Economia

Com alimentos saudáveis e sem conservantes, agricultores familiares marcam presença na ExpoLondrina

12 abr 2024 às 18:58

A agricultura familiar tem características diferentes da não familiar, se destacando por ter a produção de alimentos e a gestão da propriedade compartilhadas pela família, além de ser a principal fonte de renda dos produtores. No Brasil, 77% dos estabelecimentos, cerca de 3,9 milhões, são classificados como agricultura familiar. Com essa grande parcela, esse segmento é o responsável por 23% de toda a produção agropecuária brasileira, de acordo com o último Censo Agropecuário, feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2017. 


No Paraná não seria diferente, com a agricultura familiar sendo um grande pilar do agronegócio, representando 75% do total de propriedades do Estado. Isso significa que, entre as mais de 305 mil propriedades paranaenses, quase 229 mil são de agricultores familiares. 


Levando em consideração a relevância desse setor, a ExpoLondrina destinou um galpão para o segmento, chamado de Agroindústrias Familiares, na Smart Farm, conhecida como Fazendinha, localizada na parte inferior do Parque de Exposições Ney Braga. Nele, está reunida uma variedade de pequenos negócios.


Com uma seleção variada de produtos, incluindo queijos, doces, sucos, mel e geleias, os visitantes encontram negócios de Londrina e região, podendo experimentar os produtos e saber diretamente do criador como ele foi produzido e quais ingredientes foram utilizados. A troca é mútua, já que os expositores ganham a chance de divulgar seus produtos e de receber um retorno sobre a experiência do cliente ali na hora. 


Galpão de Agroindústrias Familiares na Samart Farm. Créditos: Josiel Aparecido/Estagiário do Bonde


Entre os agricultores, a opinião é unânime: a oportunidade de estar na ExpoLondrina é muito importante, já que serve como uma vitrine para os visitantes, atraindo muitos novos clientes e trazendo a divulgação da marca e parcerias que não seriam feitas se não fosse o evento. 


A expositora Rozeli Teresa Becker, dona da Becker Haus - Produtos Artesanais, de São Martinho, distrito de Rolândia, que participa da exposição há aproximadamente 20 anos com a produção de bolachas, conta que a exposição ajuda principalmente na hora de atrair novos clientes. "Me ajuda muito na parte da divulgação, principalmente porque a pessoa pode provar os produtos, e depois que passa a exposição eles me procuram."


No galpão, Rozeli divide o espaço da barraquinha com outra expositora, Neuza Iwase, dona da Sol Nascente - Produtos Caseiros, produtora de Rolândia, que expõe doce de feijão (manju), pães e bolachas. Neuza conta que apesar de participar de feiras em Rolândia, a participação na ExpoLondrina é essencial. "Talvez a gente venha e não venda uma quantidade tão grande, mas só a divulgação já vale." 


Rozeli Teresa Becker, dona da Becker Haus - Produtos Artesanais e Neuza Iwase, dona da Sol Nascente - Produtos Caseiros. Créditos: Josiel Aparecido/Estagiário do Bonde


O espaço é administrado pelo IDR - Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural), que convida os pequenos negócios a participarem da feira. José Humberto Soares, engenheiro de alimentos do IDR, explica que para além da renda gerada, a oportunidade é importante para que os produtores tenham um contato direto com os consumidores e com outras empresas do mesmo porte. 


Com uma produção de geleias feita inteiramente pela família, usando 80% das frutas que estão disponíveis em sua propriedade em Apucarana, João Carneiro Lopes, dono da Kuatjuba, é um dos expositores que foi convidado a participar pelo IDR - Paraná. 


"Faz 20 anos que produzimos geleias, compotas e conservas, tivemos essa oportunidade de vir expor aqui e estamos muito contentes de estar aqui. Como é uma vitrine que estamos vendendo e expondo, é uma chance a mais de divulgar a marca", explica. 


João Carneiro Lopes, dono da Kuatijuba. Créditos: Josiel Aparecido/Estagiário do Bonde 


Elisania Evangelista, produtora que está participando pela primeira vez da ExpoLondrina com sua barraca de sucos, a Quarasucos, foi uma das que conseguiu parcerias. "Já tem várias pessoas que conheceram aqui e já vão fazer pedidos, inclusive para restaurantes e pra gente entregar em outras cidades." 


O engenheiro ainda explica que os produtores que procuram o IDR para registrar seu negócio ou buscar orientações ficam salvos e depois são chamados para participar de eventos que possam ajudar com as vendas. Além disso, produtores que não tenham contato com o IDR também podem procurar o órgão e demonstrar interesse em participar. 


Para os visitantes, a diversidade de produtos é o que mais atrai na hora de passar pelo galpão, como explica Martinho Bartmeyer, aposentado que aproveitou o dia no parque para conhecer novos negócios. "Conhecer o que a região produz pra mim é muito interessante, e a exposição é um momento muito especial pra isso. Dentro do mercado você não tem acesso a coisas regionais assim, então aqui é o momento de experimentar e conhecer." 


Elisania Evangelista e Cleusa Pimenta na barraca da Quarasucos. Créditos: Josiel Aparecido/Estagiário do Bonde


Com a pandemia, alguns produtores aproveitaram o momento para investir em empreendimentos, testando receitas e aprimorando produtos. É o caso da Estância Baobá, comandada por Lívia Trevisan e seu marido, que levou para a exposição duas barracas, uma localizada no galpão da ExpoSabores e outra no galpão de Agroindústrias Familiares. 


Sua irmã, Larissa Trevisan, ficou no comando da segunda barraca, expondo uma variedade de queijos, doces de leite e ainda uma famosa receita de família, o requeijão de corte. 


Desde o final da pandemia, com o retorno da festa, a família leva seus produtos para expor.

Larissa conta que a melhor parte do evento é a oportunidade de se relacionar com novas pessoas. "Mesmo com a gente fazendo feira, o movimento aqui da expo é muito maior e dá a oportunidade da gente se relacionar e conhecer pessoas de fora, que talvez nunca conheceriam seu trabalho se não fosse pelo evento." 


Ela ainda explica que existe ainda o benefício de estar em contato direto com o consumidor, o que ajuda o negócio a melhorar seus produtos a partir dos retornos dados pelos visitantes que compram e experimentam suas mercadorias. 


Larissa Trevisan, vendedora e irmã da dona da Estância Baobá. Créditos: Josiel Aparecido/Estagiário do Bonde


Representando a Amucafé (A Associação das Mulheres Produtoras de Café do Norte Pioneiro), Vanessa Rosa de Souza é uma das mulheres que estava no estande no Pavilhão da Agroindústria, que está expondo 11 marcas de café. 


“Cada pacote de café da Amucafé carrega o nome de uma produtora, simbolizando a dedicação e o cuidado individual que cada uma delas coloca em sua produção”, afirma a produtora da marca Meu Paraíso. 


Já o casal Elizangela Zaha e Luiz Mariano Zaha, de Jandaia do Sul (PR), está com estande de frutas desidratadas no Pavilhão da Agricultura Familiar. O visitante da ExpoLondrina pode levar para casa produtos como manga, banana, melão, abacaxi, banana passa, banana com amêndoa, maçã, entre várias outras, tudo desidratado. 


“Com uma durabilidade de até três meses, as frutas desidratadas são uma alternativa prática e nutritiva para o dia a dia agitado, oferecendo uma maneira conveniente de consumir frutas e manter uma dieta equilibrada”, afirma Elizangela. 


Critérios 

O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Inocêncio Júnior de Oliveira, explica que, para ser considerado um agricultor familiar, o produtor rural precisa possuir uma propriedade de até quatro módulos fiscais, que corresponde a uma área de 12 hectares no Paraná.


Além disso, precisa utilizar predominantemente a mão de obra familiar para produção agropecuária e gestão da propriedade e obter no mínimo metade da sua renda proveniente de sua produção. 


Importância na economia

De acordo com o engenheiro, a agricultura familiar é responsável por garantir a segurança alimentar das propriedades rurais. Ele ainda enfatiza que os pequenos agricultores são responsáveis pela preservação de recursos naturais. 


"Como eles são agricultores pequenos, eles utilizam menos defensivos químicos e fazem uma agricultura mais orgânica. Com um menor uso de inseticidas, há uma menor morte de inimigos naturais e insetos. Além disso, pelo tamanho da produção, eles precisam fazer rotação de agriculturas na área, o que ajuda na preservação do solo", valoriza.


Além disso, Inocêncio aponta, com números, a importância desse segmento, explicando que os pequenos produtores são responsáveis por mais de 80% da produção de mandioca e feijão, além de produzirem um terço do total de arroz e café no país. 


Políticas públicas

Existem vários programas de incentivo à Agricultura Familiar no país, sendo a maioria do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Inocêncio destaca o Pronaf (Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que se caracteriza por oferecer financiamentos com condições especiais para que o agricultor possa investir "em máquinas, equipamentos e insumos agrícolas para a produção". 


No Paraná, alguns programas se destacam, entre eles, estão o Coopera Paraná (Programa de Apoio ao Cooperativismo da Agricultura Familiar do Paraná); o Banco do Agricultor Paranaense, para financiamento sem juros de melhorias nas propriedades rurais; o Compra Direta, para aquisição dos produtos da agricultura familiar repassados à rede socioassistencial do Estado. 


Além desses, também existem o Mais Merenda, para oferta de três refeições por turno aos estudantes da rede estadual de ensino; e o Banco de Alimentos, para reaproveitamento de alimentos que seriam desperdiçados pelas unidades da Ceasa Paraná e que são industrializados e repassados para pessoas em situação de vulnerabilidade. (Com informações da Assessoria de Imprensa)


*Sob supervisão de Fernanda Circhia


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