Projetos na área de conservação e reflorestamento, do mercado de carbono, ganham força como alternativa para proteger esse patrimônio mundial
Essencial para a vida em todo o planeta, a Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, abriga uma das maiores bacias hidrográficas e a maior concentração de biodiversidade da Terra. Além disso, desempenha um papel fundamental na regulação do clima mundial e do regime de chuvas no Brasil e parte da América do Sul. Neste 5 de setembro, dia da Amazônia, mais do que celebrar os superlativos desse patrimônio mundial, é necessário reforçar alguns alertas.
A região lidera a perda de florestas primárias no mundo. Segundo dados do World Resources Institute (WRI), 43,1% de todo o desmatamento mundial em 2022 ocorreu no Brasil: 1,8 milhão de hectares (equivalente a 15 vezes a área da cidade do Rio de Janeiro), 15% de aumento em relação ao ano anterior. A perda mais acelerada ocorreu na Amazônia Ocidental, nos estados do Amazonas e do Acre.
Leia mais:
58 milhões de vacinas da Covid vencem no estoque federal; perda nos municípios é maior
Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil é neste sábado
Médicos e estudantes do Paraná embarcam em missão humanitária
STF forma maioria para manter Robinho preso por estupro
Entre as ações para proteger e recuperar a região, ganham destaque projetos na área de conservação e reflorestamento, envolvendo o mercado de carbono. São os chamados projetos com soluções baseadas na natureza, ou apenas SBN. "Os SBN podem ser um importante instrumento de incentivos econômicos para a conservação da Amazônia, além de reduzir a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, também podem contribuir na remoção do carbono atmosférico. São um importante instrumento econômico para diminuir e frear o desmatamento, ao dar valor para a floresta em pé", afirma o CEO da climate tech brCarbon, Bruno Matta.
Hoje a brCarbon está à frente do projeto programático de REDD+ Brazilian Amazon APD, que se encontra em fase de expansão e atualmente abrange mais de 30 mil hectares de floresta amazônica preservados nos estados do Acre, Amazonas, Pará e Mato Grosso, considerados como excedente de vegetação, que na ausência do projeto seriam legalmente desmatados pelos proprietários. Também na Amazônia Legal, a brCarbon ajuda a preservar outros 27,8 mil hectares por meio de seus projetos de REDD+ na categoria AUD, que visam evitar o desmatamento ilegal de áreas de reserva legal e de preservação permanente. É o caso do projeto Cauaxi AUD, no Pará, entre outros que ainda estão na fase de registro.
"Até o fim do ano, a brCarbon inicia o seu primeiro projeto de restauração (ARR) no bioma amazônico, o Agrupado de Reflorestamento Amazon Rainforest. Mais de uma tonelada de sementes, de variedades como paricá, cumaru, jatobá e ipê, já foram entregues ao proprietário rural parceiro e serão plantadas na próxima estação chuvosa", explica Matta.
Urgência na conservação
As ações são urgentes. O mundo está cada vez mais perto do chamado"ponto de não retorno", conceito utilizado para indicar quando as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global não poderão ser mais revertidas. "Os cálculos ainda divergem sobre quando o
tipping point
pode acontecer, mas já é consenso entre a comunidade científica que estamos muito próximos deste ponto irreversível para a floresta", afirma Matta. Segundo ele, há um conjunto de fatores que levam a essa situação, mas o desmatamento é um dos principais.
Indicadores oficiais de programas de monitoramento florestal como o PRODES e o MapBiomas apontam que a floresta amazônica já perdeu de 17% a 19% de sua área original, e que mais de um terço (38%) da cobertura florestal que ainda resta sofre com algum grau de degradação, conforme publicado na revista Science neste ano. "Caso o desmatamento e a degradação não sejam contidos e revertidos, parte da Amazônia tende a se tornar um cerrado, alterando o clima e o regime de chuvas em outras regiões do Brasil e em outros países. O colapso da floresta amazônica, por exemplo, teria o efeito de reduzir drasticamente a precipitação pluviométrica da região Sudeste, inaugurando uma nova frente de desertificação no Brasil", acrescenta o CEO da brCarbon.
Como funciona o mercado de carbono
O mercado voluntário de crédito de carbono permite que empresas, organizações e indivíduos compensem as suas emissões de gases de efeito estufa a partir da aquisição de créditos gerados por projetos de redução de emissões e/ou de captura de carbono.
Um crédito de carbono consiste em uma unidade transacionável e rastreável que atesta a redução/remoção de emissão de gases de efeito estufa devido a implantação de uma atividade relacionada ao projeto de carbono, evidenciado o impacto ambiental da atividade. No Brasil, por enquanto, existem projetos registrados no mercado voluntário.