O ex-deputado federal Rubens Paiva, assassinado por agentes do regime militar, há 43 anos, ganhou ontem (12) busto na Praça Lamartine Babo, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, em frente ao Quartel do 1º Batalhão de Polícia do Exército, onde foi torturado, morto e teve o corpo desaparecido em janeiro de 1971. Cerca de 100 pessoas participaram da solenidade. Dentre elas, a filha do homenageado, Vera Paiva, que representou a família. Ela comentou que o busto simboliza um pedaço do pai reencarnado, e disse que todos os desaparecidos e mortos no antigo Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) deveriam ganhar monumento na praça.
"Para quem tem parente desaparecido, existe uma dificuldade de encerrar o ciclo de luto. Cada um de nós, da família, decidiu que ele [Rubens Paiva] morreu em momento diferente. Esta será a primeira vez que teremos um espaço para homenageá-lo. O desaparecimento também é uma forma de tortura assumida pelo aparato militar", comentou. "E a comemoração acontece dois dias depois de uma surpresa muito feliz, que foi a decisão da Justiça de negar os habeas corpus das pessoas envolvidas no assassinato de meu pai", declarou. O Tribunal Regional Federal da 2ª Região determinou a continuidade do caso na última quarta-feira (10).
Vera Paiva espera que a inauguração do busto do pai represente apenas o início do resgate daquele período, e deseja que em breve o quartel se transforme em museu da memória, para lembrar as atrocidades cometidas ali durante a ditadura, como ocorreu no antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo. "Os mais jovens precisam saber da história em detalhes. São milhares de desaparecidos; o genocídio indígena; o genocídio da população negra, que resistiu e ainda resiste. Gostaria que este momento fosse apenas o início desta luta que nos une para manter a verdade e a memória viva, para que ela [ditadura] nunca mais se repita", declarou.
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A iniciativa de fazer um busto para Rubens Paiva partiu do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro - o ex-deputado era engenheiro civil -, que pediu autorização de instalação do monumento à prefeitura. Na inauguração do busto, a prefeitura se fez representar pelo secretário municipal do Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz, que também é engenheiro, foi militante do MR8 e colega do ex-deputado. Ele disse na ocasião que "não é provocação escolher esta praça para o memorial. Aqui, a família dele foi humilhada; aqui, a vida de dezenas de pessoas foi interrompida. Precisamos de um Exército que queira a real apuração, a real democracia e um real avanço das forças sociais do país".
A homenagem contou com uma exposição sobre Rubens Paiva, com recortes sobre a carreira de engenheiro do ex-deputado. O curador da exposição, historiador Vladimir Sacchetta, explicou que escolheu fotos, cartas e documentos que ressaltassem a humanidade do ex-deputado. "Desde a juventude ele defendia a soberania do país, era um cidadão, estava comprometido com a democracia, e teve um fim trágico. Então, esta exposição é muito simbólica aqui", comentou.
Rubens Paiva foi eleito deputado federal em 1962, por São Paulo, na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). No dia do golpe, em 1º de abril de 1964, Paiva fez discurso de cinco minutos na Rádio Nacional, conclamando o povo a defender a democracia. Foi caçado e se exilou por nove meses, na Iugoslávia e na França, e de volta ao Brasil retomou a atividade de engenheiro, no Rio de Janeiro, sem abandonar a resistência à ditadura e o apoio a exilados políticos, até ser preso em 20 de janeiro de 1971, quando nunca mais foi visto. A esposa e a filha mais velha foram levadas para o DOI-Codi um dia depois, mas não viram Rubens Paiva.