Economia

Dólar tem queda e Bolsa dispara com dados fortes brasileiros e risco de recessão nos EUA

17 mar 2025 às 14:58

O dólar tinha forte queda e a Bolsa disparava nesta segunda-feira (17), à medida que os investidores repercutiam dados fortes para a atividade econômica no Brasil e em mais um dia marcado por apetite ao risco após comentários do secretário do Tesouro americano sobre uma recessão no país, além das chances de um confronto entre os EUA e houthis no Iêmen.


Às 13h31, o dólar à vista caía 1,01%, a R$ 5,685, ampliando as perdas da semana passada e acompanhando a valorização das moedas emergentes no exterior frente ao dólar. O índice DXY, que mede a força do dólar ante as principais moedas globais caía 0,36%, a 103,35 pontos.


Já a Bolsa avançava 1,32%, aos 130.665 pontos, no mesmo horário, com Petrobras, Vale, Embraer e Itaú respondendo pelas maiores contribuições positivas.


Os investidores seguem de olho em novas notícias sobre os planos tarifários do presidente norte-americano, Donald Trump, e na "Super-Quarta", dia em que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central do Brasil e o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) anunciarão suas novas diretrizes sobre juros.


Na cena doméstica, os dados econômicos favoreciam a valorização da moeda brasileira.


O IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), considerado um sinalizador do PIB (Produto Interno Bruto), teve alta de 0,9% em janeiro sobre o mês anterior -quando registrou 0,6%-, em dado dessazonalizado.


O dado divulgado pelo BC ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,22%.

Na comparação com janeiro de 2024, o IBC-Br teve alta de 3,6%, enquanto no acumulado em 12 meses passou a um avanço de 3,8%, segundo números observados.


Além disso, analistas consultados pelo Banco Central reduziram a previsão para a inflação deste ano pela primeira vez em 23 semanas e mantiveram a expectativa do aumento de 1 ponto percentual para a taxa básica de juros, segundo boletim Focus desta segunda.


Os economistas apontaram que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) terminará o ano em 5,66%, uma queda de 0,02 ponto percentual em relação ao levantamento da semana passada.


Porém, os economistas elevaram a perspectiva do IPCA para 2026 de 4,40% para 4,48%, e também a de 2028 (de 3,75% para 3,78%). O centro da meta perseguida pelo BC é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.


O boletim Focus também mostrou que o mercado espera uma redução do PIB deste ano para 1,99%, além de uma redução na expectativa para o preço do dólar em 2025 para R$5,98 -ante R$ 5,99 na semana passada.


Os analistas ouvidos pelo BC mantiveram a expectativa de alta de um ponto percentual na Selic (taxa básica de juros), para 14,25% ao ano. Os diretores do Copom se reúnem a partir desta terça-feira e o anúncio da nova taxa será feito no dia seguinte, quando também será divulgada a decisão sobre a política de juros dos EUA pelo Fed.


"A gente tem decisões muito relevantes nessa semana com principais bancos centrais anunciando decisões sobre taxas de juros. Na verdade, não é esperado que tenha alteração em nenhum banco central no mundo, a não ser no Brasil, onde não haverá uma alteração pequena", afirma Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos.


Como indicado nas reuniões anteriores, o colegiado do BC deve subir a taxa em um ponto percentual, a 14,25% ao ano. As expectativas, agora, estão voltadas aos comunicados que acompanham as decisões. "Será importante observar a comunicação do Copom e eventuais sinalizações para as decisões futuras", dizem os analistas do Bradesco em relatório semanal.


Já a autoridade monetária americana pausou o ciclo de cortes na taxa no início do ano, sob justificativa de resiliência do mercado de trabalho e inflação ainda acima da meta de 2%. Na reunião da próxima semana, a expectativa é que os juros sejam mantidos novamente na faixa atual de 4,25% e 4,5%.


Uma bateria de dados recentes, porém, renovou expectativas de que o ciclo de afrouxamento seja maior do que o esperado, com possibilidades de um próximo corte na reunião de junho.


Na ponta internacional, investidores repercutiam falas do secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, de que os EUA podem enfrentar uma recessão no governo Donald Trump.


Em participação no programa Meet the Press, da emissora de televisão NBC, Bessent foi questionado se poderia garantir que não haveria recessão enquanto Trump estivesse no poder e respondeu: "Não há garantias. Quem teria previsto a Covid?".


Além disso, há temores de um confronto entre os EUA e houthis do Iêmen no Mar Vermelho após comentários do secretário de Defesa norte-americano, Pete Hegseth.


Hegseth disse no fim de semana que o país continuará atacando os houthis até que eles encerrem seus ataques contra embarcações, gerando preocupação de distúrbios no transporte de petróleo no Oriente Médio.


O tarifaço e o confronto no Mar Vermelho inspiram cautela nos mercados globais. A maior preocupação é que uma guerra comercial ou um confronto gerem instabilidade, escalem e distorçam cadeias de suprimentos globais, o que pode encarecer diversas categorias de produtos. No caso específico dos Estados Unidos há temores de que o tarifaço provoque uma recessão.


Diante desse cenário, o dia era marcado por apetite por risco nos mercados de câmbio ao redor do mundo, com os agentes financeiros em busca de moedas emergentes, como o real, o rand sul-africano, o peso chileno e o peso mexicano.


Ainda na frente geopolítica, novas notícias sobre as discussões pelo fim da guerra na Ucrânia aumentavam o apetite por risco, com os EUA e a Rússia confirmando que os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin conversarão por telefone sobre o conflito na terça-feira.


Havia ainda otimismo sobre mais estímulos econômicos na China, após o governo chinês anunciar novas medidas para impulsionar o consumo interno no domingo.


O BC chinês irá cortar taxas de juros e o índice de reservas obrigatórias dos bancos para incentivar tomadas de empréstimos e usos de cartões de crédito. O movimento dá força ao mercado de commodities, o que dora, como o Brasil.


"Queda generalizada do dólar hoje, tanto em relação aos pares fortes como os emergentes. Estamos em linha com o exterior. Veio notícia boa da China, que está revendo estímulos monetários para aquecer a economia. Isso sempre ajuda", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.


Na sexta (14), o dólar fechou em forte queda de 0,92%, cotado a R$ 5,743, e a Bolsa brasileira disparou 2,64%, a 128.957 pontos, amparada pela força dos pesos-pesados Vale, Petrobras e setor bancário.


A pressão que tomou conta dos mercados globais nos últimos dias deu trégua na sessão, ainda que as preocupações sobre o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continuem.


"Houve muito ruído associado às tarifas de Trump, tema que, vale deixar claro, ainda vai voltar a afetar os mercados globais. Não podemos declarar vitória sobre esse assunto, mas o ruído foi cessado um pouco na sexta, e os investidores aproveitaram para caçar", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.


Ele explica que os temores com o tarifaço derrubaram índices acionários ao longo das últimas semanas, e o valor das ações das empresas "ficaram muito mais abaixo do que de fato deveriam valer".


Outros fatores também entraram na conta. O Congresso dos EUA esteve próximo de aprovar uma lei provisória para financiar o governo federal e, assim, evitar uma paralisação de atividades.


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