O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem mais um nome em avaliação para ocupar a vaga de vice na sua chapa para tentar a reeleição em outubro.
Trata-se de Gilson Machado, o ministro do Turismo conhecido como o sanfoneiro de Bolsonaro. Ainda sem sigla, ele tem sido especulado por aliados do presidente e teve o nome citado a mais de um interlocutor do mandatário.
Até aqui, Machado vinha sendo tratado pelo centrão, que quer controlar o processo eleitoral da mesma forma como ocupou o manejo de verbas do governo, como uma excentricidade que participava de lives e eventos oficiais com o chefe tocando sua sanfona.
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Mas alguns passos em falso pelo presidente já fizeram as antenas do grupo perceberem a articulação pelo ministro, que tem a simpatia de líderes evangélicos próximos de Bolsonaro, ainda que se defina como católico praticante.
Após a derrota do grupo para os evangélicos na indicação para uma vaga no Supremo Tribunal Federal, apesar de alguns líderes do centrão verem um balão de ensaio no nome de Machado, o alerta existe.
Na virada do ano, Bolsonaro ignorou a crise das chuvas na populosa Bahia e permaneceu de férias no Sul. Depois, chamou nordestinos de "paus-de-arara". Isso numa região, segundo maior colégio eleitoral do país, em que Bolsonaro tem problemas eleitorais claros.
No mais recente levantamento do Datafolha, o presidente marcava 21% de preferência entre nordestinos, ante 72% do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -que, além de pernambucano, tem na lembrança dos programas sociais como o Bolsa Família um ativo entre a população mais carente.
O presidente tentou reagir, com viagens à região e ainda esperando algum efeito da implantação do Auxílio Brasil, mas a avaliação é que algo mais incisivo precisa ser feito. Machado, que também é de Pernambuco, surgiu como uma opção por sua identificação potencial: a figura do sanfoneiro, chapéu de vaqueiro à cabeça, é um clichê bastante espraiado no Nordeste.
Ao mesmo tempo, essa noção do "vice nordestino" tem assombrado candidatos no Brasil há muitos pleitos. Todo candidato do Sudeste sempre lidou com essa carta na montagem de sua campanha, com efeitos bastante díspares.
Outros itens que colocaram Machado no gosto de Bolsonaro são mais evidentes. Ele é visto como bastante combativo e, principalmente, leal aos princípios do chefe.
No entorno mais próximo do presidente, apesar da dependência do centrão de Ciro Nogueira (Casa Civil) e Arthur Lira (Câmara) para sobreviver até outubro, o que não falta são xingamentos ao grupo que remetem aos tempos em que Bolsonaro chamava a turma de "velha política".
Falta ainda a Machado um partido. Ele vinha cogitando o PL que já abriga o presidente para disputar uma vaga ao Senado por Pernambuco, mas o martelo não está batido.
Com isso, Machado se une ao ministro Walter Braga Netto (Defesa) e ao presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, como nomes palacianos para a vice. Já o centrão ora quer um nome de menor densidade, dado o risco de um desastre eleitoral de Bolsonaro antes do primeiro turno, ora especula figuras como Tereza Cristina (Agricultura).
A pré-campanha do presidente, na mão do filho senador Flávio (PL-RJ),
ainda tem vários problemas para resolver. O mesmo grupo que trabalha por
Machado identifica uma falta de coordenação em torno da provável
candidatura do ministro Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) para o
governo de São Paulo.
O motivo é óbvio: trata-se do principal colégio eleitoral do país, e uma
performance satisfatória, ainda que não seja para ganhar, é vital para
ajudar a dar palanque a Bolsonaro.
Em São Paulo, o cenário ainda está obscuro na esquerda, que tem Fernando Haddad (PT), Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL) na pista, e o governismo estará representado na poderosa postulação de Rodrigo Garcia (PSDB), o vice de João Doria (PSDB) que será governador a partir de abril.
Mas o bolsonarismo puro está órfão. Aliados de Tarcísio dizem que ele não pode apelar apenas ao grupo, minoritário, mas tentar comer espaço na centro-direita que forma boa parte do perfil do eleitorado do estado.
A questão é que por ora os principais operadores da candidatura do ministro são justamente bolsonaristas de extração mais radical, como a deputada Carla Zambelli (que está saindo do PSL após a fusão do partido com o DEM para criar o União Brasil) e o ex-secretário de Doria Filipe Sabará (ex-Novo).
Aliados do presidente são contra esse rumo, e têm se queixado que o grupo estaria alienando o filho presidencial Eduardo, que é deputado federal pelo PL paulista, da campanha de Tarcísio. Outros focos de tensão estão nas candidaturas à Câmara dos Deputados.