O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) proibiu os funcionários do escritório de Londrina de falarem sobre a operação Carne Fraca, que, na sexta-feira (17), desarticulou um esquema de corrupção que seria comandado pelo chefe da Unidade Técnica Regional de Agricultura de Londrina (Utra Londrina), Juarez José de Santana e fiscais da unidade.
"Estamos muito abalados. Essa é uma situação muito delicada. A importância do processo de auditoria agropecuária tem crescido no mundo todo e o nosso trabalho já tinha um reconhecimento nas sociedades rurais e nas empresas", comentou Roberto Siqueira Filho, diretor de comunicação do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (AnffaSindical).
Siqueira contou que as irregularidades dentro da Regional de Londrina vêm de longa data. São quase sete anos que o sindicato vem investigando os problemas que eram relatados pelos auditores fiscais. Ele afirmou que a primeira denúncia foi formalizada em 2012 para a Superintendência em Curitiba, mas, segundo ele, o caso foi engavetado. O problema foi levado ao conhecido em Brasília, mas também nada foi feito, afirmou Siqueira.
O autor fiscal Daniel Gouveia Teixeira era chefe substituto do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal/Sipoa no Paraná quando descobriu ocorrência de remoções de funcionários sem critérios técnicos e para atender os interesses de empresas fiscalizadas. Ele denunciou a chefe do setor de inspeção do Estado, Maria do Rocio Nascimento ao AnffaSindical por assédio moral em função das remoções. Foi exonerado do cargo e transferido. "Depois de ser ignorado, o Daniel e o sindicato decidiram trabalhar junto com a Polícia Federal", contou Siqueira.
De acordo com o despacho do juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, que concedeu os mandados de prisão preventiva e temporária, busca e apreensão e condução coercitiva da Operação Carne Fraca, "a organização criminosa instalada na Regional de Londrina sob o comando de Juarez de Santana é composta pelos fiscais e agentes agropecuário Gercio Luiz Bonesi, Sidiomar de Campos, Sebastião Machado Ferreira e Roberto Brasiliano da Silva (que não trabalha na Utra Londrina)."
O juiz decretou a prisão temporária de Sidiomar Campos e prisões preventivas dos demais. Determinou ainda a suspensão do exercício da função pública do agente de inspeção sanitária e industrial de produtos de origem animal da Utra Londrina, Luiz Alberto Patzer, que auxiliaria Santana em sua atuação ilegal.
Santana comandaria uma esquema paralelo ao estabelecido na superintendência regional em Curitiba, que tinha como líder o ex-superintendente do Ministério do Mapa no Paraná Daniel Gonçalves Filho. O servidor Luiz Carlos Zanon Júnior, que atua em Londrina, segundo o despacho do juiz, fazia parte da organização estadual. Ele teve a prisão preventiva decretada.
Importância
O sindicalista enfatizou, que apesar da operação ter "manchado" a imagem da categoria, ela foi importante para mostrar a necessidade desses cargos serem ocupados por pessoas técnicas e não indicações políticas. "Apesar de estarmos assustados com o que aconteceu, isso mostra que esse é um problema de ingerência política", afirmou.
A Regional de Londrina tem 18 funcionários. "Ainda há muita informação que a Polícia Federal tem que investigar, mas não acredito que vá surgir outros nomes de Londrina envolvidos no caso", disse Siqueira. Nesta segunda-feira (20), os servidores se reuniram com o representante do sindicato para indicarem um nome para assumir a chefia da Regional.
A Polícia Federal não divulgou um balanço do cumprimento dos mandatos da Operação Carne Fraca. A prisão dos envolvidos deve ser confirmada nesta terça-feira, após os detidos fazerem corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) da Capital. A reportagem não conseguiu localizar nenhum dos envolvidos e tampouco seus advogados.