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O bolso sofre

Passagem aérea e gás lideram ranking de inflação desde 1994

Leonardo Vieceli - Folhapress
04 fev 2024 às 10:49
- Pixabay
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A passagem aérea e o gás de botijão acumularam as maiores taxas de inflação de um ranking que aponta as variações dos preços de 20 bens e serviços desde o início da circulação do real, há quase 30 anos.

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A moeda brasileira passou a circular no Brasil em 1º de julho de 1994. Antes, em 1º de março daquele ano, os preços começaram a ser fixados em URV (Unidade Real de Valor), que fez a transição até a chegada da nova moeda. A URV foi implementada por meio de medida provisória (MP) em 27 de fevereiro de 1994.

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Até dezembro de 2023, a alta registrada pela passagem de avião no Brasil foi de 2.728%, enquanto a do gás chegou a 2.370%, segundo levantamento do economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, a pedido da reportagem.


Aluguel residencial (1.439%), empregado doméstico (1.242%) e taxa de água e esgoto (1.209%) aparecem na sequência. A análise leva em conta dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

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Ônibus urbano (1.183%), lanche (1.099%), energia elétrica residencial (1.007%), pão francês (996%) e gasolina (932%) completam a relação das dez maiores altas de preços no acumulado desde julho de 1994.
Imaizumi diz que as variações expressivas, se avaliadas sozinhas, podem transmitir a ideia de um suposto descontrole inflacionário, justamente o que foi combatido a partir do Plano Real.


Segundo o economista, também é preciso levar em consideração que o poder de compra da população brasileira aumentou nas últimas três décadas.

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Nesse sentido, Imaizumi aponta que o salário mínimo acumulou alta de 2.359% no período de julho de 1994 a dezembro de 2023 -o mínimo fechou o ano passado em R$ 1.320 e subiu a R$ 1.412 no início de 2024.


Dos 20 produtos e serviços contemplados pelo levantamento, apenas a passagem aérea (2.728%) e o gás de botijão (2.370%) subiram mais do que o salário mínimo (2.359%). Na média geral, o IPCA acumulou alta de 690,09% no período do real.

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"Com o controle da hiperinflação, que era um problema no Brasil antes do Plano Real, houve um ganho de poder de compra. O salário mínimo cresceu mais do que a inflação de quase todos os produtos e serviços que estão na lista", afirma Imaizumi.


"Se só falarmos que os preços subiram, parece que tivemos uma tragédia, mas não foi assim. Os salários também evoluíram", completa.

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Os 20 produtos e serviços do levantamento foram selecionados por estarem entre os 30 subitens que mais pesavam no cálculo do IPCA em dezembro de 2023.


Não é possível analisar todos os 30 subitens desde julho de 1994 porque dez não faziam parte da cesta do índice à época ou tiveram mudanças na forma de cálculo desde então -ao longo da série histórica, alguns produtos e serviços foram agrupados ou separados.

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No caso da passagem aérea, Imaizumi associa a carestia a questões como o aumento dos preços do combustível usado nos aviões e a baixa concorrência no setor aéreo.


"No gás de botijão, tem o efeito de ele ser um derivado do petróleo. Também tivemos auxílio para compra de gás, subsídios, encarecimento de insumos no ponto de venda. São vários fatores que ajudam a explicar a alta dos preços", afirma.


Conforme o levantamento, o automóvel usado registrou, desde julho de 1994, a menor inflação entre os 20 subitens analisados. A alta acumulada de preços desse bem foi de 45% até dezembro de 2023.


"Muitos automóveis entraram no Brasil nos últimos 30 anos", diz Imaizumi, ao indicar que o aumento da oferta pode ter freado a inflação dos carros usados.


A desvalorização desses veículos com o passar do tempo também contribuiu para a variação menos intensa dos preços, acrescenta o economista.


Do lado das menores altas no ranking, outros destaques são motocicleta (132%), automóvel novo (133%) e emplacamento e licença (199%).

VEJA MUDANÇAS NA CESTA DO IPCA


Divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA é o índice oficial de inflação do país. O indicador serve como referência para a política monetária do BC (Banco Central).


Desde janeiro de 2020, 377 produtos e serviços formam a lista de subitens pesquisados no IPCA. Essa relação é alterada de tempos em tempos pelo IBGE devido a mudanças no padrão de consumo da população.


O instituto adapta a cesta de produtos e serviços do IPCA a partir dos resultados da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares).


A POF aponta o que as famílias compram e o peso de cada gasto no orçamento. Os dados mais recentes dessa pesquisa são de 2017 e 2018.


Na última atualização da cesta do IPCA, que entrou em vigor em 2020, o IBGE passou a medir a evolução dos preços de subitens como streaming e transporte por aplicativo. São serviços de plataformas como Netflix, Uber e 99, que ganharam espaço no dia a dia das famílias.


Em contrapartida, a atualização de 2020 retirou do cálculo de inflação subitens como CD, DVD e máquina fotográfica, que perderam participação no orçamento dos brasileiros.


A atualização mais recente ainda incorporou ao IPCA alimentos de preparo rápido, como macarrão instantâneo e suco em pó.


Outros exemplos que passaram a fazer parte do cálculo foram serviços relacionados à estética, como os de sobrancelha. Na onda pet, o IBGE agregou, também em 2020, a variação dos preços de serviço de higiene e tratamento de animais domésticos.


Em julho de 1994, quando o real passou a circular, a cesta do IPCA tinha produtos e serviços como toca-fita para veículos e sapateiro.


Cinco anos mais tarde, em agosto de 1999, o IBGE fez uma atualização na lista, que passou a contar com subitens como plano de saúde, microcomputador e TV a cabo.


A cesta do IPCA ainda passou por mudanças em julho de 2006 e janeiro de 2012. Depois, houve a atualização de janeiro de 2020.


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