O tarifaço de 50% imposto pelo governo dos Estados Unidos aos produtos importados do Brasil, em vigor desde a última quarta-feira (6), expôs a vulnerabilidade das economias dos municípios paranaenses às oscilações do mercado externo.
Para muitas cidades, especialmente as de pequeno e médio porte, a economia local é sustentada por um ou poucos setores produtivos. Com a falta de diversificação, quando um mercado importante como o dos EUA aplica tarifas elevadas, a cadeia de exportação é prejudicada e as consequências se espalham rapidamente, causando um efeito em cascata.
Um dos setores paranaenses mais afetados pelo tarifaço de Donald Trump é o madeireiro. Na pauta das exportações brasileiras aos Estados Unidos, o item madeira, carvão vegetal e obras de madeira ocupa o sétimo lugar no ranking, com uma participação de 3,93%. Em 2024, as vendas ao mercado norte-americano somaram quase US$ 1,6 bilhão.
Do total de produtos de madeira vendidos pelo Brasil aos EUA, cerca de 43% saíram das indústrias do Paraná. Em movimentação financeira, foram US$ 680,6 milhões no ano passado. O setor madeireiro lidera as exportações do agro paranaense ao país norte-americano. Mais de 90% da produção do Estado vai para os Estados Unidos.
Com a taxação de 50%, o mais alto percentual aplicado pelo governo americano aos países exportadores, a avaliação da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente) é que as indústrias brasileiras ficam “fora do jogo”. Além de encarecer os produtos, o país perde competitividade, uma vez que nações concorrentes com o Brasil estão com uma tarifa bem mais baixa. Um exemplo é o Chile, taxado em 10%.
Com uma população que não chega a 17 mil habitantes, Bituruna (Sul) tem 87% de sua economia baseada na produção madeireira. O prefeito Rodrigo Rossoni (PSDB), que também é empresário do setor, avalia a situação atual como “desesperadora”.
A taxação é recente e os impactos ainda estão sendo mensurados, mas o prefeito estima que a arrecadação municipal deve encolher em cerca de R$ 1 milhão a partir de setembro. No último mês de junho, o município contabilizou R$ 7,231 milhões em recursos livres.
Do total da receita proveniente da arrecadação com o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), repassada a Bituruna pelo governo do Estado, 44% estão relacionados às atividades industriais, o que corresponde a cerca de R$ 1,2 milhão. E quase o total desses 44% são impostos pagos pelo setor madeireiro. Com menos dinheiro em caixa, a manutenção dos serviços públicos fica comprometida, disse Rossoni, e a tendência é uma redução nos indicadores. “Nossos IDH e Ideb devem cair consideravelmente.”
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