Os alunos das escolas municipais que vivem no Assentamento Eli Vive, na zona rural de Londrina, foram impedidos de participar do primeiro dia de aulas da rede municipal, nesta segunda-feira (3), devido às condições das estradas de terra que servem a região.
As chuvas intensas do fim de semana tornaram os trechos intrafegáveis para ônibus e kombis que fazem o translado dos estudantes.
O assentamento tem 501 famílias e cerca de 180 alunos na rede municipal – que estudam nas escolas Eli Vive 1 e 2 – e outros 200 matriculados na escola estadual que oferece do sexto ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio.
Jovana Cestille, mãe de um estudante e assentada há mais de dez anos, diz estar cansada do descaso. "No ano passado, as famílias chegaram a parar as máquinas da prefeitura, em protesto pela situação, mas nada foi feito por nós", relembra.
Segundo Sandra Flor Ferrer, liderança do Eli Vive, a situação é crônica e vai além dos prejuízos aos estudos. “Temos a Orquestra Camponesa, mais cem alunos que precisam fazer o projeto, e a Guarda Mirim, em torno de 50 crianças, que usam o espaço da escola para fazerem seus trabalhos. Também temos a extensão do posto de saúde do Lerroville, que vem duas vezes por semana atender nossas famílias, mas, na chuva, as famílias não conseguem se deslocar. E, hoje, o que mais revoltou é que é o primeiro dia de aula”, afirma.
Entretanto, o assentamento e outras vias que dão acesso, como a estrada entre Lerroville e a Pedreira Guaravera, ficaram de fora.
O Eli Vive tem 109 quilômetros de estradas rurais dentro do assentamento, cuja manutenção é de responsabilidade do município. Segundo Ferrer, no fim de 2024, ainda na gestão de Marcelo Belinati (PP), máquinas da prefeitura fizeram o aplainamento da vias, fechando as valetas que se formam na terra. “Mas, essas valetas abrem novamente. O ideal era colocar cascalho”, avalia.
Um projeto de manejo das estradas tramita no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), mas, de acordo com Ferrer, os trâmites são lentos. “O cascalho nos ajudaria aguardar até a conclusão deste projeto”, diz.
A reportagem procurou a assessoria de imprensa da Prefeitura de Londrina, que divulgou o seguinte posicionamento a respeito da estrada principal para acesso ao Assentamento Eli Vive: "O levantamento que embasou a elaboração do decreto de situação de emergência contempla uma listagem de 17 estradas rurais, elaborada pela equipe da Diretoria de Desenvolvimento Rural da SMAA, para mostrar a situação das estradas rurais. Outras estradas deverão ser atendidas com manutenção"
Além do milho, as famílias ainda produzem panificados de forma cooperada, hortifrúti orgânico e uma diversidade de alimentos que vão para as escolas do Estado, para ações de solidariedade e para a comercialização na região.
A comunidade ainda zela de uma reserva florestal e das nascentes que estão dentro da comunidade.
Para tocar a vida, continuar produzindo alimentos e cuidando do meio ambiente, as famílias precisam da educação das crianças. "A educação no campo é um direito previsto em lei, uma conquista para as nossas crianças poderem aprender a partir de sua realidade, em seu próprio território, assumindo aqui as responsabilidades futuras", explica Sandra Ferrer, uma das lideranças da comunidade.
"Em reconhecimento a isso, no ano passado o assentamento ganhou uma escola municipal nova, um prédio com estrutura excelente para a educação das crianças", conta Ferrer. "Entretanto, sem as estradas para levar as nossas crianças, toda essa potência da educação fica perdida", avalia.
(Com assessoria de imprensa)
Atualizada às 18h30.