Abacate, banana-maçã, mamão, leite, açúcar e uma pitada de uma farinha especial compõem a receita de uma das mais antigas vitaminas do Centro de Londrina. O produto é o carro-chefe da Casa do Suco, que completa 40 anos em fevereiro, ainda sob a direção da família fundadora. Na época em que o negócio foi aberto, apenas três ou quatro quiosques de alimentação figuravam na região central da cidade. E tomar suco - em casa ou na rua - era uma grande novidade.
''As pessoas compravam frutas para comer, mas suco não era hábito. Tanto, que alguns comerciantes que hoje vivem de suco em Londrina aprenderam com a gente'', conta Janilson Guilhen Gomes, 57 anos, que começou a trabalhar no negócio aos 17, ajudando o pai, José Guilhen Gomes, 81. No início, o quiosque tinha apenas dois metros quadrados e ficava na antiga praça existente na frente da Catedral.
O primeiro produto foi o caldo de cana. Na sequência veio a vitamina. Só quando o quiosque foi para o lugar onde está hoje (na esquina do Bosque, entre a Catedral e a Biblioteca Municipal), em 1979, é que foram introduzidos os sucos. Os primeiros foram laranja e abacaxi. Hoje, são 33 sabores, que combinados entre si viram centenas de opções.
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O caldo de cana saiu de cena há oito anos porque a grande quantidade de abelhas em torno do local passou a oferecer risco aos clientes. Mas a vitamina segue firme no cardápio, como um dos produtos mais baratos: R$ 2 o copo. ''Mantemos um preço popular porque é nosso carro-chefe. Queremos que este seja sempre um produto acessível para o trabalhador. Quem toma um copo já está bem alimentado'', observa Vera Gardiano Guilhen, 53, esposa de Janilson.
Ela não revela a origem da tal farinha especial que faz a vitamina ganhar fama. ''Todo negócio tem que ter seu segredinho, né'', defende Vera, informando que a receita é a mesma desde o início. E a família faz questão de manter a tradição em quase tudo ali dentro. Desde o atendimento até a forma de acondicionar as frutas no freezer e em fruteiras na parede.
''Nosso diferencial é justamente a nossa tradição em qualidade, atendimento e limpeza'', destaca Josoilson Gardiano Guilhen, 24, filho de Vera e Janilson. Ele destaca que o controle da qualidade das frutas é ''herança'' no negócio. Eles utilizam polpa e fruta inteira congeladas, além de fruta in natura.
Depois da vitamina, os sucos mais pedidos são os de laranja e morango. Também faz sucesso o de limão, puxado pelo preço promocional: R$ 1,25. Na lista de sabores ''modernos'' estão cupuaçu, umbu, tamarindo, pitanga, entre outros. Segundo a família, as novidades foram introduzidas aos poucos e não chegaram a assustar os clientes mais antigos. ''Muita gente já tinha ouvido falar dessas frutas por aí e aceitaram bem'', conta Vera.
Outra tradição são os salgados assados e fritos - há décadas, do mesmo fornecedor. Para completar, tem um molho especial (cheiro verde, tomate, cebola, glutamato de sódio, sal, óleo e pimenta dedo-de-moça). ''Tem gente que não come salgado se não tiver o molho. Eu dou a receita para quem pede, mas o segredo está no jeito de bater'', conta Josoilson.
A família orgulha-se ao dizer que hoje atende os netos de clientes que começaram a frequentar o quiosque ainda jovens. Outro orgulho é a presença constante de lideranças da cidade (empresários, padres, políticos) entre os fregueses. ''O Dom Geraldo (Geraldo Majela Agnello, ex-arcebispo da Arquidiocese de Londrina) chegou uma vez aqui no balcão e disse: 'esse caldo de cana com empadinha não se encontra em Europa nenhuma'. Isto para a gente é uma felicidade'', reconhece Vera.
Uma tradição que completa 40 anos
A Casa do Suco nasceu com José Guilhen Gomes, 81 anos, que comprou os direitos de um pequeno quiosque na antiga praça em frente à Catedral, em 1969, para vender caldo de cana. Com a ajuda da esposa Olga Gomes, 77, e do filho mais velho, Janilson Guilhen Gomes, 57, ele vendia de ‘sete a oito kombis cheias de cana’ por semana. A bebida era um sucesso pelas experiências que a família ia descobrindo com o tempo.
‘Para fazer um caldo 100% tinha que cortar a cana e deixá-la encostada em pé, na sombra, durante três dias’, diz. Ele lembra que no começo rodava pela região atrás de cana, mas a bebida que vendia não tinha um padrão porque a planta vinha de lavouras diferentes. Até que descobriu que a cana que dava o melhor caldo era a Java amarela. Então, plantou quatro alqueires da variedade e padronizou o seu produto ‘cremoso’.
Com a Casa de Suco, Gomes construiu a vida. ‘Comprei apartamento, terreno e sempre vivi bem, como Deus quis’, lembra. No início dos anos 1980, se aposentou e vendeu o quiosque para Janilson, que criou e formou os três filhos trabalhando com suco. Há vários anos, ele divide a administração do negócio com a esposa Vera Gardiano Guilhen, 53, e o filho Josoilson Gardiano Guilhen, 24.
‘Como nada na nossa família se ganha, mas tudo se conquista, estou me preparando para comprar a Casa do Suco do meu pai, assim como ele comprou do meu avô’, conta Josoilson, que acaba de se formar em administração e tem planos de modernizar o negócio, porém, sem abandonar a tradição.