A Motiva, ex-CCR, anunciou nesta terça-feira (18) que assinou contrato para vender 100% das ações da CPC (Companhia de Participações em Concessões), holding que reúne todos os ativos aeroportuários da empresa no Brasil e no exterior. A concessionária é responsável pela administração de 20 aeroportos no Brasil e três no exterior, incluindo os de Londrina, Curitiba e Foz do Iguaçu.
De acordo com o Fato Relevante emitido pela empresa, o acordo foi firmado com a Aeropuerto de Cancún S.A. de C.V., subsidiária do Grupo Aeroportuario del Sureste (ASUR), um dos maiores operadores aeroportuários da América Latina.
O negócio avalia a CPC em R$ 5 bilhões, valor que ainda poderá ser ajustado até a conclusão da transação. Porém, a compradora também vai assumir uma dívida líquida de R$ 6,5 bilhões, totalizando um negócio de R$ 11,5 bilhões.
Com a venda, a Motiva deixa integralmente o segmento de aeroportos. Atualmente, ela é responsável por 17 aeródromos no Brasil e três em outros países da região, com um movimento de cerca de 45 milhões de passageiros e mais de 200 rotas por ano.
Repercurssão
Para representantes da sociedade civil de Londrina, os reflexos da transação ainda são incertos. A presidente da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), Vera Antunes, ressaltou que a notícia pegou todos de surpresa e que será necessário “avaliar com calma os desdobramentos para entender as possíveis consequências”. Também recordou que há um contrato de concessão com direitos e deveres que precisa ser cumprido.
“Acreditamos, portanto, que a negociação não deve trazer mudanças contratuais na concessão, uma vez que houve licitação prevendo a modernização do aeroporto por intermédio de diversas obras. A Acil vai continuar cobrando prioridades como a nova pista de taxiway, a ampliação da pista principal e a finalização e funcionamento do ILS”, afirmou.
A presidente ainda garantiu que a Acil continuará cobrando prioridades para o aeroporto, como a nova pista de taxiway, a ampliação da pista principal e a finalização e funcionamento do ILS. “Vamos permanecer vigilantes para garantir que o Aeroporto de Londrina supere todas as dificuldades que vêm surgindo nesta longa caminhada para termos um terminal compatível com o potencial de nossa região.”
O presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Marcelo Janene El-Kadre, avalia positivamente a transação. “Eu entendo que, no capitalismo, toda vez que alguém compra algo, não é para perder [dinheiro]. A visão é comprar por 10, investir cinco e para, no futuro, talvez vender por 25”, analisou.
Em viagem internacional, El-Kadre lamentou as notícias que surpreendem a sociedade civil, como a nova nota técnica da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) que impede a alteração cadastral que permitiria a instalação do ILS no aeroporto local. “Por que não dão todas as informações de uma vez? Assim, poderíamos nos movimentar para resolver”, afirmou.
Em nota, a Prefeitura de Londrina informa entender que as negociações envolvendo a concessão e administração do Aeroporto Governador José Richa são de responsabilidade e alçada dos próprios entes da iniciativa privada envolvidos e segue confiando no cumprimento dos compromissos e prazos relacionados às soluções de melhoria do terminal.
Negócio sob análise
A efetivação do negócio entre a Motiva e a Aeropuertos de Cancún depende do cumprimento de condições suspensivas usuais para operações desse porte, incluindo a análise e aprovação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), de autoridades regulatórias internacionais e de órgãos concorrenciais no exterior.
Segundo o Fato Relevante, a transação está alinhada ao plano estratégico da companhia, que prevê a simplificação do portfólio e o foco em investimentos nos setores de rodovias e trilhos no Brasil. A empresa afirma que o acordo permitirá destravar valor e ampliar sua flexibilidade para buscar crescimento “rentável e seletivo” nessas áreas.
A Motiva contou com assessoria financeira do Lazard e do Itaú BBA, além de assessoria jurídica do escritório Pinheiro Neto Advogados. A companhia informou que continuará atualizando o mercado sobre o andamento da operação.
Concessão do Bloco Sul
A Motiva adquiriu a concessão do Aeroporto José Richa e de mais oito aeroportos no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul no leilão do chamado Bloco Sul, em 2021. O investimento total em todos os aeródromos era de R$ 2,85 bilhões, por um período de 30 anos..
A concessionária, então CCR Aeroportos, assumiu o controle de fato em março de 2022. A previsão de investimentos no aeroporto de Londrina, de acordo com o contrato de concessão, é da ordem de R$ 275 milhões.
Entre os investimentos, estavam previstas melhorias como a ampliação na pista de pouso e decolagem, a construção de um novo terminal de passageiros e reforma no terminal já existente, além de construção e adequação das pistas de taxiamento. O prazo para conclusão termina em 2035.
Já a segunda etapa de investimentos previstos no plano de concessão inclui a ampliação do terminal de passageiros e dos pátios e pistas de taxiamento, que devem ser executados entre 2036 e 2051.
(Atualizado às 16h53)