Entenda
Uma mulher de 77 anos foi detida no último dia 19, em Três Lagoas (em Mato Grosso do Sul), a 326 km de Campo Grande, assim como dois filhos dela e um neto. Todos são suspeitos de participarem de um grande esquema de estupro de menores de idade durante quase duas décadas. As vítimas eram primas e sobrinhas deles.
Além desses três descendentes da idosa, um outro neto foi preso no início de agosto. O abuso que ele teria cometido contra uma prima é que deu início às investigações da Polícia Civil, há cerca de três meses, e à operação Sodoma e Gomorra, em alusão à passagem bíblica que fala sobre estupro.
De acordo com Nelly Macedo, delegada-adjunta da Delegacia da Mulher de Três Lagoas, a apuração levou tempo por causa da delicadeza do assunto, para não expor as vítimas.
"Ficávamos fazendo a investigação sem muita abordagem, esperando que as vítimas nos procurassem", afirma. "Elas ainda estavam morando naquele ambiente, junto com os agressores, então não podíamos simplesmente chegar ali e colocá-las em risco."
A vítima mais antiga de quem a polícia tem notícias sofreu o primeiro abuso há 17 anos, quando tinha 8. Estuprada por mais de um parente, ela só deixou de ser alvo deles anos depois, quando saiu do convívio familiar.
Nessas quase duas décadas, ao menos 13 crianças e adolescentes da mesma família foram alvo de um ou mais parentes –três dessas vítimas se apresentaram às autoridades após as prisões.
Até agora, sabe-se que uma das vítimas foi estuprada aos 5 anos e que os abusos paravam quando a criança chegava aos 13. Ao menos um garoto foi alvo dos parentes mais velhos.
A prisão do primeiro suspeito não acendeu o alerta dos demais familiares responsáveis pelos abusos. "Eles pensavam que tinha ficado restrito a essa vítima. Como tinham esse controle, não acreditavam que as outras pessoas teriam coragem de denunciar", explica a delegada.
Entre os quatro homens presos sob a suspeita de terem estuprado as próprias parentes, os dois mais velhos são irmãos, o terceiro é filho de um deles e o quarto, sobrinho dos dois. A matriarca, de acordo a polícia, era conivente com os abusos cometidos por seus descendentes.
Segundo as investigações, uma das vítimas, ao dizer que denunciaria os crimes cometidos em casa, foi espancada com uma corrente. Em depoimento à polícia, os suspeitos disseram que não deduravam os demais porque não queriam colocar a família em risco.
Recentemente, outro crime envolvendo abuso de vulnerável chocou Mato Grosso do Sul. Em Dourados, a cerca de 230 km da capital, Raíssa da Silva Cabreira, 11, da etnia guarani-kaiowá, foi estuprada e morta pelo próprio tio, Elinho Arévalo, 34.
Outros quatro homens, três deles adolescentes, também estiveram envolvidos no crime, ocorrido em 9 de agosto. Três dias depois, Arévalo foi achado morto em um presídio.
A garota morava com o tio em um dos barracos da aldeia Bororó desde os 5 anos. Segundo a polícia, Arévalo teria confessado estuprar a sobrinha constantemente após as consumir álcool.