Fase de aprovação
Dar a volta ao mundo num avião fretado, voar de caça russo em Moscou, passear de Ferrari pelas ruas de Nova York, percorrer a mítica estrada de ferro Transiberiana ou se aventurar de moto pela Route 66, nos Estados Unidos. Roteiros dos sonhos de muitos - mas para o bolso de poucos - são o foco de algumas agências de viagem atualmente. Elas atendem os chamados clientes vip, que não sabem o que é vasculhar a internet atrás de promoções e costumam gastar acima de US$ 10 mil por viagem. É um público que responde por 25% do faturamento do turismo no mundo.
O consultor de viagem Ricardo Okada, da agência Continental Tour, em Londrina, tem essa clientela como foco e organiza roteiros de acordo com os desejos do consumidor. Do total, 40% são de Londrina e região e o restante de outros Estados. Na lista, também há gente de fora do país, que se interessa, por exemplo, por pesca esportiva no Brasil. Para estes, uma das opções é pescar Marlin Azul em Ilhéus (BA).
Dois dias de pesca custam R$ 5 mil por pessoa, desde que o barco saia com lotação máxima, que é de quatro passageiros. Se o turista for sozinho, paga o valor integral do pacote: R$ 20 mil. ''O Marlin É um peixe que mergulha até o fundo do mar para oxigenar, e exige equipamentos de pesca específicos e muito caros. O pacote inclui a locação desses equipamentos'', conta Okada. Na Amazônia, a locação de um barco para grupos de 10 a 12 pessoas pode custar R$ 90 mil.
Com 20 anos de experiência em turismo, Okada conhece várias partes do mundo e usa esse diferencial para indicar o que existe de melhor em cada país. No caso de grupos, ele costuma viajar junto. Para os demais, roteiriza a viagem com todos os detalhes. O turista paga para não se preocupar com nada. ''Se der um problema com a água do chuveiro do hotel, por exemplo, eles ligam para mim e não na recepção do hotel. Nem que seja de madrugada'', conta.
A função do consultor, muitas vezes, é customizar a viagem. ''Tem gente que tem sonho de dirigir uma Ferrari. Então, já sai daqui com a locação do carro agendada. Nos Estados Unidos, são 3 mil dólares por 24 horas, fora o combustível'', revela. Além da Ferrari, ele diz que o Lamborghini também exerce fascínio sobre os turistas mais jovens. Há ainda os que preferem o glamour de um passeio a bordo de um iate no Caribe ou na Riviera Francesa. Neste caso, são US$ 70 mil por semana. Para o mês que vem, Okada está organizando uma viagem para um casal com direito a voo de caça em Moscou (leia nesta página).
Para quem sonha com a volta ao mundo, uma opção ''vip'' é agendar um lugar num boeing 757, com capacidade para 70 pessoas, que passa pelos Estados Unidos, Peru, Ilha de Páscoa, Polinésia Francesa, Camboja, Egito, Tanzânia, Marrocos, Índia e Austrália. O pacote dura 24 dias e custa US$ 55 mil por pessoa. ''É um grupo anual. Se a pessoa se interessa, nós a encaixamos. Trata-se de um roteiro bem corrido com tudo muito bem planejado. Onde os turistas descem, já tem gente esperando'', relata.
Para os mais aventureiros, uma boa dica é percorrer de moto a Route 66, nos Estados Unidos, cenário de diversos filmes no cinema. O roteiro com duração de 14 dias custa US$ 5 mil por pessoa, incluindo a locação da moto. ''É um roteiro, geralmente, para quem tem mais de 40 anos. Percorre-se por dia 300 quilômetros de moto, com pernoite em hotéis de beira de estrada. Vai um carro de apoio'', diz Okada, que está organizando um grupo para setembro.
Os aficionados por lutas podem integrar os grupos que saem do Brasil para assistir aos campeonatos de ''vale-tudo'' nos Estados Unidos. Apenas os ingressos custam em média US$ 500. ''Tem muita gente que gosta. Todo mês têm lutas com lutadores importantes'', conta o consultor.
Apesar de lidar com um público tido como ''AAA'', que não economiza em viagem, Okada ressalta que a preocupação com os valores é fundamental. ''São pessoas que têm dinheiro, mas não são esbanjadoras. Gostam de pagar pelo que é bom e sabem o quanto isso custa. Por isso, a nossa responsabilidade é enorme'', afirma.
Aventura a bordo de um caça russo
Voar num caça russo é um sonho que o empresário londrinense Valcir Lopes de Aguiar pretende realizar no mês que vem, quando viaja para o Leste Europeu junto com a esposa, Gisele Stivanin Aguiar. ''Já conhecemos muitos lugares no mundo. Fizemos, digamos, o tradicional, e há uns quatro anos partimos para os roteiros mais diferenciados'', conta ele. O empresário está disposto a pagar US$ 22,7 mil por um voo de 40 minutos ou até US$ 25,2 mil por um pacote de três dias (incluindo acrobacias e o voo). Trata-se de uma aventura a 3 mil quilômetros por hora, quebrando a barreira do som.
Aguiar está fazendo todos os exames de saúde necessários para saber se está apto a voar. ''São exames clínicos e físicos feitos aqui e outros lá (em Moscou). Eu me sinto muito bem fisicamente e não tenho medo. Espero conseguir. Desde a época do Top Gun (filme ''Top Gun - Ases Indomáveis'') tenho esse sonho'', diz.
Para o próximo ano, o casal planeja uma viagem pela mítica estrada de ferro Transiberiana. ''Já pesquisei: são 10 mil quilômetros em um mês de viagem, de Moscou a Pequim. É uma aventura maravilhosa'', diz Aguiar. Ele conta que a esposa é a sua ''grande companheira'' nos roteiros, mas não deve chegar ao extremo de voar de caça. ''Já criamos os filhos e trabalhamos bastante. Ainda tocamos nossos negócios, mas dedicamos boa parte da vida às viagens. Essa vivência é a única coisa que ninguém tira de você. Já reforçamos o nosso patrimônio e agora podemos curtir'', diz o empresário, que atua no mercado financeiro.
Miami é destino para compras de luxo
Outro nicho que cresce no setor de turismo para ''vips'' são os roteiros direcionados para compras no exterior. Miami é um dos destinos preferidos. Neste tipo de viagem, um guia acompanha o grupo, levando os integrantes a pontos estratégicos para suas compras. O consultor Ricardo Okada vai acompanhar um grupo em maio para 15 dias em Miami e Orlando. ''O roteiro é traçado antes, com base no interesse das pessoas. Assim, ninguém perde tempo e aproveita melhor a viagem'', diz. O pacote está orçado em US$ 3 mil por pessoa, incluindo passagens aéreas, hospedagem, locação de carro e a ida a Disney. Só fica de fora a refeição.
O casal de empresários André e Luciani Becegato integra o grupo que viaja em maio para Miami/Orlando. ''Escolhemos essa opção de roteiro porque vamos acompanhados de quem já conhece o lugar e sabe onde levar o grupo. Teremos liberdade de fazer nosso próprio roteiro e não aquele padrão pré-determinado pelas agências'', diz André. O preço, segundo ele, é praticamente o mesmo de um pacote tradicional.