Um dos principais líderes da greve dos caminhoneiros de 2018, Wallace Landim, o Chorão, se diz arrependido de ter apoiado o presidente Jair Bolsonaro (PL), após a Petrobras ter anunciado um mega-aumento no preço da gasolina, do gás de cozinha e, principalmente, do diesel.
"Apoiei o Bolsonaro, fiz campanha para ele, e de graça. Recebi a comenda do mérito de Mauá, o maior mérito do transporte que existe no Brasil, pelos serviços prestados ao transporte. E, com toda sinceridade, não trabalho mais para ele, não voto nele. Tudo o que prometeu para nós, ele não cumpriu", diz Landim.
Ele considera, porém, que não será necessário chamar uma paralisação no momento, já que o país parará "automaticamente", frente à inviabilização das atividades de transporte.
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Outros dois representantes dos caminhoneiros ouvidos pela reportagem, José Roberto Stringasci, da ANTB (Associação Nacional de Transporte do Brasil), e Carlos Alberto Dahmer, da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística) confirmaram a intenção de não convocar nenhuma paralisação da categoria.
Como Chorão, consideram que se trata de um problema de toda a sociedade e, portanto, pretendem participar e angariar interessados para manifestações da sociedade civil contra a política de preço dos combustíveis do governo Bolsonaro.
"Não iremos nos manifestar como caminhoneiros, mas como brasileiros, já que esse problema afeta a todos nós", diz Stringasci, da ANTB, que pretende realizar nesta sexta uma reunião em São Paulo para discutir o que fazer daqui para frente.
Para Dahmer, da CNTTL, o problema afeta todos no país. "É um crime contra o povo brasileiro. Avançou do horrível para o aterrorizante, não tem situação pior do que esta, com a política que veio do governo Temer, de paridade em relação às cotações da moeda norte-americana. E que visa apenas dar lucro aos acionistas", afirma Dahmer, cuja associação reúne cerca de 800 mil trabalhadores de transportadoras e autônomos em todo o país.
Para o representante da CNTTL, cerca de 70% da categoria dos caminhoneiros autônomos votaram em Bolsonaro -ainda que ele afirme não ser este o seu caso. "Mas agora caiu muito, ainda que cerca de 30% ainda estejam decididos a votar novamente neste ano", afirma Dahmer.
Landim, hoje presidente da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores), considera que Bolsonaro indicou àquela altura que pretendia mexer com a chamada política de paridade de preços internacionais, que transmite quase automaticamente para as bombas de combustíveis a alta do petróleo no mercado internacional.
"Bolsonaro tinha uma narrativa de que iria fazer alguma coisa pelo preço do combustível. Quando fizemos a paralisação, logo em seguida saiu um vídeo dele apoiando aquele ato, dizendo que se ele fosse presidente, iria realmente mexer. Colocou o Castello Branco (na presidência da Petrobras) com essa narrativa. Colocou o Luna (general Joaquim Silva e Luna, atual presidente da estatal) com essa narrativa. E melhorou? Piorou", afirma Landim.
Para o líder caminhoneiro, foi um erro apoiar o candidato Bolsonaro. "Não deveria ter apoiado em 2018, mas tivemos uma postura para trazer uma mudança para o país, com uma arma muito importante neste momento que são as redes sociais", diz o ex-caminhoneiro, hoje dedicado a representar a categoria.
"Todos estão sofrendo, não só os caminhoneiros. A população não está conseguindo comer, não consegue comprar o gás de cozinha, que já vale mais de 10% do salário mínimo", diz Landim.
Como alternativas, Landim apoia a criação de um fundo para estabilizar os preços dos combustíveis, pondo fim à atual política de preços. E a contratação direta dos caminhoneiros, que serviria, segundo ele, para tirar os "atravessadores" (transportadoras e embarcadoras), melhorando a margem dos caminhoneiros.
No primeiro caso, no entanto, viu a pauta enfrentar a oposição do ministro Paulo Guedes (Economia). E, no segundo, o que considera a inação do ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura).
Landim diz ser positiva a PEC (Projeto de Emenda Constitucional) dos Combustíveis, que reduz a cobrança de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), ainda que a considere um remendo, não uma solução definitiva.
"Temos um governo hoje que fica transferindo a responsabilidade. Como foi feito na PEC (Projeto de Emenda Constitucional) dos Combustíveis, ia ser votada ontem, mas foi tirada da pauta. Diz que vai entrar hoje, mas de qualquer forma é um paliativo. No texto (da PEC) diz que reduziria em 30%, mas só hoje teve um aumento de 25%. Não resolve a situação, e estamos desesperados.", afirma.