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Primeiro semestre

Dados do BNDES mostram indícios de saída da recessão, diz a presidente do banco

Agência Estado
24 abr 2017 às 16:00

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Os dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sobre o primeiro trimestre mostram indícios de saída da recessão econômica. Embora tenha dito que não seria tão otimista em dizer que a recessão acabou, a presidente do banco de fomento, Maria Silvia Bastos Marques, afirmou nesta segunda-feira, 24, que as aprovações da Finame, a linha de crédito automática para o financiamento de máquinas e equipamentos, subiram 32% no primeiro trimestre ante igual período de 2016.

"A Finame é muito mais dinâmica", disse Maria Silvia, ao adiantar os dados em palestra durante seminário promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) na sede da Federação das Indústria do Rio (Firjan).

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Como os contratos da Finame são mais curtos e distribuídos por bancos repassadores, seus indicadores reagem mais rapidamente aos ciclos da economia. Na terça-feira, 25, o BNDES divulgará os dados de seu desempenho em março, encerrando o primeiro trimestre.

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Maria Silvia adiantou ainda que as consultas (primeira fase do processo de pedido de crédito no BNDES) para projetos de infraestrutura subiram 25% no primeiro trimestre, na comparação com os três primeiros meses do ano passado. Além disso, após o BNDES melhorar as condições do crédito para capital de giro em janeiro, houve crescimento de 345% nos desembolsos para essa linha (Progeren) no primeiro trimestre, também em relação ao ano passado.

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Críticas


Maria Silvia criticou as políticas adotadas pelo governo anterior para a instituição de fomento. Após pedir cautela na afirmação de que a recessão já acabou e defender reformas estruturais, como a previdenciária e a trabalhista, para garantir a recuperação econômica, Maria Silvia disse que encontrou um cenário "desastroso" ao chegar ao comando do BNDES, em junho do ano passado.

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"Este último ano foi de muito trabalho. É impressionante como se conseguiu reverter um cenário tão desastroso", afirmou Maria Silvia. Ela destacou que, entre 2009 e 2014, o BNDES recebeu quase R$ 500 bilhões em aportes do Tesouro Nacional, com custos fiscais para o governo. Apesar disso, segundo a executiva, a formação bruta de capital fixo (FBCF) permaneceu "flat". "Esses recursos impactaram o fiscal e vamos pagar por muito tempo por eles. Eles não geraram aumento dos investimentos na economia", afirmou Maria Silvia.


Segundo a presidente do BNDES, "subsídio não é resposta para tudo". A executiva classificou o congelamento dos projetos de infraestrutura concedidos na segunda fase do Programa de Investimentos em Logística (PIL), também no governo anterior, de "caso grave".

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Maria Silvia criticou também o Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI), lançado em 2009 como resposta à crise econômica global de 2008, canalizando boa parte dos aportes com crédito oferecido a juros negativos (abaixo da inflação). "O PSI não foi capaz sequer de manter a atividade econômica", afirmou Maria Silvia.


Por outro lado, com os aportes e o PSI, o lucro do BNDES subiu, lembrou Maria Silvia. Com isso, o banco de fomento pagou "elevados dividendos" à União, contribuindo para a receita do governo.

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Segundo Maria Silvia, isso já começou a mudar. Ano passado, o BNDES aprovou em seu Conselho de Administração uma política de dividendos, que garante que pelo menos 40% do lucro do banco fique na instituição. Além disso, a nova política operacional, lançada em janeiro, procura oferecer incentivos "horizontais", com foco nos projetos e não nos setores, disse Maria Silvia.


Com as mudanças, agora sim o BNDES passou a ter uma política de "campeões nacionais", disse Maria Silvia, numa referência à política da gestão anterior, de financiar, com crédito e participação acionária, a formação de multinacionais brasileiras. "Na minha visão, agora temos uma política de campeões nacionais. Estamos dando condições iguais a todos. Esperamos que surjam muitos campeões, mas não estamos escolhendo os campeões", disse Maria Silvia.

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Selic


A convergência da taxa de juros cobrada pelo BNDES para a taxa básica de juros (Selic, hoje em 11,25% ao ano) virá de qualquer forma, afirmou Maria Silvia. A executiva destacou que o mercado espera Selic em 8,5% no fim deste ano. A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), usada atualmente nos empréstimos do BNDES, está em 7,0% ao ano.

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Neste mês, o governo federal anunciou a criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), que substituirá a TJLP e será atrelada aos juros das NTN-Bs, títulos públicos indexados ao IPCA. Para Maria Silvia, a mudança, que reforçará a convergência entre as taxas do Tesouro e do BNDES, busca juros menores para todos. "Essa disputa é por condições horizontais, para todos terem taxas de juros mais baixas", afirmou Maria Silvia.


A presidente do BNDES reforçou que, após os cinco anos de transição, quando a TLP terá a mesma taxa das NTN-Bs, o banco de fomento continuará a ter acesso a "funding" estável e de longo prazo. "A remuneração do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador, principal fonte do BNDES) também será alterada, com ativos e passivos sempre casados. Teremos captação no menor custo do mercado, que é o do Tesouro", disse Maria Silvia.


A presidente do BNDES informou ainda que o banco está estudando mudanças na política de conteúdo local, para credenciamento da Finame, a linha de crédito automática para o financiamento de máquinas e equipamentos. "Vamos anunciar no fim do primeiro semestre", disse Maria Silvia.


A executiva também anunciou que o BNDES está trabalhando em parceria com a recém-criada Assessoria Especial de Reformas Microeconômicas do Ministério da Fazenda, comandada pelo economista João Manoel Pinho de Mello. Equipes do BNDES vão colaborar com a equipe da assessoria.


Após a palestra, Maria Silvia voltou a comentar o desempenho do BNDES no primeiro trimestre. Segundo ela, os desembolsos ainda deverão apresentar queda. "Os desembolsos vão continuar refletindo a recessão que existia", afirmou Maria Silvia, lembrando que os recursos liberados agora reagem à demanda passada por crédito.


Odebrecht


Maria Silvia também evitou comentar os trabalhos da comissão de apuração interna, criada após executivos da Odebrecht citarem ex-diretores do BNDES em depoimentos em delação premiada, em operações de financiamento à exportação de serviços. Segundo a executiva, o banco só se pronunciará sobre resultados das apurações no encerramento dos trabalhos, daqui a 45 dias.


Galeão


Se os futuros sócios da concessionária responsável pela operação do Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, chegarem a uma solução com o governo federal sobre o pagamento atrasado da outorga pela concessão, o BNDES trabalhará para resolver o pedido de financiamento pendente junto à instituição, afirmou Maria Silvia.


Segundo a executiva, o banco vem se reunindo desde o ano passado com representantes da Changi, operadora do Aeroporto de Cingapura e acionista da concessionária do Galeão, ao lado da Odebrecht. Já houve também uma reunião com a chinesa HNA, potencial compradora da fatia da construtora brasileira na concessionária, informou Maria Silvia.

"Temos conversado bastante, desde o ano passado, com a Changi, discutindo possibilidades de financiamento de longo prazo. Se acontecer o reperfilamento da outorga e ele couber dentro do financiamento, queremos muito resolver este e outros casos", disse Maria Silvia, após participar do seminário.


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