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Cervejas para degustar com moderação

Gisele Mendonça - Folha de Londrina
31 dez 1969 às 21:33

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‘Ao con­trá­rio do vi­nho, a cer­ve­ja quan­to ­mais jo­vem ­melhor’, en­si­na - Evandro Monteiro
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É certo que grande parte dos brasileiros ainda conhece apenas um tipo de cerveja: a pilsen, considerada a mais popular do mundo. Mas cresce rápido o número de interessados nas cervejas especiais ou ''premium'', que utilizam matérias-primas de qualidade, com nenhum ou poucos aditivos químicos. É um tipo de consumidor que já transita pelo mercado gourmet (com seus bons vinhos, bons azeites), tem poder aquisitivo e está aprendendo a degustar cerveja, mais de olho na qualidade do que na quantidade. São eles que puxam o crescimento de um mercado novo no Brasil, com potencial expressivo.

''Apesar da alta do dólar, é um setor que deve continuar crescendo, porque a percepção do brasileiro em relação à cerveja vem mudando. E existe poder aquisitivo, em algumas camadas da população, para este tipo de consumo'', avalia Enio Rodrigues, superintendente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv). Ele não fornece e nem arrisca números sobre a participação das cervejas especiais no mercado nacional.

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Sabe-se, porém, que o segmento movimenta mais de R$ 1 bilhão por ano no Brasil, representando cerca de 7% do setor cervejeiro. A mudança de comportamento do consumidor vem conferindo diferença ao mercado, que ainda tem muito para crescer. ''As pessoas não tomam cervejas especiais no dia-a-dia, mas optam por elas nos finais de semana ou em eventos, em menor escala, para saborear, como se fosse vinho'', diz Rodrigues.

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O representante do Sindicerv informa que hoje a maior parte das cervejas premium consumidas pelos brasileiros é importada, mas a tendência é que aumente o número de empresas produzindo as bebidas no Brasil, de acordo com os manuais e ingredientes europeus, como já acontece com algumas marcas.

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O empresário Vinícius Damião Munhoz apostou inicialmente no vinho como carro-chefe do seu negócio, aberto há três anos, mas mudou o foco ao descobrir o filão das cervejas especiais. Hoje, a Santo Prazer, sua loja em Londrina, trabalha com cerca de 70 rótulos de cervejas premium, incluindo as artesanais nacionais e as especiais importadas de países como Áustria, Bélgica, Alemanha, Uruguai, Holanda e Irlanda. As garrafas vão de R$ 3,50 a R$ 140. Esta última é nacional, escura e com teor alcoólico de 14%, que vem num estojo, de edição limitada.


Neste segmento, há garrafas diferenciadas com formatos e materiais inusitados. Entre elas está uma de louça (R$ 44,95 a garrafa de 500 ml), holandesa, feita por monges trapistas. ''Há sete mosteiros no mundo que produzem este tipo de cerveja, que é mais encorpada, com espuma cremosa. Esta cerveja é alimento para os monges, por isso é conhecida como pão líquido'', conta Munhoz.

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Outro destaque é uma cerveja de celebração (R$ 85, a garrafa de 750 ml), feita pelo método champenoise e que vem engarrafada como se fosse espumante. É nacional, vem de Blumenau (SC). Também há opções com valor histórico, como a cerveja alemã de trigo mais conhecida e consumida no mundo. A garrafa de 330 ml custa R$ 7,50. Na loja também há opções com leve sabor e aroma de café, cravo, canela, banana, rapadura, mel, entre outros.


Há cervejas claras, escuras, mais leves, mais fortes. Muitas delas são produzidas de acordo com a lei de pureza alemã, de 1516, conforme a qual a cerveja de qualidade deve ter como base água, malte e lúpulo, sem conservantes e antioxidantes. O consumidor que quiser conferir, isto está no rótulo.

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Alemã, feita de trigo, é a preferida de Élber


A cerveja de trigo mais conhecida e consumida no mundo, uma alemã - tipo ale weissbier -, produzida desde 1886 na região da Baviera, é a preferida do ex-jogador Élber Giovani de Souza, londrinense que atuou muitos anos no futebol europeu. É uma bebida de sabor suave, híbrida (de alta e baixa fermentação), que tem como grande diferencial a segunda fermentação que acontece dentro da própria garrafa. A long neck custa R$ 7,50.

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Élber conheceu a cerveja quando jogava no Bayern de Munique, na Alemanha. ''Os fabricantes eram patrocinadores do time. Eles nos mandavam direto a cerveja, as garrafas ficavam disponíveis dentro do ônibus (do clube). Hoje, quando tomo, sinto gosto de vitória. Revivo tudo aquilo que passei, os títulos que ganhei. Eu amo a cor dessa cerveja'', conta enquanto degusta a bebida.


Segundo Élber, na concentração, um dia antes dos jogos, era comum o treinador aconselhar os jogadores a tomar cerveja para ''relaxar, dormir melhor''. ''Nós, os estrangeiros, não tínhamos esse hábito, só os alemães. Depois do jogo, porém, eu tomava alguns copos. Era muito bom'', lembra.

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Ele diz que hoje aprecia vários tipos de cervejas especiais e tem, inclusive, uma coleção em sua adega com cerca de 15 rótulos. A maioria é importada de países como Alemanha, França e Bélgica. ''Muitas eu ganhei. Quando vai alguém em casa, costumo oferecer. Mas não é para todo mundo, é só para os que sabem apreciar, tomar pouco, com moderação. Tem que saber degustar'', diz.


Segundo Élber, o mercado brasileiro hoje oferece muitas opções para quem aprecia este tipo de cerveja. ''Antes era difícil de achar e bem mais caro. Hoje, fico satisfeito por achar em Londrina as cervejas que eu tomava na Alemanha'', diz. ''Tenho cerveja em casa que nunca tomei e nem vou tomar. Comprei só porque gostei da garrafa''.


O advogado Jackson Luiz Bordin descobriu os prazeres da cerveja quando foi trabalhar no Norte do Brasil. ''O calor era tanto que você não vencia tomar cerveja. Nunca mais parei. Hoje, gosto de todas, principalmente as especiais'', afirma. A preferida dele é uma irlandesa, escura e forte, com 300 anos de história, muito conhecida no mundo inteiro. Custa de R$ 11 a R$ 15 a lata de 500 ml.

''Gosto muito das cervejas artesanais, que não são para você cair de beber no boteco. São para sentir o gosto mesmo. O interessante é que, conforme você vai experimentando, vai aprimorando o paladar e passa a perceber as particularidades da bebida'', conta Bordin.


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