A insegurança alimentar moderada ou grave afetava 7,4 milhões de famílias brasileiras (ou 9,4% do total) no último trimestre de 2023. Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta-feira (25).
Conforme o IBGE, os mais de 7 milhões de lares que enfrentam a redução na quantidade de alimentos consumidos ou a ruptura em seus padrões de alimentação têm 20,6 milhões de pessoas.
A metodologia da pesquisa envolve questionário sobre a situação alimentar do domicílio nos 90 dias que antecederam a entrevista. “A gente não fala de pessoas [individualmente], a gente fala de pessoas que vivem em domicílios que têm um grau de segurança ou insegurança alimentar”, comenta o pesquisador do IBGE Andre Martins.
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O lar é, então, classificado em quatro níveis, seguindo a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. O grau segurança alimentar aponta que aquela família tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente.
Segundo o IBGE, 56,7 milhões de famílias brasileiras (que reúnem 152 milhões de pessoas) estão nessa situação.
O grau insegurança alimentar leve atinge 14,3 milhões de famílias (43,6 milhões de pessoas) e significa que há preocupação ou incerteza em relação aos alimentos no futuro, além de consumo de comida com qualidade inadequada de forma a não comprometer a quantidade de alimentos.
Já a insegurança alimentar moderada afeta 4,2 milhões de famílias (11,9 milhões de pessoas) e mostra redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre os adultos.
Por fim, a situação mais severa é a insegurança alimentar grave, que é uma redução quantitativa de comida e ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores, incluindo as crianças. São 3,2 milhões de famílias, ou 8,7 milhões de pessoas, nesse cenário.
Orçamentos familiares
Em comparação com o último levantamento sobre segurança alimentar, a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) em 2017 e 2018, entretanto, houve melhora na situação.
O percentual de domicílios em situação de segurança alimentar foi de 63,3% em 2017/2018 para 72,4% em 2023. Já os que apresentavam insegurança alimentar moderada ou grave diminuíram de 12,7% para 9,4%. A insegurança alimentar leve também caiu, de 24% para 18,2%.
“A gente teve todo um investimento em programas sociais, em programas de alimentação, principalmente esses programas de [transferência de] renda. Isso reflete diretamente na escala de insegurança alimentar, que responde bem a esse tipo de intervenção”, pontua Martins. “A recuperação da renda, do trabalho também se reflete na segurança alimentar”.
Outro indicador que traz melhora da situação é a redução dos preços dos alimentos. Em 2023, por exemplo, os produtos alimentícios para consumo em domicílio tiveram queda de preços de 0,52%.
O pesquisador do IBGE Leonardo de Oliveira frisa, porém, que não é possível atribuir apenas ao ano de 2023 o avanço ocorrido, uma vez que se passaram cinco anos entre a POF 2017/2018 e a Pnad Contínua do quarto trimestre de 2023. E não houve pesquisa do IBGE sobre segurança alimentar entre essas duas.
“É importante ter em mente que esse movimento não são melhorias de um único ano. O resultado aqui é consequência de todos os movimentos da renda e movimentos de preço que aconteceram entre esses dois períodos”, destaca. “Esse resultado não é apenas do que aconteceu no último ano, embora coisas que tenham acontecido nesse último ano são importantes”.
Mas a situação de segurança alimentar ainda está inferior àquela observada no ano de 2013, quando o assunto foi abordado pela Pnad. Naquela época, a segurança alimentar era garantida a 77,4% dos lares, a insegurança alimentar leve atingia 14,8% dos domicílios, a insegurança moderada, 4,6% e a insegurança grave, 3,2%.