A idéia do forno e fogão a lenha, fumegando, com um belo prato saindo quentinho está no imaginário de muita gente, seja pela experiência vivida na zona rural ou pelo relato das histórias dos avós. Antigamente usados por necessidade e economia, tais produtos viraram sonho de consumo mesmo de quem não tem raízes rurais. O mercado oferece tanto opções modernas quanto no estilo retrô.
O surgimento de lojas especializadas com parceria com arquitetos ajudou a disseminar o uso de fornos e fogões a lenha em áreas de lazer. A empresária Liane Nunes Bueno entrou no setor em Londrina há 14 anos, quando essa tendência já era forte nos grandes centros, mas não no interior. No início dos anos 2000, porém, a procura começou a aumentar.
''Hoje é uma tendência na nossa região ter o forno e o fogão a lenha, além da churrasqueira, na área de lazer. No início, era só em chácara, mas agora as pessoas instalam também em casas na cidade e apartamentos'', diz Liane, da empresa Lazer ao Ponto. Ela observa que o público desses produtos é ''mais de 90%'' masculino. ''Tem a ver com o comportamento dos homens na cozinha, aquilo de receber amigos, ir tomando cerveja enquanto cozinha, sem pressa''.
O mercado oferece opções de forno e fogão a lenha separados e também conjugados, incluindo a churrasqueira. A fumaça não é empecilho porque junto são instaladas coifas e chaminés. O material mais usado é concreto refratário, que pode ser revestido de cerâmica imitando tijolos ou então ser entregue só no acabamento para a pessoa dar a cara que quiser. As lojas especializadas oferecem também a mão-de-obra para instalação, incluindo pia, balcões.
Aquele forno tradicional, tipo iglu, vem com portas de ferro ou inox - as portas têm, inclusive, visor para observar o assado. Acompanha também termômetro que geralmente marca até 400 graus. A lenha é colocada dentro do forno, que precisa de pelo menos duas horas para aquecer. ''O que as pessoas mais gostam de fazer neste forno é pizza'', observa Liane. Quanto ao consumo de lenha, a empresária diz que depende do tipo de utilização. Mas, em geral, dois sacos (de 7 quilos) são suficientes. Cada saco custa em média R$ 12.
Já o fogão a lenha pode ser de ferro fundido (estilo retrô) e de concreto. O consumidor pode acoplar o forno de ferro. Neste caso, a lenha utilizada para o fogão aquece também o forno. ''Este tipo é bom para assar carnes, pães, bolos. É diferente do iglu em que a chama é direta e deixa tudo mais crocante'', observa Liane.
Em qualquer caso, segundo a empresária, é preciso usar lenha de qualidade como o eucalipto. ''Há lenhas que não formam brasa, por exemplo'', diz. Quantos aos cuidados, ela afirma que antes de ser utilizado o forno iglu deve ser curado, ou seja, passar pela primeira queima para eliminar a umidade natural. O forno (de concreto) nunca pode ser lavado.
De onde vem o ‘gosto’ da comida caipira?
Como se explica o tal ‘gosto diferente’ que muitos atribuem à comida feita nos fogões a lenha? Segundo o chef Taíco, o sabor característico ocorre pelo fato de os alimentos serem ‘confitados’, termo usado na gastronomia para definir o ato de ‘cozinhar lentamente na própria gordura’.
‘A vantagem do fogão à lenha é que você pode dosar bem. Mais fogo, mais lenha. Menos fogo, menos lenha. Geralmente, se começa num fogo intenso que depois vai ficando mais brando. Esse fogo menos intenso será suficiente para confitar o alimento. Ou seja, a gordura não ferve, ela cozinha e fica no próprio alimento’, esclarece o chef.
Segundo ele, a chapa dos fogões a lenha permitem ainda que as pessoas utilizem vários pontos com temperaturas diferentes, como o meio e as laterais. Taíco diz que as melhores panelas para estes fogões são as de ferro e as barro por serem mais grossas.
Para quem está estreando o fogão, alguns pratos sugeridos pelo chef são frango ao molho pardo e cabrito ao vinho. Para o forno, leitoa à pururuca. (G.M.)
‘Fogão econômico’ tem procura limitada em lojas comuns
Nas lojas de eletrodomésticos é comum encontrar o fogão a lenha conhecido por ‘econômico’, que custa em média R$ 500, e tem revestimento esmaltado. Nestes locais, porém, a procura em Londrina não é tão alta, segundo a FOLHA apurou. ‘Em três anos que estou aqui, vendi três fogões desse. Alguns procuram por economia e outros porque moram em chácara, sítio’, diz Mauro Aloísio, funcionário das Lojas Dudony.
Paulo Aversani, gerente de uma loja Ponto Frio, informa que os fogões a lenha tem procura abaixo do esperado. ‘Talvez seja porque hoje existem muitas lojas especializadas hoje’, arrisca. Ele acha que os consumidores que compram o produto estão buscando mais ‘uma volta às origens’ do que economia. ‘A lenha não é tão barata. Às vezes, o que você gasta de lenha dá para comprar três botijões de gás. Quem mora em sítio e não compra a lenha é capaz de fazer economia’, observa Aversani. (G.M.)
‘A comida fica totalmente diferente’
O comerciante Antonio Luiz Lopes realizou um sonho antigo. Há cerca de 40 dias, instalou na varanda da sua casa forno e fogão a lenha, acompanhados de churrasqueira. ‘Ficou lindo, lindo, pena que ainda não tive muito tempo para usar’, derrete-se ele, que lembra de sua mãe cozinhando em fogão a lenha tanto no sítio quanto na cidade.
Lopes acha que o gosto da comida é outro. ‘É totalmente diferente cozinhar com lenha. O feijão fica vermelhinho, já no gás fica mais branco. Já fizemos também arroz e frango ao molho. Tudo ficou muito bom. Ainda não tivemos tempo de estrear o forno’, diz o comerciante. Ele já comprou uma leitoa para assar neste final do ano.
A esposa dele, a comerciante Maria Amélia Chaves Lopes, não tem tradição rural na família, mas está gostando da novidade em casa. ‘Pena que não combina com nossa vida, que é corrida. Tem que ter paciência para acender, esperar aquecer’, diz.