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Relação de consumo

Embalagem é barreira para deficiente visual

Eli Araujo/Equipe Folha
31 dez 1969 às 21:33
Informações em braile permitem que Junio Alonso trabalhe como bibliotecário: ‘‘as embalagens deveriam trazer informações básicas dos produtos’’ - César Augusto/Equipe Folha
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O ato de ir a um supermercado e escolher o que se deseja é algo extremamente simples e muitas vezes irrelevante para a maioria das pessoas. Entretanto, para um certo grupo, esta tarefa se torna quase impossível, não apenas pela falta de visão, e sim pela falta das condições materiais necessárias nos pontos de venda.

O bibliotecário Junio César Santiago Alonso nasceu com atrofia no nervo ótico e deslocamento de retina. A cegueira, porém, não o impediu de avançar nos estudos. Ele fez o curso de História e especializou-se em História Social na Universidade Estadual de Londrina (UEL), é funcionário público, professor e responsável pela biblioteca no Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos.

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Alonso só não sente a mesma segurança para ir a um supermercado, o que faz com pouca frequência e sempre acompanhado da esposa, que o ajuda na escolha dos produtos. Para ele, a realidade poderia ser diferente se as embalagens trouxessen as informações básicas dos produtos em braile. "A gente sabe que não dá para colocar tudo porque o braile ocupa muito espaço, mas se a embalagem tivesse ao menos o nome e a marca do produto já ajudaria bastante’, afirma.

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Ele diz que sabe da existência de alguns cosméticos, remédios e alimentos que trazem algumas informações em braile. E embora considere a iniciativa importante, argumenta que "a quantidade ainda é pequena e que as informações nem sempre são claras’.

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A pedagoga Ivone Gomes da Rocha Galdino trabalha no Instituto de Cegos há 14 anos, onde é coordenadora pedagógica. Ela conhece bem as dificuldades dos deficientes visuais em relação a consumo. "A ausência de informações em braile nas embalagens dificulta a inclusão do deficiente na sociedade’, argumenta.


Ivone reconhece que alguns produtos trazem alguns dados em braile, mas reforça a observação de Alonso de que a escrita não é muito clara. "Alguns alunos não conseguem identificar a leitura com agilidade porque a saliência dos pontos em braile não fica perfeita por causa da textura do papel ou da forma de impressão’. Segundo ela, a principal vantagem das inscrições em braile não está apenas no ato da compra, mas no manuseio dos produtos no dia a dia em casa.

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Como os caracteres em braile são padronizados em tamanho único, o que dificulta a adequação de todas as embalagens, Ivone sugere que os supermercados não fiquem à espera da indústria, mas que também façam a sua parte. "O deficiente visual é treinado para fazer rastreamento em lugares públicos e ficaria bem mais fácil se os supermercados colocassem as etiquetas em braile com o tipo do produto nas prateleiras’, lamenta.


Para a coordenadora pedagógica do instituto, o que falta é a conscientização para que este tipo de ação seja adotada. "O empresário deve pensar que o deficiente também faz parte do grande público que está todo dia no supermercado e que gasta, financeiramente, o mesmo que uma pessoa normal. É essa consciência de acessibilidade que precisa ser trabalhada’, afirma.

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Laboratório usa o braile em todos os medicamentos


A empresa Aché Laboratórios foi a primeira indústria farmacêutica do Brasil a adotar a embalagem em braile em sua linha de produtos, que é formada por um mix de mais de 250 itens. Como o braile ocupa muito espaço, o laboratório informa apenas o nome do medicamento e seu princípio ativo. Há dois anos, o mesmo laboratório colocou a bula de seus produtos disponível em áudio para atender a clientes idosos, analfabetos ou com deficiência visual. A bula pode ser solicitada em CD nas próprias farmácias ou acessada pela internet.


O professor de Farmacologia José Antonio Zarate Elias diz que não há uma regulamentação nacional para o uso do braile nas embalagens dos medicamentos. Segundo ele, um dos estados mais avançados nesta área é Pernambuco, que obriga as farmácias a usarem o braile. Elias diz que há uma lei sobre o assunto para ser votada na Câmara dos Deputados.

Apesar de informações reduzidas, a dona de casa Chirlei Boranga, 47 anos, comemoras as inscrições em braile contidas em algumas embalagens. Ela perdeu totalmente a pequena capacidade de visão que possuia e agora está aprendendo a ler a escrita para cegos. "É uma informação importante para que eu tenha mais liberdade no dia a dia’.


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