Economia

Produção do Paraná já sente efeitos de tarifaço de Trump

23 jul 2025 às 08:25

Antes mesmo de entrar em vigor o tarifaço de 50% aplicado pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros importados pelos norte-americanos, exportadores paranaenses já sentem os efeitos da taxação.


Segundo a Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), as consequências enfrentadas até agora são cancelamento de contratos pelos importadores dos EUA, devolução de cargas, produções paradas e férias coletivas forçadas.


Metade de toda a produção nacional de madeira processada é destinada ao mercado norte-americano. Em 2024, as exportações de madeira aos EUA somaram US$ 1,6 bilhão. Desse total, US$ 615 milhões foram comercializados por indústrias paranaenses, o que corresponde a cerca de 60%.


Somando as exportações de madeira processada realizadas por Santa Catarina, os dois estados são responsáveis pelo abastecimento de 90% do mercado norte-americano. O grande consumidor é o setor da construção civil.


Sem conseguir exportar os produtos, a Abimci alerta que o tarifaço coloca em risco o emprego de 180 mil trabalhadores do setor de madeira processada no país, sendo aproximadamente 40 mil postos de trabalho somente no Paraná. Algumas indústrias, como as fabricantes de molduras, são 100% dependentes do mercado norte-americano. Nestas, as férias coletivas já foram adotadas em razão da necessidade de redução da produção.


Dos 2,5 mil profissionais empregados nas duas unidades da BrasPine, em Jaguariaíva e em Telêmaco Borba, 1,5 mil funcionários estão em férias coletivas. De acordo com a empresa, a decisão foi motivada pela perda de competitividade frente a outros mercados exportadores que seguem operando com tarifas entre 10% e 20%. “Trata-se de uma medida estratégica que visa proteger empregos e garantir a continuidade da BrasPine no longo prazo”, disse o CEO da empresa, Eduardo Loges, em nota emitida por sua assessoria de imprensa.


O presidente dos EUA, Donald Trump, determinou o dia 1º de agosto para o início do tarifaço e o superintendente da Abimci, Paulo Pupo, destacou que se os Estados Unidos não recuarem de sua decisão, há a possibilidade de demissão após o término das férias coletivas. “O cenário é ruim”, resumiu.

De acordo com Pupo, há 1,1 mil contêineres parados nos portos brasileiros, muitos compradores cancelaram os contratos e outros 1,4 mil contêineres estão navegando em direção aos EUA e a carga pode ser taxada no desembarque. “A taxação tira do jogo o setor madeireiro do Brasil”, disse o superintendente da Abimci.


Encontrar novos mercados para escoar a produção brasileira não é um trabalho que terá resultado em curto e médio prazo, afirmou Pupo. Contar com a pressão interna dos compradores dos produtos madeireiros brasileiros, a exemplo do que vem acontecendo com os importadores de suco de laranja, também não é uma possibilidade se a tarifa imposta ao Brasil ficar acima dos mercados competidores, como o chileno, taxado em 10%. “Não é só uma questão de baixar a tarifa imposta ao Brasil. Tem que baixar no nível dos demais países que comercializam com os EUA.”


“Todos os shares dos principais mercados estão estabilizados há décadas. Não dá para tirar a produção dos Estados Unidos e colocar em outro mercado. O mercado americano tem as suas características”, explicou Pupo.


Outros itens


Além dos produtos agroflorestais, a lista dos principais itens exportados pelo agronegócio paranaense inclui o café, o couro, a carne bovina e os pescados. O complexo sucroalcooleiro também tem participação relevante nas exportações do Estado. Esses seis produtos movimentam US$ 1,5 bilhão do total das exportações do Paraná e representam uma fatia de mais de 60%, segundo o Sistema Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná).


Dentro do complexo de origem animal, as carnes, principalmente a bovina, correspondem a 20% das exportações aos EUA. Neste ano, o Brasil conseguiu expandir esse mercado e aumentar as exportações aos norte-americanos. Mas agora, o cenário é de incerteza.


Presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Marcelo Janene El-Kadre disse que a desvalorização do preço da arroba do boi brasileiro em relação ao boi americano já fez a produção se retrair. “Estamos passando por uma desnecessária descompressão do mercado”, avaliou.


A tarifa anunciada por Trump, além de reduzir significativamente a competitividade da carne brasileira, ainda deverá aumentar os preços dos insumos, elevando os custos de produção. “Temos uma pecuária de altíssimo nível que vai sentir a pancada do aumento dos custos com a instabilidade do câmbio.


Existe uma preocupação com o acúmulo da carne no mercado interno, que deverá baixar o preço. Há uma insegurança muito grande”, declarou El-Kadre, que classificou o tarifaço como uma “ação política e descabida”.


Desde que o Brasil garantiu a certificação de país livre de febre aftosa sem vacinação, os produtores de carne têm conseguido ingressar em novos mercados com a venda de cortes mais caros, principalmente na Ásia. Japão, Vietnã e Coreia do Sul estão entre os importadores. Mas o ideal, disse o presidente da SRP, seria conquistar novos compradores sem perder os antigos.


Os produtores paranaenses de pescados também estão apreensivos. As vendas foram suspensas por causa da perda de competitividade com outros países cujas tarifas são menores.


“Muitas toneladas deixaram de ser embarcadas nesse período (desde o anúncio do tarifaço). Essa situação não afeta apenas os negócios, mas também gera um desperdício significativo e perdas financeiras insustentáveis, colocando em risco vários postos de trabalho”, afirmou o presidente da Associação Peixe Paraná, Valério Angelozi.


O Paraná é o maior produtor de pescados do país. “Além disso, os produtores estão sofrendo com a liberação das importações de tilápia do Vietnã, um produto que não atende os mesmos padrões exigidos em nosso país”, comentou Angelozi.


Por enquanto, as indústrias de pescados mantêm o ritmo da produção, mas algumas já discutem a possibilidade de escalonamento das jornadas de trabalho. Com um futuro ainda bastante incerto, a preocupação é evitar excesso de estoque.


O Sistema Faep acompanha os desdobramentos desde o anúncio do tarifaço, em 9 de julho, mas ainda é cedo para calcular o prejuízo à economia paranaense. “Se tiver sobra de produtos e o mercado interno não conseguir absorver a preços atraentes para os produtores, no próximo ciclo eles vão produzir menos, o que pode retrair a economia e o PIB (Produto Interno Bruto)”, analisou o técnico do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep, Anderson Sartorelli.

Setores produtivos cobram do governo mais rapidez nas negociações

O governo brasileiro enviou cartas ao governo norte-americano e espera uma resposta da Casa Branca para avançar com as negociações e tentar derrubar o tarifaço imposto por Donald Trump às exportações brasileiras.


Em quatro dias, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, já ouviu mais de 120 líderes empresariais em comitê que discute estratégias contra a taxação dos EUA.


O setor produtivo entende que há uma demonstração de interesse do governo federal em solucionar o problema, mas pede mais agilidade.


A Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente) foi uma das entidades que se reuniram com Alckmin e além de discutir saídas para a taxação com o governo federal, a associação também atua no sentido de buscar apoio entre os clientes norte-americanos, com o argumento de que o Brasil não representa uma ameaça ao mercado daquele país.


“Saímos com a sensação de ter passado todo o recado, os riscos e os impactos, e pedindo que a diplomacia entre em campo e que sejam eliminados os características politicas dessas medidas”, disse o superintendente da Abimci, Paulo Pupo.


Mas a menos de dez dias da entrada em vigor do tarifaço, Pupo vê com apreensão o que considera uma piora nas relações diplomáticas entre os dois países. “Não temos uma resposta prática das negociações em andamento e o tempo urge”, afirmou.


O presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Marcelo Janene El-Kadre, aposta no “bom senso e na negociação para dirimir os problemas” e defendeu que o Brasil envio de uma força-tarefa aos EUA. “Ele (Trump) quer mostrar pressão, uma superioridade que tem e precisa desestabilizar o resto do mundo por causa de uma dívida monstruosa que tem e é impagável.”


“Nossa expectativa é que nas próximas semanas haja uma intensificação nas negociações entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos. Estamos acompanhando de perto esses diálogos e esperamos que ambas as partes reconheçam a importância do setor da aquicultura”, destacou o presidente da Associação Peixe Paraná, Valério Angelozi.


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