Feira livre ainda é lugar de tradição. Tanto da parte de quem compra quanto de quem vende. Entre a grande quantidade de idosos, os mais jovens que se vê por lá herdaram da família o negócio ou o hábito de consumir naquele ambiente. São pessoas que cresceram na feira e acompanham suas transformações há mais de 20 anos. Embora a proliferação dos supermercados afete o volume das vendas, a qualidade dos produtos é apontada pelos feirantes como arma eficaz para sobreviver.
‘A arma do nosso negócio é a mercadoria boa’, confirma Cláudio Fernando Pedro, que começou a trabalhar na feira há mais de duas décadas, ainda menino, e há cinco anos adquiriu sua própria banca. Ele lembra que na década de 1990 a banca em que trabalhava tinha 15 funcionários, cinco balanças, formava fila e vendia ‘de caminhão’.
‘Vendíamos 120 caixas de tomate. Hoje, se sair 10 tem que tirar o chapéu’, compara. Se o volume de vendas não é o mesmo, a qualidade permanece segurando os fregueses fiéis. Pedro trabalha com uma grande variedade de legumes e verduras, e alguns tipos de frutas, incluindo produtos não muito comuns na maioria das bancas. Tem aspargo, broto de bambu, tofu (queijo de soja) endívia, almeirão italiano, ervilha torta, entre outros.
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Pedro afirma que não se baseia na concorrência e faz o seu preço de acordo com o que paga pelos produtos. Assim como nas demais bancas da feira, as frutas e legumes são vendidos por dúzia e não por quilo. ‘Se você fizer as contas, não sai mais caro. E ganha na qualidade’, defende. O feirante nunca pensou em adotar a máquina de cartão de crédito e diz que recebe muito cheque, já que os consumidores são quase todos conhecidos. ‘É comum as pessoas darem cheque para pegar troco’, conta.
Em contato com a feira desde muito jovem, Rildo Dias Prado começou a trabalhar com o pai, na década de 1970, e desde 1988 se tornou dono de banca. Hoje, conta com apoio da esposa Joêmia da Silva Prado. Ao contrário do pai, que vendia batata, cebola e alho, ele optou por trabalhar com produtos com maior prazo de validade como grãos e seus derivados. Prado vende cerca de 20 tipos de feijão, com destaque para as diversas variedades de carioca.
‘Londrinense gosta de caldo clarinho. Na preferência, depois do carioca vem o bolinha’, constata. Nesses 20 anos, Prado não considera que a feira perdeu consumidores, mas admite que a concorrência interferiu. ‘Antes, a cidade só tinha um grande supermercado e alguns pequenos. Olha hoje, quantos são’, diz.
O feirante acredita que o consumidor dos supermercados vai atrás de preço e quem vai à feira prioriza qualidade. ‘Comprar feijão em feira, por exemplo, é bem mais garantido, pois você vê o que está levando. Já o feijão empacotado não dá para ver a qualidade’, defende.
Prado também incorporou novas variedades ao mix da banca. Os principais são produtos para quem busca uma alimentação mais equilibrada e saudável, como trigo e soja em grãos, linhaça, granola e frutas secas. ‘A castanha-do-pará é campeã. As vendas aumentaram em mais de 50% nos últimos dois anos’, diz.
Produtos frescos atraem consumidores
A administradora Olinda Ivamoto cresceu vendo os pais irem à feira fazer compras e se tornou também uma frequentadora do local. Hoje os pais são idosos e já não saem muito de casa, então é ela que busca as frutas e hortaliças para o casal. ‘Japonês tem esse hábito de comer verduras, legumes. Venho à feira todos os domingos e compro o que sei que eles gostam e o que a gente consumia em casa quando eu era criança’, conta.
Ela diz que prefere a feira porque encontra produtos mais frescos. Para o consumo diário da sua casa, porém, Olinda opta pelo supermercado por causa da praticidade. ‘Penso que os preços são os mesmos, não vejo muita diferença’, afirma.
Para o agricultor Virgílio Mendes, ir à feira é, acima de tudo, um ‘hábito saudável’. ‘É uma tradição que não vai morrer. Veja os países europeus, bem antigos, com seus mercados e feiras em praça pública’, observa. Ele conta que vai à feira sempre que pode, motivado pela qualidade dos produtos e pelo ambiente. ‘Não venho mais por falta de tempo. Aqui é mais gente, os supermercados são frios’.
Alho-poró, tempero fresco e bucha natural estavam entre as compras da atendente de call center Sandra Silveira Nakatsukasa, que tem o hábito de fazer feira todos os finais de semana. ‘Eu morava no Norte do país e lá eu já ia na feira. Acho que os produtos tem sabor diferente e duram mais do que os de supermercado. É tudo fresquinho, você caminha ao ar livre’, repara. Além da qualidade, ela destaca o fato de encontrar ali produtos diferenciados como queijo fresco e pamonha.