Desde que entraram para a história do vestuário, as camisetas funcionam como meios de divulgação de ideias, pensamentos, protestos, estilo de vida. Estampar no peito a banda do coração, por exemplo, nunca caiu de moda. Mas hoje é possível encontrar peças que vão além das clássicas camisetas de rock, trazendo muito mais um conceito do que um nome de banda ou a capa de um CD.
Foi da paixão pela música alternativa que nasceu uma grife londrinense que hoje vende suas criações em todo o Brasil, atuando no segmento do indie rock, cujo público gosta de frequentar shows e sair para dançar na cena underground. Quase ninguém conhecia os norte-americanos do Modest Mouse, quando o londrinense Tony Strauss (que morou por seis anos no Japão) achou uma camiseta deles para comprar. Depois de desbotada, Strauss resolveu fazer uma réplica para usar. Para sua surpresa, não conseguiu fazer uma só.
''Descobri que muita gente, assim como eu, queria este tipo de camiseta que era bem difícil de encontrar. Passei então a criar minhas próprias estampas e vender para amigos e pela internet'', lembra o criador da Reverbcity, grife que existe desde 2004.
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Strauss produziu inicialmente 20 camisetas e seus leilões pela internet atingiram em torno de US$ 40 por unidade. Certificou-se então que havia um mercado a ser explorado. A marca se espalhou rapidamente pela rede (mercado livre, fotolog, orkut, flickr, twitter, facebook) e em 2006 lançou o próprio site, que hoje funciona com e-commerce e rede de relacionamentos.
Há um ano a empresa montou um show-room em Londrina e vai inaugurar em junho uma loja na capital paulista, mas ainda tem na internet a sua principal ferramenta de vendas. O público vai dos 15 aos 35 anos. ''Como o conceito da marca se baseia no rock'n'roll lifestyle, a marca acaba seduzindo todas as gerações de pessoas que viveram ou ainda querem viver esse estilo de vida'', observa Strauss.
Além das camisetas focadas em bandas, há peças que estampam filmes do mesmo gênero (''High Fidelity'', ''Edukators'', ''Juno'') e outras que trazem temas relacionados à música. Na linha de bandas, ''Oasis'' e ''Artic Monkeys'' estão entre as campeãs de vendas. Em relação aos modelos, há básicos e ''fashions'', masculinos e femininos, em malhas diferenciadas.
A produção é sempre em quantidade limitada: entre 100 e 300 peças, dependendo da banda. Isso para os consumidores não correrem o risco de encontrar muita gente com o mesmo visual na mesma festa. Quem quiser mais camiseta tem que esperar o grupo lançar um novo CD para que seja estudada a possibilidade de se criar uma nova estampa.
Strauss conta que toda a equipe da Reverbcity ouve rock o dia inteiro e está antenada com o que acontece no cenário da música e da moda. A regra é clara: a banda que não é admirada por eles nunca vai estampar uma camiseta. ''Para cada nova coleção, preparamos um briefing detalhado com letras marcantes de músicas, imagens, paleta de cores específica e referências que orientem nossos designers na criação das estampas'', explica Strauss.
A produção hoje está em torno de 1,5 mil a 2 mil unidades/mês. A média de preços fica entre R$ 40 e R$ 55 cada. Na compra pela internet, o frete é pago pelo consumidor e varia de R$ 7 a R$ 20, dentro do Brasil. ''Não vendemos para o exterior por causa da alta taxa do frete, que chega a R$ 50'', diz Strauss. Ele informa, porém, que existem planos de exportação e ampliação dos itens produzidos pela empresa.
Gosto musical influencia a compra
O gosto pela música que dificilmente toca em rádio é o que une o público que compra camisetas inspiradas em bandas alternativas. ''Como são bandas não muito conhecidas, é difícil de achar camiseta. Quando você encontra, fica muito feliz'', conta a funcionária pública Angela Moryama, uma consumista assumida que tem ''umas 40'' peças nesse estilo.
Quando encontra um modelo de uma banda que gosta, ela costuma levar vários iguais. ''Compro até quatro e faço várias customizações. Também acho que é um bom presente. Nos últimos dois anos, só dei camiseta de presente para os amigos'', conta. Assim como muitas pessoas que fazem parte desse público, Angela não leva para a casa uma peça de uma banda com a qual não tem afinidade, mesmo se gostar da estampa.
A fisioterapeuta Gisleine Bedendo também é adepta das camisetas inspiradas na música alternativa. ''Acho interessante, pois as estampas são bem diferentes. Já comprei peças pela beleza e estilo, não só pela banda'', conta. Já houve caso em que ela adquiriu o modelo porque gostou do desenho e acabou virando fã da banda, que até então não conhecia.
Gisleine observa que usar esse tipo de roupa também acaba facilitando a aproximação de pessoas da mesma ''tribo''. ''Uma vez estava andando em São Paulo e uma menina começou a apontar para a minha camiseta. Depois, acabamos nos encontrando por acaso num show e ela me contou que era fã daquela banda'', diz.