Ficou provado que, em época de epidemia da gripe A (H1N1), alguns hábitos precisaram ser modificados e muitos planos cancelados. Com a recomendação das autoridades em saúde de evitar aglomerações e também a ''onda'' de boatos que circularam sobre o iminente fechamento do comércio, as saídas ''evitáveis'', como a shoppings e restaurantes, acabaram sendo adiadas. Mas, e quanto àquelas que não podiam ficar para depois?
O Sistema Fecomércio-Sesc-Senac fez uma análise dos efeitos que a nova gripe está provocando no comércio varejista e no setor de serviços do Estado. Foi percebido que as vendas por internet tiveram um estímulo adicional, já que o consumidor pode permanecer dentro de casa enquanto faz suas compras. Segundo o consultor econômico do órgão e um dos responsáveis pela pesquisa, Vamberto Santana, o aumento expressivo nas vendas dos mercados que oferecem serviços de delivery foi claramente percebido na comparação entre julho e agosto.
De acordo com Santana, um fator que ajudou a alavancar as compras on-line, e também pessoalmente, nos supermercados paranaenses foi o consumidor ter deixado de comer em restaurantes, priorizando as refeições dentro de casa.
Na rede de supermercados Super Muffato o movimento é confirmado pelos números de pedidos ao serviço de delivery. Em Londrina, um comparativo feito entre a primeira quinzena de julho e a primeira de agosto mostra um aumento de 50%. Na Capital, a diferença chega a 100% e em Campo Mourão passa de 200%. No site da rede é possível conferir marca dos produtos, preço e ainda calcular quanto vai pagar. As compras são entregues separadas e embaladas.
A diferença sentida pelo Muffato para essa modalidade de venda também é realidade nas outras redes que oferecem o serviço de entrega em domicílio. De acordo com o superintendente da Associação Paranaense de Supermercados (Apras), Valmor Rovaris, o aumento, dependendo da cidade, fica entre 50% e 200%. ''Esse tipo de venda representava cerca de 1,5% do faturamento do setor. Mas, com a maior procura, pode chegar a 5%, o que passa a ser muito significativo'', explica.
Na rede Pão de Açucar, na qual o crescimento já vinha sendo consistente, a procura também foi mais expressiva nos últimos meses. ''No Paraná, o aumento foi forte nas últimas três semanas em função da nova gripe, que levou as pessoas a sairem cada vez menos de casa'', explicou o gerente nacional de Delivery da rede, Fabrício Ferreira. Comparando o período atual com o ano passado, a diferença ficou entre 40% e 50% para mais.
Para Santana essa mudança, ainda que forçada por uma situação como a da epidemia, incentiva novos hábitos não só do consumidor, mas também da empresa ou comércio. ''Já é possível perceber que as lojas estão tendo mais cuidado na embalagem para a entrega e alguns entregadores vão até a casa do cliente usando máscara'', afirma.
Rovaris garante que as empresas estão preparadas para enfrentar o aumento da demanda. ''Já percebíamos que essa é uma tendência que cresce ano a ano. Mas, nas últimas três semanas o crescimento foi mesmo expressivo''.
Ainda segundo a pesquisa da Fecomércio, houve um sensível aumento no número de pedidos de alimentação por telefone, principalmente junto a pizzarias.
Comodidade que gera economia
A praticidade de encomendar as compras do mês pela internet levou a jornalista Patrícia Constanski, 35 anos, a buscar o serviço de delivery dos supermercados curitibanos. Mas o que ela não esperava era a economia no fim da conta, justamente por poder se manter na lista de compras organizada e fugir das ‘promoções tentadoras’.
‘Levo cerca de 2h30 para escolher bem e comparar os itens e preços. Quase o mesmo tempo que eu levava na loja. Antes, eu gastava em torno de R$ 400 a cada compra. Diminuiu quase R$ 100. E a praticidade de receber em casa, tudo embalado e fresquinho, por uma taxa de entrega modesta, faz valer muito a pena’, conta.
Ela diz que já experimentou o serviço de três supermercados da Capital e a maior queixa é a falta de variedade de alguns produtos, em comparação com a oferta nas lojas. ‘Já aconteceu de esquecerem um item no caminhão ou faltar um produto que saiu do estoque desde o pedido. Mas, sempre foram corretos em trazer o item esquecido depois ou devolver o valor do produto indisponível’.
Segundo Fabrício Ferreira, da rede Pão de Açucar, já são 15 mil itens disponíveis para a compra online. ‘A maior vantagem desse serviço é, sem dúvida, a comodidade. O entregador pode levar os produtos na despensa do cliente, se ele preferir. E com horário marcado’.
Mas, até a cliente habitual sentiu a diferença em tempos de gripe A. ‘Antes o prazo de entrega era de 24 horas. Da última vez que comprei já estava em três dias’, comenta Patrícia. E conclui: ‘além de tudo, é muito fácil. Qualquer dona de casa vai entender o mecanismo tranquilamente’.