Um protesto reunindo artistas plásticos, atores, músicos e ativistas sociais foi realizado em frente ao Museu de Arte do Rio (MAR), contra a censura e pela liberdade de expressão. O ato foi organizado pelas redes sociais e chamou a atenção de quem passava pelo local, ao lado da Praça Mauá, que nesta quinta-feira (12) estava repleta de pessoas curtindo o feriado de Nossa Senhora de Aparecida e também Dia das Crianças.
Com faixas e cartazes defendendo a democracia e protestando contra a censura, os manifestantes realizaram diversas atividades em frente ao museu, incluindo oficinas de culinária e pintura para crianças.
O MAR foi um dos pivôs da polêmica em torno da exposição de temática LGBT Queermuseu. A mostra foi cancelada em setembro em Porto Alegre, onde acontecia no Centro Cultural Santander, e chegou a ser cogitada para ser realizada no MAR, mas acabou vetada pelo prefeito do Rio, Marcelo Crivella.
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A atriz Cristina Pereira, presente no protesto, destacou a necessidade de se evitar retrocessos culturais e morais, lembrando a repressão que acontecia durante a ditadura militar.
"Eu tenho muito medo de retrocessos. A gente está vendo as coisas acontecerem. Abriu-se uma porta à direita, para a censura. A liberdade de expressão é condição sine qua non [essencial], tem que existir. Eu era estudante de teatro na época da ditadura. A gente não quer que essas coisas voltem, com agressividade, recrudescimento, regime de exceção. Foi uma luta muito grande para chegarmos à redemocratização do país", lembrou Cristina.
O diretor de Artes Visuais da Fundação Nacional de Arte (Funarte), Xico Chaves, também recordou que o país atravessou, na história recente, um longo período de ditadura militar, que controlava as formas de expressões políticas e culturais, o que hoje é inconcebível.
"Nós demoramos 21 anos para derrotar uma ditadura que solapou, excluiu e assassinou grande parte da juventude brasileira nos anos 60 e 70. Se você for a outros países, como Estados Unidos e [países da] Europa, que têm uma tradição cultural mais extensa, não vai ver esse tipo de censura de manifestação ao nu ou de expressões contestatórias aos problemas da sociedade. Lá você tem um embate educado a respeito disso, tem opiniões diversas, mas não existe a violência que se apregoa aqui. Censurar não é só proibir, censurar é impedir que cresça a consciência", declarou Xico Chaves, que é artista plástico e poeta.
Enquanto o protesto acontecia em frente ao MAR, dentro do museu era realizada uma mostra especial para o Dia das Crianças, com temática indígena, que atraiu um grande número de famílias. Para a estudante de pedagogia Eliana Fonseca, que levava a filha de 5 anos à exposição, é possível conciliar liberdade de expressão com proteção às crianças, bastando haver uma indicação clara nos museus sobre o tipo de conteúdo da exposição.
"Sempre dá para conciliar. É questão de bom senso, ética e respeito com o outro. Eu acho que a criança tem que ser respeitada nas escolhas, mas cada um tem liberdade para escolher. A censura não é legal. Eu não sou obrigada a levar o meu filho. Se tiver um material inapropriado, não vou levar", disse Eliana.
Para o engenheiro agrônomo e educador ambiental Jay Vanamstel, que também visitava o museu com a esposa e o filho, deve haver indicação visível sobre que tipo de obras estarão expostas e faixa etária adequada, mas a decisão de levar as crianças é dos pais.
"Essa discussão reflete o momento político do país, uma disputa pela opinião da grande massa. Minorias extremistas estão causando essa confusão, sobre nudez artística com pedofilia. Eu nasci no final da ditadura, censurar o trabalho artístico é deplorável, mesmo ele sendo com material de nudez. Tem que ser bem sinalizado, porque é uma escolha sua, de levar ou não o seu filho. Mas não pode haver censura", disse Jay.