Mesmo com uma lista de quase 700 itens que deverão ficar isentos da tarifa de 50% aplicada pelo governo dos Estados Unidos aos produtos exportados pelo Brasil, a situação preocupa os exportadores brasileiros.
A lista de exceções divulgada na quarta-feira (30) pelo governo de Donald Trump prioriza os produtos que, se taxados, poderiam prejudicar a economia americana, como aviões, minerais e combustíveis.
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No entanto, o tarifaço ainda é bastante agressivo contra as exportações brasileiras e um dos setores mais impactados é o do agronegócio.
O suco de laranja, produto cujo anúncio da taxação provocou mobilização entre os importadores norte-americanos, acabou ficando isento. Mas a tarifa de 50% ainda incidirá sobre as frutas, a carne, o café, os pescados e alguns produtos florestais brasileiros, por exemplo.
Entre os itens que tiveram a confirmação de taxação, estão alguns dos mais importantes da pauta de exportações paranaense. No primeiro semestre de 2025, os produtos florestais exportados pelo Paraná aos EUA somaram US$ 331 milhões. As exportações paranaenses de café totalizaram, de janeiro a junho, US$ 36 milhões, e as de pescados, US$ 17 milhões.
Em uma análise inicial, a avaliação é que o recuo parcial de Trump deixou o cenário “não tão ruim”, disse o técnico do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), Anderson Sartorelli. “Poderia ser bem pior, embora tenhamos produtos importantes da pauta exportadora paranaense que vão ser impactados. Dentro dos dez principais produtos do Paraná, temos no mínimo oito que não estão na lista de exceções, como café, pescados e carne.”
Sartorelli defende a via diplomática e a as negociações para tentar isentar ou reduzir a taxação. “Temos muitas cadeias que vão ser impactadas.”
“Nosso entendimento é que é um alívio de alguma forma, mas há setores que estão sofrendo. O setor de pescados, por exemplo, vem se reestruturando no Estado, ganhando espaço, os produtores fazendo investimentos”, destacou o técnico. Do total da produção de peixes exportada pelo Paraná, 97% têm como destino os EUA, o que revela uma enorme dependência dos produtores do Estado do mercado norte-americano.
Na negociação com os EUA, Sartorelli aponta argumentos que podem ser usados a favor do Brasil, como o atual estoque de gado bovino dos Estados Unidos, o menor dos últimos 52 anos.
Em relação ao café, também é possível que haja pressão interna. Os EUA mantêm um gigantesco complexo agroindustrial e uma das principais empresas do setor, a Starbucks, depende fortemente do café brasileiro, lembrou o técnico do Sistema Faep.
O adiamento para 6 de agosto para entrada em vigor das novas tarifas, afirmou Sartorelli, abre uma brecha para as negociações. “É a hora de colocar na mesa e dizer que queremos negociar. Queremos fazer isso, resolver a situação e é importante esse prazo. Há produtos do interesse deles que poderiam entrar nas isenções.”
O presidente da Associação Peixe Paraná, Valério Angelozi, disse ter recebido a lista de exceções divulgada pelo governo norte-americano com atenção e que a entidade segue confiante na habilidade do governo do Estado em reconhecer a importância estratégica da piscicultura paranaense.
Na próxima terça-feira (5), representantes do setor irão se reunir com o secretário de Estado da Fazenda, Norberto Ortigara, “Acredito na sensibilidade do secretário, que é uma pessoa com grande conhecimento das dificuldades do setor. Acredito no diálogo e na construção conjunta de soluções.”
Café
Com a extensão do prazo para a aplicação do tarifaço, a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café) vê um fôlego para negociar. “Em uma mesa de negociação, todo tempo ganho é válido. O café ainda não está na lista de exceções e as negociações estão longe de serem finalizadas, ao contrário, seguem em curso”, disse a associação, em nota encaminhada por sua assessoria de imprensa.
A Abic reconhece a importância do mercado norte-americano para o Brasil, mas ressalta estar ciente da relevância do café para a economia dos EUA. Os cafés brasileiros representam, aproximadamente, 34% do mercado cafeeiro estadunidense e 76% dos americanos consomem o produto. “Tanto atores nacionais - ministros, senadores, Itamaraty, setor produtivo - mas também contratantes americanas, seguirão negociando firmemente”, disse a nota. Para a Abic, a lista de exceções é uma demonstração de que há espaço para caminhos de negociação.
Proprietário da cafeeira Dois Irmãos, em Santo Antônio da Platina (Norte Pioneiro), Silvio Alves disse esperar novos anúncios de alterações na lista de produtos taxados pelos EUA em razão do prejuízo que o aumento da tarifa representará tanto ao Brasil quanto aos Estados Unidos. “Acreditamos na capacidade de diálogo e bom senso dos dois governos e esperamos que cheguem a um acordo que preserve os interesses econômicos de ambas as nações.”
O grupo Dois Irmãos havia fechado um contrato recentemente com um importador norte-americano para enviar aos EUA o café já torrado, moído e embalado, pronto para ser consumido pelos norte-americanos. O contrato prevê o embarque de quatro contêineres todos os meses. Com o anúncio do tarifaço o carregamento de julho não foi despachado.
Alves salientou que as negociações não estão encerradas e que os embarques do café industrializado aos EUA foram adiados temporariamente.
Madeira processada
Mesmo quem entrou na lista de exceções, como o setor madeireiro, não está aliviado. A Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), que representa os diversos segmentos do setor de madeira processada no país, incluindo compensados, molduras, painéis, pisos, portas, entre outros produtos, informou que está fazendo uma análise detalhada para identificar quais os segmentos entre os que representa estão incluídos nas possíveis exceções ao tarifaço de 50% e quais, efetivamente, serão impactados pela taxação.
A análise das equipes técnicas e jurídicas da Abimci, tanto no Brasil quanto no exterior, irá identificar os produtos específicos mencionados na Ordem Executiva emitida pelo governo de Donald Trump, as condições para eventuais isenções e os possíveis desdobramentos. O setor madeireiro representa 90% da pauta exportadora do Paraná.
Uma dificuldade para o setor madeireiro é a divergência de nomenclaturas utilizadas pelos EUA e pelo Brasil.
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