Seu bolso

Ervas, cuias e 'tererê' ganham espaço no mercado

31 dez 1969 às 21:33

Os gaúchos bem que poderiam ser chamados como os novos bandeirantes do Brasil. Eles estão estabelecidos em todo os País. A principal característica, não há como negar, está no respeito às tradições que passam de pai para filho. Danças, trajes típicos, festas têm locais certos para acontecer: os Centros de Tradição Gaúcha (CTG). Mas outros hábitos são mantidos em casa, no trabalho, influenciando muitas vezes as pessoas que convivem com eles - como o chimarrão. Ê

Não só a presença dessa comunidade como a de consumidores que adotaram a bebida fez aumentar a procura pela erva mate no comércio da cidade. Nos supermercados há até gôndolas específicas para o produto e os apetrechos necessários para degustar o chimarrão. Além da versão tradicional da bebida - tomado obrigatoriamente com água quente com temperatura variando entre 60 a 70 graus centigrados -, o consumidor vai encontrar algumas embalagens com ervas para 'tererê'. Este tipo de erva utiliza água gelada e, para alguns, misturado com suco de limão.


O casal de gaúchos Paulo e Marisa Colares mora em Londrina há 11 anos. Filhos de tradicionais famílias do Rio Grande do Sul, eles não abandonaram o hábito de tomar chimarrão. O engenheiro agrônomo toma o seu chimarrão o dia todo na empresa onde trabalha.


O hábito da bebida foi herdado pelos colonizadores dos pampas dos índios guaranis. A área onde o costume se originou e permanece ainda forte abrange o Estado do Rio Grande do Sul e partes da Argentina e do Uruguai.


Colares diz que no Rio Grande a tradição manda que a bebida seja tomado em um grupo de pessoas, em que prevalece a boa conversa e os bons relacionamentos. ''É uma hora que a gente se senta para conversar com a família ou com os amigos; é um ritual como se fosse o cachimbo da paz''. Ele diz que é comum as pessoas combinarem de tomar um chimarrão no fim do dia na casa de alguém, tal qual o happy hour que acontece diariamente nos bares de todo o país. Marisa lembra o horário é sagrado e que a roda de conversa requer apenas o chimarrão. ''O momento é só para conversar, não é preciso ter algo para comer'', afirma.


O engenheiro agrônomo Paulo Colares chega a tomar dois litros de chimarrão por dia, um período da manhã e outro à tarde. Mas garante que pode ficar vários dias sem a bebida, ''sem sentir falta''. Com Marisa, já é um pouco diferente. Em um recente cruzeiro que fizeram à Europa, ela diz que sentiu muito a falta do chimarrão. ''Havia vários gaúchos no nosso grupo e ninguém levou o chimarrão, acho que com receio de passar com a erva e os apetrechos pela alfândega'', explica.


Marisa diz que o chimarrão é diurético, laxante, estimulante, e sempre tomava o produto para vencer horas de sono enquanto estudava. ''Para mim, ele também é um ótimo digestivo. Se você come algo mais pesado no almoço de domingo, por exemplo, e à tardinha toma um chimarrão, parece que a digestão melhora''. Colares, por sua vez, afirma que seu organismo tem a tendência de formar ''pedras'' no rim, o que é evitado com o chimarrão.


O casal diz que manter o costume custa muito pouco. São necessários apenas a cuia feita de porongo, a bomba (que pode de ouro e prata, como as mais tradicionais), a garrafa términa ou uma chaleira, a erva e a água quente. Um quilo de uma boa erva custa em torno de R$ 5,00 e dura cerca de um mês na casa da família Colares, onde o consumo diário varia entre 30 a 40 gramas.

Colares e Marisa tem dois filhos, João, de 10, e Helena, de 12 anos. E mesmo longe da terra natal, eles fazem questão de repassar a tradição aos filhos.


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