Desde que comecei a pesquisar e trabalhar com inovação, há quase dez anos, tenho me
debruçado sobre um dos pilares desse tema: a formação de mão de obra. Tido pelo Banco
Mundial como um dos elementos mais importantes, senão o determinante, desenvolver novos
profissionais é um desafio para todos os países e no Brasil a situação é ainda mais complicada.
Dias atrás disse que diploma universitário deixou de ser garantia de emprego. Dentre as razões,
o fato de que agora é preciso usar o curso superior para inovar, pois aumentou o número de
graduados e também em decorrência da mudança no trabalho, cada vez mais automatizado.
A partir do mesmo raciocínio, entendemos como é preciso subir alguns degraus para gerar
inovação. Além de ser um profissional bem formado tecnicamente, é necessário um conjunto de
elementos, como um ambiente propício para a criatividade e o surgimento de novas ideias, para
as pessoas criarem soluções. Aí reside um dos grandes problemas brasileiros: ainda não
conseguimos passar do primeiro degrau, formar bons profissionais em termos técnicos.
Em alguns setores, como de Tecnologia da Informação e da Comunicação (T.I.C), o número de
graduados está bem abaixo do mínimo necessário. Como é um setor flexível, pessoas com
graduação em outras áreas ou sem formação universitária acabam suprindo a demanda, fora o
fato de que o teletrabalho acabou com limitações geográficas.
Na maioria das áreas, porém, a situação é preocupante. Em torno de 50% dos graduados atuam
em áreas distintas daquelas que se formaram. Meu leitor cético deve estar pensando: mas isso
não tem a haver apenas com a questão da inovação! Também precisamos levar em conta o
aumento expressivo na oferta de vagas nas universidades privadas, cursos que apresentam
menor demanda por mão de obra, cursos muito procurados pelos universitários, mas saturados
no mercado de trabalho, etc. Meu caro leitor tem razão. Todos esses elementos precisam ser
considerados, mas o fato que mais preocupa é o que está sendo feito para que os recém-
formados de hoje e de amanhã tenham condições de gerar inovação.
Com raras exceções, inovação e empreendedorismo não fazem parte da grade curricular dos
cursos de graduação nas melhores universidades públicas. A Universidade de São Paulo (USP)
é uma exceção, mas ainda assim em forma de disciplina optativa, isto é, o aluno escolhe se quer
aprender a inovar e empreender. Nas universidades públicas no Paraná, pouquíssimos cursos
têm mecanismos permanentes de incentivo. No Brasil todo o que prevalece nas instituições
públicas, onde se tradicionalmente produz inovação e de onde saíram os melhores
empreendedores do país, são agências de inovação que fazem um bom trabalho, mas não
conseguem alcançar a grande maioria dos estudantes.
O resultado: empresas com demandas urgentes por inovação, que muitas vezes são importadas.
Este é um dos resultados das minhas pesquisas de pós-doutorado pela USP, assunto para novas
colunas ;)
*Lucas V. de Araujo: PhD em Comunicação e Inovação (USP). Jornalista na Câmara de Vereadores de
Mandaguari, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e parecerista internacional. Autor do livro “Inovação em Comunicação no Brasil”.