Curitiba pode se orgulhar de ser uma cidade antenada com os novos tempos, pelo menos na área de alimentação e qualidade de vida. Como em muitas cidades de Primeiro Mundo, na capital paranaense já é possível encontrar grande variedade de produtos orgânicos, de alimentos a roupas e produtos de higiene e beleza. Além das nove feiras livres já existentes, quem busca essa alternativa mais saudável e ecológica de consumo dispõe de mais uma opção: o Mercado de Orgânicos, inaugurado há pouco mais de um mês. Totalmente novo, o espaço é anexo ao tradicional Mercado Municipal de Curitiba.
Consumidores não faltam. A Prefeitura informa que até o fim desse ano pretende ampliar para 14 o número de feiras-livres que comercializam orgânicos, facilitando ainda mais o acesso a esses produtos. Porém fica uma dúvida no ar. Vale mais a pena comprar nas feirinhas de rua ou ir ao novo mercado? A reportagem da FOLHA foi a campo pesquisar e descobriu que, em termos de preço, há diferença. Nas feiras livres, itens como verduras, legumes, compotas, sucos e ovos são mais baratos. Mas a diferença é pequena.
Cabe ao consumidor decidir se compra na feirinha mais próxima de casa ou no Mercado de Orgânicos. A diferença básica está na variedade. O setor novo do Mercado Municipal oferece, além dos produtos encontrados na feira-livre, opções diferentes como peças de vestuário, produtos cosméticos e itens alimentícios importados. Há também a questão do conforto. Banheiros novos e praça de alimentação com restaurante orgânico, lanchonete e café estão presentes no Mercado de Orgânicos, além da facilidade do estacionamento.
Leia mais:
Prefeitura quer beneficiar contribuintes em dia no IPTU com descontos progressivos
Associação de Voluntários do HU promove bazar beneficente
Shopping de Londrina fará liquidação fora de época com descontos de até 70%
Bazar em Cambé venderá roupas a partir de R$ 2
Para quem gosta, porém, nada substitui a fidelidade ao feirante preferido. No mercado novo, a sensação ainda é de vazio - há boxes não ocupados e poucos clientes durante a semana. Também predomina uma certa frieza asseptica, pois tudo é recém-inaugurado e pintado de branco. Na feira, o clima é de rua mesmo. Como acontece em toda feira-livre, as orgânicas também possuem clientes conhecidos, que comparecem toda semana. As barracas ainda oferecem aquele charme adicional da possibilidade de barganhar, ganhar brinde e bater papo com o feirante.
A feira da Praça do Expedicionário, que acontece toda quarta-feira pela manhã, é pequena - mas tem movimento garantido. Muita gente vai se abastecer ali, a poucas quadras do novíssimo Mercado de Orgânicos. O feirante Wagner Mendes, que também é produtor - o que é comum nessas feiras - conta que tem clientela fiel, embora não muito numerosa. De acordo com ele, a feira orgânica dos sábados, no Passeio Público, é bem agitada. ''É mais conhecida'', observa Mendes, que participa das duas. A feirinha do Passeio foi a primeira a funcionar em Curitiba. Precursor da produção orgânica, o engenheiro agrônomo Mauricio Burmester do Amaral, que conseguiu a implantação dessa primeira feira-livre especializada e já é falecido, foi homenageado na inauguração do Mercado.
Graças ao trabalho pioneiro de Burmester, gente como Wagner Mendes se volta para a produção orgânica com mais segurança. Ele cria 500 galinhas soltas, como mandam as regras biodinâmicas, para vender os ovos em feiras. A chácara, em Mandirituba, na região metropolitana de Curitiba, vai crescer. Mendes pretende ampliar a produção de ovos caipiras e fornecer para mercados e outros pontos comerciais. ''Estamos fazendo tudo direitinho conforme as regras e logo vamos receber certificação'', comemora o produtor, antevendo bons negócios.
No Mercado de Orgânicos, tudo é muito recente, mas a expectativa também é de crescimento. Mariana Toyama, da loja Organique Essentiel, conta que no fim de semana o movimento é grande. Há os consumidores que conhecem e buscam os produtos orgânicos, e muitos que chegam curiosos, perguntando e querendo entender a diferença para os demais. Na loja onde Mariana trabalha há uma variedade incrível de produtos, entre chocolates, compotas, sucos, conservas e outros alimentos. Os preços são mais altos em relação aos itens não-orgânicos, mas de acordo com ela, cada vez mais gente está optando por essa alternativa saudável. ''Atendemos desde jovens que moram sozinhos até famílias inteiras. Gente de todas as idades'', conta.
O QUE SÃO ORGÂNICOS
Mercado oferece variedade grande de produtos, entre chocolates, compotas, sucos, conservas, entre outros
• Produtos orgânicos são resultado de um processo de cultivo e produção sustentável, que envolve o uso adequado da terra e dos recursos naturais. É uma forma natural de produzir verduras, frutas e outros alimentos ou matérias primas, sem o uso de agrotóxico e outros químicos, sementes geneticamente modificadas, conservantes, corantes e antibióticos. Além de ser mais limpa, a produção orgânica também é socialmente mais justa e favorece o pequeno produtor rural.
Como são feitas as confecções com algodão orgânico
• O fio é tecido em teares manuais e algumas indústrias têxteis fabricam o brim (para as calças jeans), o linhão (usado em bermudas) e a tricoline (para camisas);
• As coleções apresentam características mercadológicas especiais, distintas do mercado tradicional de moda, nos aspectos de comportamento de compra, tendências nas linhas de produto, níveis de preço, sazonalidade, canais de distribuição e comercialização, dimensão dos maiores mercados consumidores. Assim, o algodão ganha sofisticação e entra para o mercado nacional e estrangeiro;
• A confecção das roupas está nas mãos de artesãos das pequenas empresas do setor, portanto fora dos padrões da indústria convencional. É também um aspecto fiscalizado quando da certificação, já que um dos critérios da produção biodinâmica é também a geração de renda na região.
MERCADOS E FEIRAS TRAZEM PRODUTOS DIVERSIFICADOS
Inaugurado em 12 de fevereiro, o mercado tem 3.700 metros quadrados, com dois pisos e estacionamento. Entre os pontos já instalados e funcionando, estão duas lanchonetes, um restaurante, três mercearias, um açougue, uma loja de artesanato, uma loja de cosméticos, uma loja de confecção e oito bancas de vegetais e produtos processados. Todo o comércio dentro do mercado conta com certificação orgânica, feita por instituições como o Instituto Biodinâmico (IBD) e o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). São dois tipos de certificação, para os produtos e para as lojas.
O piso superior do Mercado de Orgânicos tem um anfiteatro, projetado para abrigar cursos e reuniões para lojistas, agricultores e empresários. O objetivo é estimular rodadas de negócios orgânicos. Há também uma cozinha completa, especialmente montada para cursos de culinária. O espaço foi inaugurado recentemente com aulas para 30 alunos do curso de Chef de Cozinha da escola Centro Europeu. O uso dos espaços por terceiros é feito mediante pedido e aprovação da Secretaria do Abastecimento.
Feiras livres
A Prefeitura de Curitiba informa que a Secretaria Municipal do Abastecimento coordena as feiras orgânicas em nove pontos da cidade. Atualmente, 48 famílias de agricultores de 11 municípios da região metropolitana são beneficiadas com a venda direta nesas feiras, que comercializam 470 toneladas de produtos por ano.
Além disso, nos 19 municípios próximos a Curitiba, são cultivados 553 hectares de área de lavoura orgânica, envolvendo um total de 430 famílias de agricultores. A cultura mais comum é de hortaliças, com produção anual de 3,8 mil toneladas, que corresponde a cerca de 40% da produção de hortaliças orgânicas cultivadas no Estado.