A ação policial e da Vigilância Sanitária na residência de Margarida Bonetti, que mora em um casarão no bairro Higienópolis, em São Paulo, na tarde desta quarta-feira (20), tornou-se atrativo para youtubers e tiktokers em busca de seguidores e likes, avalia o fotojornalista londrinense Isaac Sitta Fontana.
Margarida e o imóvel tornaram-se célebres pelo podcast “A Mulher da Casa Abandonada”, produzido pelo jornalista Chico Felitti e publicado pela Folha de S. Paulo. Ao investigar a curiosa figura da mulher que vivia num casarão caindo aos pedaços em um dos bairros mais caros da América Latina, ele descobriu o paradeiro de uma brasileira acusada pelos Estados Unidos de ter mantido, em solo norte-americano, outra brasileira em situação análoga à escravidão por quase 20 anos. O marido dela chegou a ser condenado e cumprir pena pelo crime, mas ela deixou os Estados Unidos e nunca respondeu à acusação.
Os policiais entraram no casarão abandonado nesta quarta a fim de cumprir decisão judicial para averiguar se a mulher vive em situação de abandono de incapaz. Entretanto, com o sucesso do podcast, o endereço tornou-se uma espécie de ponto turístico para curiosos, que acabaram acompanhando a atuação. A imprensa também esteve no local – e foi para registrar jornalisticamente a ação que Fontana se dirigiu ao endereço.
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Cumprindo outra pauta anteriormente, Fontana chegou no casarão depois que as autoridades já haviam entrado, inicialmente arrombando uma janela, depois, abrindo a porta por dentro para facilitar os trabalhos. Deparou-se com um espaço reservado com fita de isolamento para a imprensa, Polícia Civil e agentes sanitários, cercado por curiosos.
“Acho que a ‘parada’ ali é sobre redes sociais. O que acontecia ali em frente parecia um evento de ‘TikTok’ (aplicativo de vídeos curtos). Havia várias pessoas dando sorrisinhos, dançando”, relata o fotojornalista, que estava no local a trabalho, ao lado de equipes de grandes veículos nacionais, como a própria Folha de S. Paulo e tevês como Globo e SBT.
Os curiosos que se aglomeravam, entretanto, não estavam ali por exclusividade da ação policial. Após o podcast se popularizar, o endereço passou a ser visitado por curiosos e algumas pessoas chegam a levar cadeiras de praia e ficar tomando cerveja em frente ao casarão, conta Fontana – provavelmente, na expectativa de ver Margarida Bonetti aparecer em uma das janelas, do jeito como foi descrita por Chico Felitti: uma mulher aparentemente reclusa, com o rosto besuntado de pomada branca.
O fotojornalista permaneceu no local das 16h30 até 21h30, aproximadamente. Neste ínterim, fotografou Margarida duas vezes: numa ocasião em que saiu de casa para pegar um cobertor que estava para fora de casa e, na outra, quando testou uma chave no portão, acompanhada de policiais. Nestes momentos, alguns dos curiosos presentes a chamaram de termos como racista e escravagista e, na segunda vez, a mulher chegou a esboçar uma reação, mas foi contida.
‘Almoço com crime’
Isaac Fontana recorda que o brasileiro está acostumado a “almoçar assistindo a programas policiais”. Porém, a espetacularização das ações policiais características destas atrações podem tirar o foco da parte mais importante da história, que é o fato de uma pessoa ter sido mantida em situação em situação semelhante à escravidão. “Por isso, acho que poucos estavam interessados na questão da justiça. A maioria parecia estar lá por interesse na ‘zoeira’, por curiosidade. No fim, ela [Margarida] vai virar uma lenda nas redes sociais”, avalia.
Vida em São Paulo
O londrinense Isaac Fontana começou a trabalhar como fotojornalista freelancer quando ainda trabalhava como secretário da redação da Folha de Londrina. Após desenvolver seu próprio estilo, decidiu rumar para São Paulo em março de 2022, onde segue na profissão que escolheu.
Na capital paulista, Isaac tem acompanhado situações de interesse nacional, como o casamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a situação desta quarta.
O trabalho do fotojornalista pode ser conferido em seu Instagram @isaac_fontana.