O Brasil é o maior produtor mundial de feijão, com cerca de 4 milhões de hectares plantados e uma produção anual em torno de 3,3 milhões de toneladas. Sabe-se que este é o prato básico da população e a principal fonte de proteína das famílias de baixa renda. Mas não é só. Ainda falta o brasileiro descobrir o que os consumidores europeus, asiáticos e norte-americanos já sabem: o feijão é um promotor de saúde, que nutre e previne doenças. O ideal é levá-lo à mesa todos os dias, incluindo, além do popular carioca, os tipos branco, preto e, se possível, vermelho.
A orientação vem da engenheira agrônoma Vania Moda Cirino, pesquisadora do Instituto Agronômico do Paraná, responsável pelo desenvolvimento das variedades de feijão Iapar. ‘O consumidor não tem idéia da importância do feijão para a saúde humana e do seu efeito funcional’, diz ela, que acompanhou a reportagem numa visita à feira livre em Londrina para falar sobre o produto.
Vania lamenta o fato de grande parte dos brasileiros enxergar o feijão como ‘comida de pobre’. ‘À medida que vai melhorando a condição social, muitos deixam, inclusive, de comer o feijão’, observa, informando que o consumo atual está em torno de 18 quilos por habitante por ano.
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Além do alto teor de proteína (entre 20% e 35%), a pesquisadora informa que o feijão é rico em zinco, ferro, cálcio e fibra solúvel (entre 14% e 19%). ‘As fibras solúveis promovem a aceleração do trânsito intestinal, a redução da taxa de gordura e de glicose no sangue. Por outro lado, (a ingestão de feijão) reduz a incidência de câncer de intestino, diabetes, problemas cardiovasculares, anemia, osteoporose. Mas todos esses benefícios são pouco divulgados’, considera.
Nos Estados Unidos, segundo Vania, uma campanha distribui folhetos explicativos nas clínicas médicas, principalmente no setor de obstetrícia, para divulgar os efeitos do feijão. O alimento deve ser consumido em abundância por gestantes nos primeiros três meses de gestação porque é importante fonte de vitaminas e minerais, e atua na prevenção de anomalias em fetos.
Segundo Vania, quem tem deficiência de ferro no organismo também deve aumentar o consumo de feijão, prevenindo problemas decorrentes da anemia. A FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) indica que uma pessoa que consome mais de 100 gramas de feijão por dia adquire quase a totalidade do ferro necessário na alimentação diária.
Como escolher
A pesquisadora informa que a qualidade do feijão depende da variedade e do tempo de colheita. ‘Quanto mais velho, mais ralo o caldo e mais tempo de cozimento. Quanto mais novo, mais grosso o caldo e menor o tempo de panela’, observa. Em média, o produto é considerado velho a partir de 40 dias de colhido.
Vania recomenda comprar feijão a granel em feiras ou lojas especializadas, pois é mais fácil para encontrar grãos novos e há maior variedade. Quando o produto já vem empacotado, como nos supermercados, é importante observar o rótulo. ‘O tipo 1 é mais selecionado e o tipo 2, menos’, indica.
Uma dificuldade, segundo a pesquisadora, é o consumidor saber ao certo qual a variedade do feijão que está levando, já que o produto é vendido pelo nome popular. ‘O Iapar já desenvovolveu 26 tipos de feijão, sendo 12 do tipo carioca. Temos, por exemplo, um feijão preto fantástico que é o IPR-Uirapuru, que cozinha em 20 minutos. Temos variedades de carioca muito boas como o Iapar-81, o IPR-Siriri, todos com aroma, sabor e coloração de caldo fantásticos. Para descobrir qual é, porém, só se for direto no produtor, pois muitas vezes o comerciante não sabe’, repara.
Segundo a pesquisadora, é importante variar os tipos de feijão na mesa porque eles contêm algumas características diferentes. O feijão preto tem substâncias antioxidantes (que previnem envelhecimento precoce) que não estão presentes nos chamados feijões de cor. Já o branco tem mais proteína e fibra, e o vermelho é o mais rico em ferro. ‘Em todas as variedades que desenvolvemos hoje, porém, procuramos melhorar a qualidade nutricional e a tecnológica, que envolve tempo de cozimento, absorção de água, coloração do caldo’, afirma.
Tipo carioca é o mais consumido
Do total de feijão produzido no Brasil, 70% são do tipo carioca (cor creme com listrinhas marrons), de 15% a 20% do tipo preto, e o restante pertence a outros grupos (jalo, bolinha, canário, carnaval, rosinha, roxinho, chumbinho, pardo). O Paraná é o maior produtor nacional (cerca de 700 mil toneladas por ano) de feijão e cultiva os tipos carioca e preto. O consumo do carioca predomina no país, enquanto o preto é o preferido nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Sul do Paraná.
Em relação ao feijão preto, o Brasil importa cerca de 100 mil toneladas anuais, principalmente da Argentina, porque a produção nacional não atende a demanda. Este produto geralmente tem um preço superior ao do carioca.
Já o feijão do grupo branco tem consumo baixo e produção praticamente inexpressiva no país. O preço também é o mais alto entre todos os tipos. Mas isso deve mudar com a introdução no mercado da variedade IPR Garça, lançada no ano passado pelo Iapar. ‘É um tipo de feijão gourmet, para preparo de pratos especiais. Acreditamos que os produtores brasileiros terão essa nova opção de cultivo’, diz a pesquisadora do Iapar, Vania Moda Cirino.
Outro feijão caro e difícil de encontrar no mercado nacional é o do grupo vermelho que, assim como o branco, é bastante apreciado nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Os consumidores dessas regiões apreciam grãos grandes, servidos muitas vezes como salada, sem caldo.
Na feira, o quilo do carioca está custando entre R$ 2,70 e R$ 5; do preto, entre R$ 3,80 e R$ 4; e do branco, em média R$ 6. Os demais (carnaval, bolinha, roxinho) ficam entre R$ 5 e 7. O feijão vermelho não foi encontrado nas bancas visitadas pela reportagem.
Consumidores gostam de variar
O feirante Lídio Gonçalves, que trabalha há 10 anos com feijão, diz que o tipo carioca é o mais procurado pelos consumidores. ‘Algumas pessoas levam outros tipos que lideravam o mercado antigamente como carnaval, bolinha, que são do tempo em que elas eram crianças’, diz.
O médico Edson Nagaoka come feijão diariamente no almoço e no jantar. ‘Não pode faltar, pois além de saboroso, faz bem à saúde. Temos o hábito de cozinhar com banha, nunca usamos óleo’, conta Edson, que no dia a dia consome o carioca, o rosinha e o bolinha, mas também gosta de comprar o preto.
O cabeleireiro João Borges Filho é adepto do feijão carioca, mas prefere os tipos que dão caldo mais vermelho. ‘Acho esses mais saborosos que aqueles de caldo claro. Parece que o feijão foi cozido no leite’, diz ele, que só consome o tipo preto com carnes defumadas. ‘Sozinho, fica sem sabor’.