Seu bolso

Usados, porém úteis

18 fev 2010 às 09:00

Ambiente com pouca iluminação e silencioso, estantes repletas de capas gastas pelo tempo e por mãos que um dia folhearam páginas de sonhos ou instruções técnicas; títulos apagados e muitas vezes esquecidos; páginas rabiscadas; declarações de amor ou apenas assinaturas. O cheiro sentido no ar chega a lembrar a infância na casa dos avós, uma mistura de sabedoria e poeira de tempos mais remotos. O ambiente pode não ser o mais recomendado para pessoas que sofram de algum tipo de alergia respiratória. Por mais limpo que seja, sempre é possivel encontrar uma poeira perdida em alguma lombada de livro esquecido na estante.

Esse universo compreendido por peças antigas e outras nem tanto, corresponde aos sebos: lojas especializadas em vender livros, revistas, cd's entre outros objetos que já não são mais desejadas por alguém e acabam encontrando seu destino em lugares como esses.


Em Curitiba existem aproximadamente 20 sebos, os quais abastecem as estantes de colecionadores e blibliófilos, os colecionadores de livros. A procura por essas lojas ocorre pela raridade de alguns exemplares ou até mesmo pelo valor do produto usados, que pode sair até 70% mais em conta que os novos. O médico e membro do Instituto Histórico do Paraná, Carlos Ravazzani, é um dos muitos compradores de livros em sebos. Ele tem uma coleção com 7 mil exemplares, em sua maioria história do Brasil e fundamentalmente do Paraná. ''90% da minha coleção foi comprada em sebos'', admite.


Carioca de nascimento, vive em Curitiba a 47 anos e se defende quando perguntado o por quê de sua paixão pela história do Estado. ''Moro aqui e tenho que conhecer a história daqui, meus filhos nasceram aqui, estudei e trabalho aqui''. Ravazzani costuma gastar com os seus livros uma média de R$ 20, a não ser, é claro, que se trate de um exemplar mais raro ou que ele esteja procurando por algum tempo. ''Não tenho pressa de comprar, a pressa faz com que você acabe pagando mais caro pelo livro. Nesses anos todos de comprador em sebos aprendi a esperar para comprar, assim o preço logo abaixa e o livro fica mais em conta'', ensina.


O preço de um livro no sebo depende e de fatores tais como a sua raridade - data e publicação e número de edições - e procura. A procura por títulos é muitas vezes ligada a listas publicadas em revistas e jornais. Os mais procurados na maioria das vezes são os livros ligados a Ciências Jurídicas e história do Direito. Na área de saúde, os campeões são os manuais de Anatomia.


Sebos virtuais


Ratos de sebo, pessoas as quais buscam raridades em locais específicos podem ser muitas vezes encontrados perdidos entre as prateleiras empoeiradas desses lugares. Cada vez mais raros, eles deixaram de frequentar as lojas porque encontraram outra maneira de garimparem o produto, virtualmente. Atualmente é possível fazer uma pesquisa por um produto raro - ou nem tanto - sem ter que sair de casa. Basta entrar em sites como o ''Estante Virtual'' e fazer uma busca em território nacional, se a opção é de literatura internacional outra forma de busca é o site ''Gojaba.com'', onde é possível espandir a busca mundialmente.


Essas opções fazem com que muitos compradores deixem de ir até os locais e garimparem livros em estantes. ''O dinamismo da internet dimunuiu bastante a frequencia de pessoas até a loja. Muitos procuram o sebo somente para retirar o título, poucos passam tempo procurando livros'', comenta André Luis Ramos, da Livraria Osório, um sebo em Curitiba. A loja é uma das maiores do segmento na Capital, seu acervo conta com aproximadamente 52 mil títulos. Muitos dos títulos que chegam antes de irem as estantes passam por uma inspeção rigorosa. Os reprovados são encaminhados para a recuperação, dependendo do estado de conservação.


''Alguns livros têm que colar a capa, recuperar algumas páginas, além de retirar o pó. Os que não têm mais capa a gente coloca uma nova e só então são enviados para a estante'', conta Ramos. O acervo todo está disponível virtualmente - assim como o de outras lojas -, onde é possível comprar via on-line e ter o exemplar entregue no endereço indicado.


Dentro da loja, em meio as milhares de obras é sempre possível encontrar alguns garimpeiros, consumidores de livros usados. Como é o caso de Denise Fait, estudante de Teatro, que busca nos sebos a oportunidade de trocar seus livros já lidos por outras obras ainda inéditas. ''Não gosto de deixar livro parado, quando termino de ler já procuro trocar'', comenta. Denise afirma não ter apego as obras, mesmo aquelas ganhas, porém sempre há um xodó, um livro de cabeceira, lembra ela.

A economia na compra de um título permite muitas vezes que o consumidor acabe conseguindo comprar outro título. Denise recomenda a pesquisa antes de efetivar a compra pois, segundo ela, ''tem sempre um outro sebo mais em conta''.


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