Uma ideia que surgiu entre a população de dois bairros de Cambé está ganhando novos rumos. No início do ano a Associação de Moradores dos Jardins Tarobá e Casagrande começou a fazer sabão para incentivar as famílias a reciclarem o óleo de cozinha. Os estudantes do curso de Marketing e Propaganda da Universidade Norte do Paraná (Unopar) encamparam o projeto e desenvolveram estratégias para colocar o produto no mercado. Nasceu o Ecobão, um sabão líquido ecológico, que ajuda a preservar o meio ambiente, gera recursos para a manutenção dos bairros e ganha a cada dia mais consumidores.
O produto está em cinco minimercados daquela região da cidade e custa R$ 2 a embalagem de dois litros. Do valor, R$ 0,30 ficam com os comerciantes e o restante vai para a associação. O dinheiro ajuda a entidade a fazer benfeitorias no bairro, como campo de futebol, gramado na praça, bancos em pontos de ônibus, reforma da casa comunitária, entre outros serviços. O mais importante, porém, é que os moradores estão aprendendo a reciclar o óleo de cozinha e, consequentemente, tendo acesso a um produto barato e eficaz.
''Temos uma freguesa que começou comprando uma e hoje leva quatro embalagens de sabão quando faz compra. Ela até deixou de levar outras marcas'', conta Magali Barreto Buccioli, proprietária do Mercado Avenida, no Jardim Tarobá. Ela vende o Ecobão há seis meses e diz que o produto tem boa aceitação. ''O pessoal está cada vez comprando mais. Os poucos sabões líquidos que existem no mercado são muito caros. Esse cumpre a função, é um multi-uso, os consumidores usam para os mais diversos fins'', afirma a comerciante
A auxiliar odontológico Vanderléia Robusti é uma consumidora do sabão ecológico que ajuda a produzir com a reciclagem do óleo de cozinha. ''Comprei uma vez até agora e gostei. Rende muito, espuma bastante e limpa bem. Uso para lavar guardanapos e tapetes'', conta. Vanderléia diz que ela e sua mãe reciclam não somente o óleo, mas diversos materiais que são recolhidos pela associação. ''Conheço bastante gente daqui que compra o sabão, principalmente para ajudar (a arrecadar recurso). O bairro está melhorando muito depois dessas ações'', diz.
Para os universitários, a vantagem é experimentar na prática as etapas do lançamento de um produto. O trabalho envolveu pesquisa de mercado, desenvolvimento de produto, estratégias de marketing, peças publicitárias e criação de rótulo. Para chamar a atenção em meio aos demais produtos de limpeza, o Ecobão foi para os mercados acompanhado de banner e um display. Para envolver a comunidade no projeto, foi elaborada uma cartilha falando da importância da reciclagem do óleo de cozinha e feita uma pesquisa para identificar as dificuldades e necessidades dos moradores.
''Constatamos, por exemplo, que muitos não sabiam o que fazer com o óleo de cozinha. A própria pesquisa já serviu para chamar a atenção para o produto'', conta Edson Onofre Júnior, um dos alunos do curso de Marketing e Propaganda envolvidos no projeto e também morador do Jardim Tarobá. Foi ele que sugeriu aos colegas de turma o produto como objeto de estudo. ''O projeto estava nascendo no bairro e achamos bem interessante a ideia, já que na faculdade trabalhamos com o enfoque do desenvolvimento sustentável'', destaca Flávia Pellissari Pomin Frutos, coordenadora do curso.
Além do nome e do rótulo, os estudantes padronizaram as embalagens do sabão. ''O objetivo é que sejam garrafas pet, por serem recicláveis e mais fáceis de se conseguir junto à comunidade, mas por enquanto estão sendo usadas também outras embalagens'', conta Onofre Júnior.
Ideia pode ser levada a outros bairros
O sabão líquido ecológico produzido pelos moradores de Cambé é feito com óleo de cozinha reaproveitado, água, soda e álcool combustível. A produção é coordenada pelo presidente da Associação de Moradores dos Jardins Tarobá e Casa Grande, Laudisio Hrescak, que recolhe o óleo e demais produtos recicláveis entre os moradores. ''Produzimos de 80 a 100 litros (de sabão) por mês e sai tudo. Mas o objetivo é aumentar. A proposta, é claro, não é concorrer com as grandes marcas (de sabão) do mercado, mas envolver a comunidade na questão da reciclagem do óleo de cozinha para preservar o meio ambiente'', diz Hrescak.
Depois de encampado pela Unopar, o projeto foi apresentado à Prefeitura e à Câmara de Vereadores da cidade, que mostraram interesse em apoiar a criação de uma cooperativa para ampliar o trabalho. ''A ideia é que todas as associações de bairro do município se envolvam. Na prática, haveria um único ponto de fabricação e vários pontos de coleta (de óleo de cozinha), com a renda revertida para a cooperativa e também para as associações'', diz Edson Onofre Júnior, da equipe de alunos da Unopar. Ele informa que um profissional de química da região já se dispôs a melhorar o sabão ecológico com a adição de uma essência.