Seu bolso

Equipamentos de som high-end custam mais que uma casa

31 dez 1969 às 21:33

Caixas de som, cabos conectores, players, pré-amplificadores e amplificadores que podem custar mais do que uma mansão em um condomínio de luxo. Os equipamentos de som de alta fidelidade, os chamados high-end, têm um público seleto e movimentam um mercado milionário. É uma aparelhagem que reproduz o som com a maior fidelidade possível ao real. Para quem ouve, é como se a orquestra estivesse dentro da própria sala.

O público alvo são os consumidores dotados de ouvidos muito exigentes, conhecidos como audiófilos. ''Para comprar um high-end é preciso ter ouvido para isso. O leigo não vai conseguir perceber a diferença da qualidade do som'', diz Alex Cereza, gerente da Bytec, que trabalha com tecnologia, áudio e vídeo em Londrina.


A loja tem equipamentos high-end a partir de R$ 20 mil (incluindo só áudio, sistema 5.1), mas o consumidor pode gastar muito mais, dependendo do grau de exigência. ''Dentro do sistema high-end existem várias séries, que se diferenciam de acordo com o tamanho e a qualidade das caixas, dos auto-falantes, da matéria-prima, do acabamento, do formato. Não tem limite. Depende de cada bolso'', diz Cereza, citando o caso de um cliente que está investindo US$ 200 mil para equipar a casa inteira com áudio, vídeo e automação.


Já um home theater (que une áudio e vídeo, incluindo TV e projetor) de alta definição custa a partir de R$ 25 mil. Quem optar por automatizar toda a sala (áudio, vídeo e iluminação) vai desembolsar mais R$ 10 mil.


O mais comum para grande parte dos consumidores, no entanto, é a busca pelo home-theater dotado de equipamentos de qualidade média (medium-end), que pode ser encontrado a partir de R$ 6,5 mil. ''Quando o cliente chega, perguntamos se ele já tem algum home-theater, o que espera dos equipamentos e quem vai usar a sala com mais frequência. Isso tudo para sabermos o que vamos oferecer'', diz Cereza.


O audiófilo é um consumidor diferenciado, que pesquisa e tem conhecimento aprofundado do assunto. Portanto, já chega sabendo o que quer. Muitas vezes, compra equipamentos importados, feitos artesanalmente, e gasta valores bem acima dos já citados. ''Clientes audiófilos, mesmo, temos poucos. Mas quando eles aparecem dá para perceber o grau de exigência. Gostam de som estéreo e têm os ouvidos tão educados que conseguem identificar até as frequências'', conta o gerente.


Na busca por uma boa performance, eles deixam de lado o CD para ouvir disco de vinil. Enquanto o CD é digital, o vinil tem informação analógica, cuja característica é reproduzir o som mais próximo do real. Tanto que o mercado de toca-vinil está aquecido. A indústria voltou a fabricá-lo. Hoje, um aparelho novo, de qualidade, custa a partir de R$ 8 mil. Na linha profissional, tem toca-vinil de até R$ 300 mil.


''Esses equipamentos novos têm plataforma 100% sem atrito, o que elimina aquele chiado característico do vinil'', conta Cereza. Ele diz que o consumidor interessado tem que fazer pedido e esperar alguns dias pelo produto, que vem de São Paulo.


Raridades com mais de meio século:


‘Se por um lado, os compositores de música clássica nos ajudam a contar a história de seus países, por outro a gente quer encontrar uma maneira de ouvir essa música pelos melhores canais possíveis. E aí vamos de encontro aos equipamentos que oferecem a melhor fidelidade’, argumenta Carlos Haroldo Novak, ex-superintendente regional da Infraero em Londrina e atual titular da superintendência no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.


Ele tem em sua casa raridades, com mais de meio século de história. Um exemplo é um equipamento valvulado, fabricado na Suíça na década de 1950, que utiliza fitas magnéticas de rolo, herdado do seu avô. ‘Ele funciona perfeitamente e dá um som maravilhoso. Até hoje, só vi dois no Brasil. Por ser valvulado e analógico, você ouve horas e horas sem cansar os ouvidos’, diz.


Novak também tem gravadores de rolo das décadas de 1960 e 1970 (dois suíços e um japonês). Entre eles, há heranças de família e aquisições feitas em lojas de equipamentos usados, em São Paulo. Alguns vieram com defeito ou sem funcionar, mas, pesquisando, foi possível achar peças para colocá-los em condições originais.


Também fazem parte do sistema de som de Novak um toca-discos alemão, caixas de som inglesas e pré-amplificadores e amplificadores norte-americanos. O acervo musical dele, em vinil e fitas de rolo, é composto em 60% por música clássica, mas também tem jazz, bossa-nova, MPB e rock das décadas de 60 e 70. Parte vem de família e parte foi adquirida em lojas e feiras da capital paulista. ‘Tenho algumas gravações de 50, 55 anos atrás, muito boas, em estéreo, em alta fidelidade e com o que a gente chama de timbre sonoro muito interessante, bem agradável de se ouvir’, diz.


Ele lembra que tudo isso era uma ‘pechincha’ na década de 80 e passou a ter mais valor nos anos 90. ‘Com a volta do vinil, hoje tudo tornou-se muito caro’, observa. Sabe-se que os vinis raros (usados) custam de R$ 150 a R$ 300, e os novos, encontrados em megastores, podem chegar a R$ 500 (álbum triplo).


Novak não chega a se considerar um audiófilo e não quantifica em dinheiro os seus equipamentos. ‘Tem muito mais valor sentimental. Isso é um hobby. Traz inspiração e reflexão na minha vida, me sinto preenchido’, afirma.


Para audiófilos, som ‘ideal’ pode chegar a R$ 1 milhão:


Na contramão dos home theaters (que unem áudio e vídeo) e dos populares microsystems (aparelho de som integrado), os consumidores de ouvidos exigentes preferem o som estéreo, utilizando apenas duas caixas acústicas. ‘Daí temos o retorno de um equipamento que se usava antigamente: o pré-amplificador, que decodifica o sinal para o amplificador, resultando em uma maior fidelidade do som’, explica o arquiteto Weber Guimarães, um audiófilo assumido, que já fez, e continua fazendo, um bom investimento nos equipamentos de áudio que tem em casa.


Segundo Guimarães, um sistema completo ‘aceitável’ para um audiófilo fica em torno de R$ 70 mil. Já o som ‘ideal’ pode chegar a R$ 1 milhão. Um dos objetivos de quem utiliza tais equipamentos é conseguir recriar a imagem do palco sonoro, ou seja, visualizar o posicionamento dos músicos durante a gravação.


‘Você sente o músico batendo o dedo na corda. Em várias músicas, sente o cara respirando’, conta ele, que herdou do pai o gosto pela música e costuma ouvir vinil e fita de rolo. Existem gravadoras especializadas na produção de álbuns de alta fidelidade, que normalmente trazem a música clássica, o jazz e o blues.

Guimarães afirma que hoje muitos recorrem ao exterior para adquirir equipamentos de alta fidelidade, mas já existem bons fabricantes brasileiros com preços mais acessíveis. ‘Eu, por exemplo, mandei construir caixas (de som) em Minas Gerais por US$ 3 mil (incluindo alto-falantes importados), que vão corresponder a uma caixa de US$ 30 mil no mercado’, aponta ele, que faz parte de um grupo de aficionados por tecnologia e participa de um fórum virtual, através do qual está sempre trocando informações.


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