhecidos por jammers, em inglês) foram usados pela primeira vez durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje em dia, eles são utilizados por criminosos, que tentam despistar a polícia e roubar carros (inutilizando o sinal dos rastreadores) e até por escolas para proibir o uso dos smartphones em sala de aula.
É o caso do professor de Engenharia Elétrica do Centro Universitário FEI, Márcio Matthias, que causou uma enorme polêmica em 2013 por usar um jammer. Naquela época, o docente concedeu uma entrevista ao G1 e declarou que o ato tinha a intenção de impedir que seus alunos se dispersassem dos estudos trocando mensagens pelo celular.
Leves, portáteis e muito eficientes, o princípio de funcionamento desses gadgets é simples: ele emite sinais de alta intensidade para impedir a frequência de rádio usada pelos smartphones, o que pode bloquear a conexão 3G e até os sinais de GPS.
Os modelos mais populares, que custam entre R$ 200 e R$ 350, são pequenos e têm apenas três antenas e uma bateria interna recarregável. Eles são capazes de bagunçar três faixas de frequência distintas: 800-900 MHz, 800-1900 MHz e 2,1-2,2 Ghz, o que é suficiente para impedir que qualquer smartphone nas proximidades receba dados de voz ou de internet GSM, 3G e Iden (tecnologia utilizada pela Nextel).
Durante uma pesquisa realizada pelo TecMundo, foram encontrados também modelos mais avançados à venda, com quatro ou mais antenas, capazes de abranger uma área de até 100 metros quadrados. Essas versões, que podem passar dos R$ 2 mil reais, diziam interferir em sinais de GPS (1500-1600MHz, 1200-1230MHz, 1250-1280MHz e 1170-1180 Mhz).
As frequências usadas no Brasil para a tecnologia 4G LTE são as de 700 MHz e 2,5 GHz, que ainda não são bloqueadas pelos BSRs. Segundo o TecMundo, o funcionamento dos aparelhos são simples e basta conectar as antenas nas respectivas saídas das frequências que deseja poluir para a mágica acontecer.
O site encontrou alguns aparelhos sendo vendidos no Mercado Livre, mas não obteve resposta dos vendedores sobre a legalidade dos produtos. A loja SuplementosAqui, que comercializa vários jammers portáteis a partir de R$ 1,2 mil, afirmou por telefone que os produtos não são homologados e a responsabilidade de seu uso é dos clientes.
Já a Loja do Detetive, também contactada pelo TecMundo, oferta alguns bloqueadores a partir de R$ 1,7 mil, mas afirmou que os gadgets não são mais comercializados e "já deviam ter sido removidos" do e-commerce.
Procurada pelo site, a Anatel afirmou que os bloqueadores de radiocomunicações só podem ser utilizados em presídios, conforme determinado na resolução nº 308 de 11 de setembro de 2002. "A utilização de BSRs fora das condições estabelecidas pela resolução prejudica os usuários dos serviços de telecomunicações e é considerada atividade clandestina de telecomunicações", ressaltou o órgão.
De acordo com a lei nº 9.472 de 1997, o indivíduo que praticar atividades clandestinas de telecomunicações pode ser punido com detenção de dois a quatro anos e multa de até R$ 10 mil reais. (Com informações do TecMundo)