Sucesso entre os jovens e esportistas, a pulseira bioquântica, mais conhecida como 'pulseira do equilíbrio', teve sua divulgação suspensa e restrita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no início de mês.
Empresas que vendem o produto estão proibidas de fazer qualquer menção nas propagandas aos supostos efeitos e propriedades terapêuticas garantidos pelo fabricante, já que nada foi comprovado cientificamente. Apesar da proibição, a comercialização da pulseira continua permitida.
O produto promete maior estabilidade, alinhamento do fluxo energético, alívio de dores e melhora na circulação sanguínea. Isso tudo devido à frequência de seus hologramas, que interagiriam com o campo eletromagnético do corpo humano para equilibrar a energia da pessoa, melhorando a capacidade física e mental.
Esse é mais um das dezenas de produtos com imãs que prometem oferecer benefícios à saúde em decorrência do magnetismo. Feiras e lojas de artigos de saúde vendem garrafas que dizem imantar a água, o que ajudaria na eliminação dos metais pesados. Colchões e travesseiros são oferecidos com imãs espalhados, que teriam o poder de ativar a circulação e tirar a dor. Na lista de produtos entram ainda palmilhas, máscara de dormir, cintas compressoras, massageadores e até mesmo lingeries com pequenos pedaços de imãs.
Em uma busca pela internet é possível encontrar fabricantes que, com forte apelo comercial, prometem outros benefícios, inclusive a cura de doenças. Um colchão com uma manta de imãs, diz que o produto atuaria no aumento da ação anti-inflamatória, controle da pressão alta e baixa, prevenindo infarto e derrame. Os mais ousados sugerem até mesmo cura do câncer.
Magnetismo
Erroneamente propagado pelos fabricantes, os imãs destes produtos produzem apenas um campo magnético e não ''eletromagnético''. ''Para se produzir um campo eletromagnético é necessário ter carga elétrica, que nestes casos não existe. Magnetismo e eletromagnetismo não são sinônimos'', explica o professor de física da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Eduardo Di Mauro.
Segundo ele, o campo magnético nada mais que orienta todos os elétrons de uma determinada matéria para a mesma direção. ''Os elétrons ficam todos espalhados pela matéria. Quando aproximados a um imã - material que naturalmente tem seus elétrons na mesma direção - também têm seus elétrons da mesma forma. Por isso que algo metálico 'gruda'. Diferente da madeira e do corpo humano, que é diamagnético, ou seja, praticamente não produz campo magnético'', ressalta. ''O que sabemos é que os vasos sanguíneos têm partículas carregadas de carga. Quando o imã é colocado, ocorreria uma orientação relâmpago dos íons por conta desse campo magnético, que podem desviar, acelerar ou desacelerar os tais íons. Mas é apenas isso'', acrescenta o professor.
Aporte de nutrientes às celulas
Para o presidente do Colégio Médico de Acupuntura do Paraná, Mauro Carbonar, os produtos com os imãs podem estimular na migração dos íons de nosso organismo. ''Nossas moléculas estão sempre se recompondo eletroquimicamente. E os imãs podem ser facilitadores dessa recomposição, melhorando o aporte de nutrientes e removendo os resíduos catabólicos das células'', explica.
Contudo, o médico faz questão de frisar que se trata de um auxílio complementar e que, em hipótese alguma, pode ser substituído pela medicina tradicional e muito menos preterir um diagnóstico. ''Se a pessoa acha que faz bem, sem problemas. Mas quem usa deve ficar atento, já que o estímulo em pontos que não precisam ser estimulados pode justamente causar um desconforto.'' Conforme ele, pessoas com problemas cardíacos, neurológicos e marcapasso não devem se expor a esses produtos.
'Água não se magnetiza'
Procurado por um fabricante de garrafas com imãs em 1997, Eduardo Di Mauro fez uma pesquisa sobre a água colocada em exposição ao campo magnético do produto. ''A primeira coisa que orientei a empresa foi de não colocar referências a água imantada, já que ela não se magnetiza'', lembra.
Apesar disso, o estudo revelou que a água colocada na garrafa apresentou sais minerais menores. ''O diâmetro das partículas tinha diminuído, já que os sais estavam mais dissolvidos que a água que não foi colocada na garrafa. Mas se isso teria uma propriedade terapêutica, já é uma outra história.''
Sobre a pulseira do equilíbrio, o professor é enfático: ''O fato de a pessoa não se desequilibrar com o uso do acessório não tem nenhuma relação com a física. Os imãs não teriam esse ''poder''. Mas estou disposto participar de estudos sistemáticos para comprovar os reais efeitos dessa pulseira'', declara.
'Não há efeito biológico'
Se pequenos imãs seriam suficientes para melhorar a saúde, quem está exposto diariamente a esses campos, como técnicos de radiologia, estaria imune de qualquer enfermidade? De acordo com o radiologista Omar Taha, o que precisa ficar esclarecido é que existem dois tipos de radiação: as ionizantes e não-ionizantes.
''No caso da primeira, existe o raio-x, que hoje sabemos que não devemos nos expor diretamente com frequência, sob riscos de saúde. Já a segunda radiação, as não-ionizantes, existem as elétricas (intensidade variável), magnéticas e eletromagnéticas (campos emitidos por aparelhos como micro-ondas e celulares)'', pontua.
As radiações magnéticas, como o próprio nome diz, são resultado de um campo magnético. ''Temos o exemplo do aparelho de ressonância. Pessoas expostas a ele não sofrem efeito biológico algum, seja ele positivo ou negativo, tanto que até mulheres grávidas podem se submeter ao exame'', ressalta.
As eletromagnéticas, por sua vez, já tem sido alvo de investigações e estudos, mas sobre os prejuízos e não propriedades terapêuticas. ''Há documentos que relatam sobre a preocupação com a exposição tanto a campos elétricos e eletromagnéticos. Ainda assim, não existe comprovação sobre os eventuais malefícios.''