Em menos de nove meses, o Brasil já registrou em 2024 mais fogo do que em todo o ano passado. Até agora, houve 200.013 focos de incêndio no país, enquanto nos 12 meses de 2023 foram 189.926 ocorrências, segundo informações do programa BD Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
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Analisando os dados de 1° de janeiro a 22 de setembro na série histórica, o índice é o pior desde 2010, quando foram registrados 221.672 no período. Em relação ao ano passado, que teve 100.789 focos neste intervalo, as queimadas quase dobraram.
Neste ano, São Paulo já quebrou o recorde histórico de focos de incêndio. A América do Sul também já tem o pior índice em 26 anos.
A temporada de fogo no Brasil começou mais cedo do que o normal em 2024. Em fevereiro e março, grandes incêndios atingiram Roraima, e, no pantanal, as chamas começaram a se alastrar ainda em junho.
Grande parte da explicação está no fato de a maioria do território enfrentar uma seca histórica, influenciada pelo El Niño, que é intensificado pelas mudanças climáticas. A estiagem é maior em 73 anos no pantanal e dos últimos 40 anos na amazônia, de acordo com a ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva. Em algumas regiões, como no sul da floresta amazônica, o fenômeno se estende ao menos desde 2022.
A falta de umidade no solo e no ar, o calor e o vento criam condições climáticas que facilitam o espalhamento dos incêndios. Em sua maioria absoluta as queimadas têm origem humana, já que a fonte de ignição natural da vegetação é justamente as tempestades com raios, que não vêm ocorrendo na maior parte do país.
Além dos focos que começam em pastos e plantações e regiões recém-desmatadas, neste ano cresceram os índices de florestas nativas atingidas pelo fogo. Segundo o governo federal, a mudança indica ação criminosa.
Até agosto, a área queimada no Brasil ultrapassava 56 mil km², segundo o MapBiomas. A área é maior do que a de cinco estados brasileiros (Sergipe, Alagoas, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Norte) e equivale à da Paraíba (56.467 km²).
O mês de setembro já teve cerca de 73 mil focos, superando os quase 69 mil registrados em agosto no país.
"O grande ponto é saber se a chuva vai começar a chegar em outubro ou não. Quanto mais estender essa época seca, mais vamos continuar nessa situação", explicou no último dia 12 a coordenadora do Mapbiomas Fogo, Ane Alencar.
Ela acrescentou que o estabelecimento do La Niña pode trazer chuvas que aliviem a seca e amenizem a situação, mas o início do fenômeno climático está demorando mais do que o previsto inicialmente.