Com os reajustes anunciados nesta segunda-feira (25), o preço da gasolina nas refinarias da Petrobras acumula alta de 74% em 2021. Já o diesel subiu 65% desde o início do ano. Analistas dizem que defasagem não foi eliminada e veem espaço para novos aumentos.
A partir desta terça (26) a Petrobras venderá o litro da gasolina por um preço médio de R$ 3,19, contra os R$ 1,83 vigentes na virada do ano. O diesel terá um preço médio de R$ 3,34 por litro. Na virada do ano, eram R$ 2,02.
A alta acompanha a evolução das cotações internacionais do petróleo e a desvalorização do real frente ao dólar, indicadores que balizam os preços internos dos combustíveis segundo a política de preços da companhia.
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Desde 2016, quando a nova política foi implementada pela gestão Pedro Parente, a Petrobras tenta acompanhar mais de perto o cenário internacional, por meio de um conceito conhecido como paridade de importação, que simula quanto custaria para importar os combustíveis para o Brasil.
A intensidade desse alinhamento variou ao longo dos últimos cinco anos, dos reajustes quase diários da gestão Parente à maior tolerância com as defasagens da gestão Joaquim Silva e Luna, mas a fórmula de cálculo dos preços permanece a mesma.
Com a escalada dos preços nas refinarias, o valor pago pelo consumidor pelo litro de gasolina já subiu 41% no ano, até atingir a média de R$ 6,361 na semana passada -antes, portanto de repasses do reajuste anunciado nesta segunda.
Já o preço do óleo diesel subiu 37% nas bombas desde o fim de 2020, chegando na semana passada a R$ 4,983 por litro, movimento que é alvo de grande insatisfação dos caminhoneiros, importante base de apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
A escalada dos preços dos combustíveis é um dos principais fatores de pressão sobre a inflação brasileira, que em setembro acelerou para 1,16%, a maior alta para o mês desde o início do Plano Real, quebrando a barreira simbólica dos dois dígitos no acumulado de 12 meses.
Reajustado pela última vez no início do mês, o preço do gás de cozinha também vem preocupando o consumidor: desde o início do ano, o botijão de 13 quilos ficou 36% mais caro, superando a barreira dos R$ 100 pela primeira vez há duas semanas.
Apesar do esforço do governo e de seus aliados para tentar conter a alta, o mercado vê ainda espaço para novos aumentos, já que o reajuste desta terça não cobrirá toda a defasagem em relação à paridade de importação.
Na sexta-feira (22), o litro da gasolina nas refinarias brasileiras era R$ 0,50 menor do que a cotação internacional, segundo cálculos da Abicom (Associação Brasileira das Importadoras de Combustível). No caso do diesel, a diferença era de R$ 0,68 por litro.
"Mesmo após a elevação ser efetivada, motivados pela pressão cada vez maior exercidas pelo câmbio e pelo barril de petróleo, estimamos que ainda exista espaço potencial de nova elevação de até 17% por parte da Petrobrás no curto prazo", disse nesta segunda o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
O cenário de alta levou transportadoras de combustíveis de Minas Gerais e do Rio de Janeiro a paralisar as atividades na semana passada. O movimento durou apenas um dia, mas foi suficiente para deixar postos nos dois estados sem estoques.
Nesta segunda, após o reajuste, o presidente do Sinditanque-MG, Irani Gomes, pediu revisão da política de preços que, segundo ele, está "tirando do bolso dos brasileiros e colocando no bolso dos acionistas". "Os acionistas que detêm 49% da empresa são os que estão lucrando hoje", afirmou.
Esse aspecto tem sido explorado também pela oposição, que questiona os elevados lucros da Petrobras em um cenário de preços altos. "O povo paga caro. Os acionistas minoritários ficam felizes", escreveu o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) em uma rede social.
Com petróleo em alta e combustíveis mais caros, a Petrobras registrou lucro recorde de R$ 42,8 bilhões do segundo trimestre de 2021. Quando anunciou o resultado, comunicou também que distribuiria R$ 31,6 bilhões em dividendos a seus acionistas.
A pressão tem sido tanta que Bolsonaro chegou há dizer a duas semanas que sentia vontade de privatizar a Petrobras para parar de levar a culpa sobre os preços. Nesta segunda, ele voltou ao tema, dizendo que a privatização entrou no radar do governo, mas que o processo seria "uma complicação enorme".
A estatal defende que a prática de preços internacionais é fundamental para atrair investimentos e permitir o abastecimento do mercado interno com produtos importados, que respondem por cerca de um quarto das vendas de diesel e 10% das vendas de gasolina do país.
Na semana passada, o IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás), que representa as grandes petroleiras e distribuidoras de combustíveis reforçaram o coro pelo respeito à paridade de importação, sob o risco de problemas de abastecimento.
"O alinhamento de preços ao mercado internacional apresenta-se como a abordagem necessária para garantir o abastecimento do mercado aos menores custos para a população", afirmou, em nota, o instituto.