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Balança comercial positiva

Londrina triplica exportações em 2023, mas registra um terço do saldo de Maringá

Bruno Souza - Especial para a Folha
12 jan 2024 às 12:50
- Catedral de londrina / Prefeitura de Maringá
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Londrina exportou no último ano três vezes mais que em 2022. Ao todo, foram 5,2 bilhões ante 1,72 bilhão no ano retrasado. O número, que representa um crescimento de 310%, é quase três vezes menor que o de Maringá, que anotou aumento de 4,5%, chegando à marca de R$ 15 bilhões em produtos exportados em 2023. Os dados são da Comex Stat, portal do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).


As exportações de 2022 em Londrina foram quatro vezes menores que as importações, o que representou um déficit, na época, de R$ 4,4 bilhões. Agora, em 2023, os dados surpreendem, após o crescimento acentuado de exportações e a queda de importados, gerando um superávit de R$ 2,32 bilhões na balança comercial.

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A alta levou Londrina ao terceiro lugar de melhores resultados na balança comercial do Paraná, atrás somente de Maringá e de Ponta Grossa, que apresentaram saldos positivos de R$ 13,79 bilhões e R$ 4,81 bilhões, respectivamente.

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Segundo o economista e professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina) Emerson Guzzi Esteves, tanto Londrina quanto Maringá anotaram crescimento em seus saldos por causa, principalmente, da alteração no preço do dólar.

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"[O dólar] estava acima de R$ 5,00 até o final de abril [de 2023], quando se tem a colheita da soja. Então, foram feitos contratos com essa previsão [de preço]. A partir disso, vendeu-se o produto na cooperativa. Somente depois da metade do ano que mudou. Hoje o dólar está abaixo de R$ 5,00", explica.


Marcos Rambalducci, economista e professor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), cita outro fator para o superávit na balança comercial de Londrina. "As exportações aumentaram especialmente em razão da supersafra agrícola de 2023, que elevou as vendas de commodities para o mercado externo."

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De acordo com ele, as importações de Londrina caíram, possivelmente, por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia, que levou o município a deixar de comprar fertilizantes provenientes da região. 


A reportagem apurou que a maior compra da Rússia dos produtos londrinenses foi feita em 2022, quando o país já estava em guerra, o que descarta a possibilidade do conflito ter interferido nas importações do município. No entanto, ainda não se sabe o porquê das importações terem desabado cerca 50% de um ano para outro.

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Com a diminuição de quase 70% na compra de importados em comparação a 2022, Maringá também registrou o mesmo movimento de Londrina. O professor da UTFPR relata que a crise dos componentes eletrônicos fez as importações caírem 80% somente em compras de semicondutores.


Manobra contábil

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Os resultados de Londrina nas exportações de 2023 podem ser uma mera manobra contábil. Rambalducci supõe isso ao analisar os números e compará-los. Segundo ele, o resultado superavitário deve estar relacionado a alguma empresa que passou a registrar o CNPJ sob o domínio de Londrina, o que não gera, diretamente, bons frutos ao município.


"Embora não seja possível identificar qual empresa seria, está claro que não é o aumento da produção local que impulsionou esse aumento nas exportações. Trata-se unicamente de um procedimento contábil que não se traduz em resultados financeiros ou econômicos para o município, visto que não há recolhimento de impostos sobre estas exportações", explica o economista.

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Rambalducci ressalta que 90% dos produtos exportados são commodities agrícolas, sendo que 67% das exportações foram de soja e milho, "praticamente triplicando as exportações de um ano para outro, já que, em 2022, as exportações de Londrina totalizaram US$ 357 mil [R$ 1,72 bilhão na cotação atual]."


'Exportações insignificantes'

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Esteves afirma que a balança comercial favorável - que acontece quando as exportações superam as importações - é importante para todos os municípios, já que quando se exporta mais, geram-se mais empregos e o dinheiro gira na economia interna. No entanto, ele lembra que Londrina possui outra maneira operante.


"O motor da economia de Londrina é serviço e comércio. A maior parte do nosso PIB (Produto Interno Bruto) é voltado para essas áreas", diz.


Ele também salienta que Ponta Grossa e Maringá têm resultados positivos porque algumas companhias ou trades que vendem commodities agrícolas para o mundo inteiro estão localizadas nos dois municípios.


Rambalducci, entretanto, deixa explícito que as balanças comerciais de Londrina, Maringá e Ponta Grossa - mesmo que registrem números tão discrepantes entre si - são irrelevantes quase que ao mesmo nível do ponto de vista econômico.


"Uma balança comercial superavitária é interessante quando está calcada na venda de produção local. Vender soja produzida no Mato Grosso aqui por Londrina, pouca importância tem", diz.


Para ele, economicamente falando, as diferenças entre Maringá e Londrina são mínimas. "[É importante] observar que dos R$ 15 bilhões exportados em Maringá, R$ 10,1 bilhões foram de soja, que, certamente, também não foi produzida lá e não trouxe benefícios diretos para o município", analisa.


Em Ponta Grossa, os resultados da balança também são 90% de produtos agrícolas. Entretanto, o município da região Oeste paranaense se difere porque "caminha para um processo de reindustrialização mais acelerado, percebido nitidamente pelo tipo de produtos importados", ressalta o professor da UTFPR.


Resultado mascarado


Quando analisados rasamente, os números de Curitiba parecem ser piores que os de outros municípios. No entanto, nem tudo é o que parece. Segundo Rambalducci, a capital tem uma das economias mais equilibradas do estado, mesmo apresentando déficit bilionário na sua balança comercial.


"Curitiba tem uma indústria forte que se mantém bastante estável ao longo dos últimos dez anos. Seu déficit na balança comercial é explicado porque a indústria é uma grande importadora de equipamentos e insumos automotivos e elétricos/eletrônicos, que são depois vendidos no mercado interno", explana. 


Londrina com perfil de Brasil


Diretor de Desenvolvimento do Codel (Instituto de Desenvolvimento de Londrina), Atacy Melo Júnior discorda que os resultados do município em 2023 foram insignificantes. Para ele, os números devem ser comemorados.


"Foi um grande aumento. Não contesto que a exportação não seja de produtos com pouca industrialização, mas houve crescimento de alto percentual", afirma.


O diretor ainda ressalta que Londrina possui o mesmo perfil econômico do Brasil, em que a indústria exportadora ainda não assumiu o protagonismo. "Ainda exportamos mais commodities. Assim como o Brasil, a maior produção industrial é para o mercado interno."


Melo explana que o município tem feito movimentos para gerar empregos e renda para a população e que isso não interferirá, obrigatoriamente, na balança comercial.


"Estamos [tratando com a] maior indústria de elevadores da América Latina. Estão ampliando em Londrina com o centro administrativo. Mas isso não quer dizer que o produto deles será exportado a ponto de interferir na balança comercial", explica.


O diretor do Codel conclui afirmando que Londrina precisa de indústrias fortes, geradoras de emprego, mas que não seja imputada a elas a obrigação de exportar para fora do país.


"Essas indústrias buscarão competitividade e exportar ou não é uma questão mercadológica. Depende de preço, produto, distribuição, concorrência, leis de barreiras comerciais… Temos indústria que exporta para mais de 70 países, mas, na balança comercial, o valor é baixo."


Rambalducci reflete que é preciso, sim, mudar o perfil das exportações em Londrina, mas, para isso, é preciso investir em indústrias capazes de agregar valor e de competir no mercado internacional.


"A resposta está em um processo robusto de reindustrialização baseada em empresas de base tecnológica. Enquanto isso não acontecer, Londrina continuará sendo exportadora de commodities produzidas em outras cidades", encerra o economista.


Números dos cinco maiores municípios


Maringá - 2023

Exportações: R$ 15 bilhões (+4,5% em relação a 2022)
Importações: R$ 1,21 bilhão (-69,5% em relação a 2022) 

Balança comercial: R$ 13,79 bilhões (favorável)

Curitiba - 2023
Exportações: R$ 12 bilhões
Importações: R$ 18,73 bilhões

Balança comercial: - R$ 6,73 bilhões (desfavorável)


Londrina - 2023
Exportações: R$ 5,32 bilhões (+310%)
Importações: R$ 2,97 bilhões (-52%)

Balança comercial: R$ 2,35 bilhões (favorável)


Ponta Grossa - 2023
Exportações: R$ 7,98 bilhões
Importações: R$ 3,17 bilhões

Balança comercial: R$ 4,81 bilhões (favorável)


Cascavel - 2023
Exportações: R$ 2,62 bilhões
Importações: R$ 827 milhões

Balança comercial: R$ 1,79 bilhão (favorável)


*A conversão dos números para o real foi feita nesta sexta-feira (12), quando o dólar estava cotado a R$ 4,84.


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