Mudar a matriz econômica para uma cidade com vocação industrial é um objetivo de longo prazo. Prometi a meus leitores que detalharia como penso Londrina atingindo esse objetivo a partir das minhas pesquisas no doutorado e no pós-doutorado, além de minha vivência profissional.
Começo lembrando trecho de minha tese na qual aponto uma das principais deficiências do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPPT): “Falta de programas que integrem os esforços entre os diversos entes do ecossistema de inovação. Em São José dos Campos foram criados Centros de Desenvolvimentos Tecnológicos (CDT), os quais são constituídos por arranjos nos quais grandes empresas lideram projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D&I) em parceria com universidades, Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT) e empresas de menor porte. Tal iniciativa foi fundamental para alcançar bons resultados [...] Entre 2009 e abril de 2016 o Parque recebeu quase R$ 2 bilhões em investimento. A maior parte proveniente da iniciativa privada, em torno de R$ 1,5 bilhão, para a criação dos CDT´s, nos quais as grandes empresas lideram projetos de P&D&I em parcerias com universidades, institutos de pesquisa e as pequenas e médias empresas instaladas no parque.”
Foi justamente este o ponto que suscitei na última coluna: a falta de integração entre os entes do ecossistema. O que deu certo no SPPT de São José dos Campos foi um trabalho no qual as empresas privadas estão a frente de projetos de P&D&I. Elas alocam recursos, em forma de bolsas de estudo muitas vezes, para que startups e instituições de pesquisa trabalhem juntas na busca de soluções para os problemas cotidianos. Em São José dos Campos, onde a indústria aeroespecial é fortíssima pela presença da Embraer, os aportes foram generosos. No entanto, isso não significa que valores vultosos tragam resultados. Mais importante é que estejam integrados para que os esforços por gerar inovação venham ao encontro das necessidades do setor produtivo.
Trazendo para a realidade londrinense, cuja vocação está primordialmente no setor agropecuário, a integração entre setor produtivo e os demais entres do ecossistema poderia melhorar substancialmente. Meu leitor mais ansioso me lembraria que existem as governanças, cujos membros são formados pelos variados entes do ecossistema, inclusive representantes da indústria. Embora as governanças tenham sido um passo adiante, é preciso avançar tornando as discussões das governanças mais concretas a ponto de gerarem novos produtos e serviços. Meu leitor mais impaciente novamente me chamaria a atenção dizendo que isso está sendo feito, já que as startups vêm tentando realizar esse trabalho ou ainda me lembrando dos inúmeros eventos de inovação que premiam esses trabalhos. Esse trabalho é valioso, mas ele nem sempre atinge os resultados esperados. Muita espuma, como diria um amigo entendido do assunto.
Acabou meu espaço. Semana que vem dou mais um passo. Até lá ;)
*Lucas V. de Araujo: PhD em Comunicação e Inovação (USP).
Jornalista Câmara de Mandaguari, Professor UEL, parecerista internacional e mentor de startups.
@professorlucasaraujo (Instagram) @professorlucas1 (Twitter)